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Despedida de Bergman sai diretamente em DVD
"Saraband" tem sessão gratuita com debate hoje, mas pula o circuito comercial
Realizado em suporte digital, filme de 2003 retoma os personagens
centrais do seriado
"Cenas de um Casamento"
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
N
os anos 50, o circuito
exibidor paulistano
ajudou a "revelar" o
sueco Ingmar Bergman um
pouco antes de sua consagração internacional. É sintomático dos nossos tempos que o
provável filme de despedida do
cineasta, meio século depois,
seja lançado em DVD sem passar comercialmente pelos cinemas do país.
Pena que não se possa ver
"Saraband" (2003) em companhia de desconhecidos, de preferência que sejam ou tenham
sido casados. Ficar sem a reação dos outros a esse exame
franco das relações conjugais
equivale a perder um pouco do
que ele (e o cinema, cotidianamente) tem a oferecer.
Hoje, ao menos, será possível
assistir a ele no cinema, com direito a bônus. A distribuidora
do filme em DVD o exibirá na
Sala Cinemateca, às 19h. Em seguida, haverá debate com o psicólogo Henrique Marcusso e os
críticos Luiz Carlos Merten e
Luiz Zanin Oricchio.
Realizado em suporte digital,
"Saraband" retoma os personagens da minissérie de TV "Cenas de um Casamento" (1973),
da qual Bergman extraiu um
longa-metragem para cinema e
que também está sendo lançada em DVD no Brasil.
Marianne (Liv Ullmann)
abre o filme se dirigindo à câmera. Conta um resumo da vida em família, mostra fotografias e diz que não mantém nenhuma espécie de contato com
o ex-marido há muitos anos,
mas que sentiu nos últimos
tempos vontade de revê-lo.
Não diz, e não seria preciso
dizer, que quer estar novamente com ele antes que um dos
dois morra. Encerrado o prólogo, Marianne "coloca seu plano
em ação": viaja algumas horas
para visitar Johan (Erland Josephson) em seu refúgio no
meio da floresta.
Ali, outros dois personagens
entram em cena: Henrik (Börje
Ahlstedt) e Karin (Julia Dufvenius), filho e neta de Johan, que
moram perto. A difícil convivência entre os dois reverbera
na dedicação de ambos à música -enquanto o pai ensina a filha a tocar violoncelo, também
projeta o futuro da moça.
Há um quinto personagem
no ar: Anna, mulher de Henrik
e mãe de Karin, que morreu há
dois anos. A "sarabanda" do título é mencionada na trama em
seu contexto musical, mas o
termo tem ainda o sentido de
"roda-viva" e de "repreensão".
As duas imagens se aplicam.
A estupenda carpintaria dramática de Bergman torna "Saraband" um tanto independente da minissérie de que saíram
os personagens, mas ajuda
muito ter a lembrança de como
eram Marianne e Johan três
décadas mais jovens, quando
chegaram a se considerar a exceção que confirmava a regra
-seriam o casal que permaneceria junto e feliz a vida inteira.
Quando fez "Cenas de um
Casamento", Bergman estava
no início de seu quinto casamento, com Ingrid von Rosen.
A idéia de "Saraband" nasceu
com a morte da mulher, em
1995. "E se eu nunca mais puder vê-la?", diz o cineasta, no
making of que acompanha o filme em DVD, para explicar o
principal sentimento que o moveu. Não seria preciso dizer.
SARABAND
Direção: Ingmar Bergman
Com: Liv Ullmann, Erland Josephson
Quando: hoje, às 19h, na Sala Cinemateca, com entrada franca; disponível somente para locação (Sony)
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