São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

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Despedida de Bergman sai diretamente em DVD

"Saraband" tem sessão gratuita com debate hoje, mas pula o circuito comercial

Realizado em suporte digital, filme de 2003 retoma os personagens centrais do seriado "Cenas de um Casamento"


SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

N os anos 50, o circuito exibidor paulistano ajudou a "revelar" o sueco Ingmar Bergman um pouco antes de sua consagração internacional. É sintomático dos nossos tempos que o provável filme de despedida do cineasta, meio século depois, seja lançado em DVD sem passar comercialmente pelos cinemas do país.
Pena que não se possa ver "Saraband" (2003) em companhia de desconhecidos, de preferência que sejam ou tenham sido casados. Ficar sem a reação dos outros a esse exame franco das relações conjugais equivale a perder um pouco do que ele (e o cinema, cotidianamente) tem a oferecer.
Hoje, ao menos, será possível assistir a ele no cinema, com direito a bônus. A distribuidora do filme em DVD o exibirá na Sala Cinemateca, às 19h. Em seguida, haverá debate com o psicólogo Henrique Marcusso e os críticos Luiz Carlos Merten e Luiz Zanin Oricchio.
Realizado em suporte digital, "Saraband" retoma os personagens da minissérie de TV "Cenas de um Casamento" (1973), da qual Bergman extraiu um longa-metragem para cinema e que também está sendo lançada em DVD no Brasil.
Marianne (Liv Ullmann) abre o filme se dirigindo à câmera. Conta um resumo da vida em família, mostra fotografias e diz que não mantém nenhuma espécie de contato com o ex-marido há muitos anos, mas que sentiu nos últimos tempos vontade de revê-lo.
Não diz, e não seria preciso dizer, que quer estar novamente com ele antes que um dos dois morra. Encerrado o prólogo, Marianne "coloca seu plano em ação": viaja algumas horas para visitar Johan (Erland Josephson) em seu refúgio no meio da floresta. Ali, outros dois personagens entram em cena: Henrik (Börje Ahlstedt) e Karin (Julia Dufvenius), filho e neta de Johan, que moram perto. A difícil convivência entre os dois reverbera na dedicação de ambos à música -enquanto o pai ensina a filha a tocar violoncelo, também projeta o futuro da moça.
Há um quinto personagem no ar: Anna, mulher de Henrik e mãe de Karin, que morreu há dois anos. A "sarabanda" do título é mencionada na trama em seu contexto musical, mas o termo tem ainda o sentido de "roda-viva" e de "repreensão".
As duas imagens se aplicam. A estupenda carpintaria dramática de Bergman torna "Saraband" um tanto independente da minissérie de que saíram os personagens, mas ajuda muito ter a lembrança de como eram Marianne e Johan três décadas mais jovens, quando chegaram a se considerar a exceção que confirmava a regra -seriam o casal que permaneceria junto e feliz a vida inteira. Quando fez "Cenas de um Casamento", Bergman estava no início de seu quinto casamento, com Ingrid von Rosen.
A idéia de "Saraband" nasceu com a morte da mulher, em 1995. "E se eu nunca mais puder vê-la?", diz o cineasta, no making of que acompanha o filme em DVD, para explicar o principal sentimento que o moveu. Não seria preciso dizer.


SARABAND    
Direção: Ingmar Bergman
Com: Liv Ullmann, Erland Josephson
Quando: hoje, às 19h, na Sala Cinemateca, com entrada franca; disponível somente para locação (Sony)


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