São Paulo, sexta-feira, 19 de julho de 2002

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ERIKA PALOMINO

GRATIDÃO, SAMPLING E REFERÊNCIAS NA MODA

"Quer ele saiba, quer não, Nicolas Ghesquiere é grande no Brasil. Muitos dos mais importantes desfiles em São Paulo hoje devem considerável gratidão ao influente designer. Reinaldo Lourenço, que é considerado um dos mais inventivos talentos do Brasil, evidentemente se referiu a uma recente coleção da Balenciaga com seus vestidos curtos, muitos dos quais com recortes art-nouveau." Assim o jornalista Armand Limnander escreveu em seu artigo de anteontem no site "Fashion Wire Daily", uma agência de notícias de moda que pela primeira vez cobre a São Paulo Fashion Week.
Limnander é um experiente jornalista, que já trabalhou para o Style.com, o portal da editora Condé Nast ("Vogue").
Foram citados ainda no artigo as marcas Patachou e Ellus, que desfilaram no mesmo dia. O artigo recebeu o título: "Hoje na semana de moda do Brasil: referências a Nicolas Ghesquiere em toda parte".
O designer francês, que está à frente da marca Balenciaga, é de fato um dos nomes mais influentes na moda. Foi ele quem primeiro se lembrou da silhueta anos 80 que depois tomou conta da moda. E também foi ele o "culpado" por encher as passarelas e ruas do mundo com tops de babadinhos. Mais recentemente, acionou a febre da manufatura que passou então a assolar o planeta.
"Essa é a opinião dele. Tenho certeza de meu trabalho. Nem olhei para Ghesquiere. Se saiu algo parecido... Achei tão pessoal, trabalhei tão focadinho", disse Reinaldo Lourenço à Folha. "Mas isso não me incomoda nem um pouco. Como também não me incomodou aquele caso dele", completa, lembrando a recente polêmica na Europa, quando um site (hintmag.com) apontou -em março último- que o famoso patchwork de Ghesquiere do verão 2002 era, por sua vez, cópia literal de uma roupa de um designer chinês radicado em São Francisco nos anos 70, chamado Kaisik Wong.
Ghesquiere admitiu: "Eu fiz, sim". O contato de Ghesquiere com o trabalho de Kaisik Wong se deu por meio de uma xerox da página de um livro mostrada por um assistente, com a imagem do top. "Pensamos que fosse figurino de teatro", disse Ghesquiere ao "NY Times".
O estilista da Balenciaga chegou a comparar o caso com a prática do sampling, na indústria da música eletrônica. "É como eu trabalho. Sempre disse que estou olhando para as roupas vintage", explicou. "Não tem que ter polícia. Se fiz um bom trabalho, é o que importa. As referências estão aí para todo mundo. Não sei o que ele (Limnander) viu", diz.
A questão é que a cópia sempre foi assunto relacionado à moda brasileira. De algumas temporadas para cá, entretanto, com a participação crescente de jornalistas estrangeiros, os estilistas mais importantes passaram a criar coleções mais autorais. Até porque muitos deles buscam a inserção no mercado global, vendendo e desfilando no exterior.

MARCAS COMENTAM A CRÍTICA

O comentário de um veículo formador de opinião como o "Fashion Wire Daily" pode comprometer a imagem da moda do Brasil no mundo, num momento em que o design brasileiro tenta ocupar um lugar no Planeta Fashion? Reinaldo Lourenço acha que não. "Principalmente se a gente não der força, não gastar muita energia com isso. Brasileiro adora destruir o próprio Brasil", diz.
Terezinha Santos, estilista e proprietária da marca Patachou, comenta: "Olho para o mundo e penso nos valores que sejam absorvidos pelo meu consumidor. Tentamos fugir de qualquer interferência e dessa guerra de quem é quem. Mas o que posso dizer é que minha ética e meu estilo são em relação ao perfil dos meus consumidores". A marca abriu seu desfile com uma calça cargo com bolsos utilitários -forma que Ghesquiere apresentou na Balenciaga na primavera-verão 2002 e que já aparece em várias passarelas do planeta. A grife conta, pela primeira vez, com a participação de dois franceses em sua equipe: o stylist Benjamin Galopin, assistente da editora Carine Roitfeld, da "Vogue" francesa, considerada musa de Tom Ford, e o diretor de imagem Alix Malka, que trabalhou oito anos com o estilista francês Thierry Mugler.
"Se ele acha que tem cheiro de Ghesquiere, tudo bem", desdenha Ricardo Gonzales, diretor de marketing da Ellus. "A Balenciaga acabou de passar por uma situação parecida. Acho que o mundo come do mesmo momento. Existe alguma coisa no ar e as pessoas respiram do mesmo contexto. Há grupos que gostam da mesma tendência, faz parte da globalização. E eu também não fico mais pensando "isso é isso". O mundo é assim. Se ele sentiu essa referência, tudo bem. Ainda bem que foi Balenciaga. Mas o nosso foco mesmo é no jeans."
A marca também contou com um stylist importado, o francês Donatien Veismann, que pela segunda vez assina a imagem de seu feminino na passarela.


Colaborou Camila Yahn, free-lance para a Folha

FAUSE HATEN VAI DESFILAR EM MILÃO

O estilista Fause Haten vai apresentar sua coleção em Milão, dentro dos lançamentos de verão 2003 na cidade italiana, na temporada internacional que começa dia 12 de setembro em Londres. Haten já desfilou em Los Angeles e em Nova York, onde foi o primeiro criador brasileiro a se apresentar na Seventh on Sixth, no verão de 99. O desfile feminino de Fause Haten, a mesma coleção que será desfilada na Itália, acontece hoje ao meio-dia, no Museu Brasileiro da Escultura (MuBE).

MARCELO SOMMER E DINIZ FICAM SÓCIOS

Sommer ganhou um investidor de peso. O empresário João Paulo Diniz virou sócio do estilista. O primeiro passo pós-sociedade é abrir uma loja legal na rua Augusta, quase em frente à galeria Ouro Fino.

MODELOS SE LANÇAM NA SP FASHION WEEK

A cada temporada de moda, alguns nomes entram em evidência. Michelle Alves (Marilyn) brilhou nos primeiros dias da São Paulo Fashion Week, mas cancelou suas participações hoje e amanhã por causa de uma campanha para a Dior. E parece que chegou a vez de Raquel Zimmerman, a loura que vem fazendo trajetória internacional há alguns anos, mas que sempre havia passado meio despercebida. Com os cabelos e as sobrancelhas mais claros, Raquel tem estado bem em todos os castings. Raquel também está na famosa capa da luta livre da "Vogue" Itália, de maio último, junto com Michelle Alves.
No território das new faces, Carol Trentini, 15, tem a imagem da estação. Ela é sardenta e tem uma cara de tédio bem adolescente. O top bofe Anderson Dornelles, 21 (Marilyn), causou urros na platéia ao sair de dentro da cascata d'água no desfile da Rosa Chá, com uma sunga minúscula. "Não usaria a tanga na vida real. Não é meu estilo. Gosto de sunga larga, com uns quatro dedos de largura", disse o modelo. Entre os novos, o moreno Lucca Alves, da Next, tem sido um dos favoritos.



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