São Paulo, quinta, 19 de junho de 1997.



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ARTES PLÁSTICAS
Mostra sobre o artista na Documenta conta com obras interativas, como penetráveis e parangolés
Hélio Oiticica tem que ser manipulado

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local


A participação efetiva do artista plástico brasileiro Hélio Oiticica (1937-1980) na mostra Documenta de Kassel, que será inaugurada no sábado, vai depender -além da boa vontade como curadora já manifestada por Catherine David ao selecionar a produção do artista- também de sua vontade política.
É que para a percepção corpórea da obra, objetivo de parangolés e penetráveis, será necessária uma mudança de atitude do público, que, mesmo habituado com arte interativa, ainda se atém à máxima de que não se toca em obra de arte. Mas sem o toque, a obra de Hélio Oiticica não funciona.
"O parangolé precisa ser animado, o que depende muito do empenho direto da organização do evento, que deve viabilizar isso. Se você coloca os parangolés lá, mesmo réplicas, sem uma estratégia para estimular, provocar e chamar a atenção do público para a interação, eles não funcionam", disse Luciano Figueiredo, que selecionou as obras de Oiticica, junto com Catherine David.
Figueiredo já passou por situação semelhante há alguns anos, quando curou uma mostra itinerante de Oiticica. "Colocar parangolés dentro de um espaço museológico é uma questão paradoxal e mais complicada que a simples opção do curador em querer que o parangolé seja manipulado pelo público. A instituição deve ser sensível e encontrar uma forma de animá-los. É preciso que haja uma adesão ao espírito da obra", disse Figueiredo.
Para estimular isso, mas também preservar a integridade física da obra, foram mandadas originais e réplicas. Ao todo, foram selecionadas 63 obras, entre parangolés, bólides e penetráveis, como o "Projeto Cães de Caça", de 1960.
Também será exibido em vitrines material de documentação (oito desenhos e duas fotografias). Todo esse acervo pertence ao Projeto Hélio Oiticica, no Rio.
Segundo Figueiredo, inicialmente, a curadora estava interessada em obras originais, o que inviabilizaria imediatamente a manipulação, mas mudou de idéia e está levando seis réplicas, que poderão ser vestidas ou manuseadas.
Segundo o curador, embora não seja uma retrospectiva, mas uma homenagem, a mostra de Hélio Oiticica é significativa de sua produção. "É muito forte e consistente. Bólides e parangolés, na cronologia do Hélio, estão muito próximos. Vai dar para mostrar uma fatia muito boa de sua produção".




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