São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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CRÍTICA TEATRO

Peças colaborativas impressionam no FIT

"Otro", do Coletivo Improviso, explora rotas urbanas e grupos Espanca! e XIX se unem em "Marcha para Zentauro'

CHRISTIANE RIERA
ENVIADA ESPECIAL A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO (SP)

Dois espetáculos inventivos, criados a partir de investigações sólidas em linguagem teatral, resultam em montagens de riqueza visual e dramaturgias engenhosas.
Da pesquisa sobre a relação dos habitantes da cidade com o entorno urbano nasceu "Otro", peça do Coletivo Improviso em colaboração com os diretores Enrique Diaz e Cristina Moura.
Na abertura, uma atriz descreve paisagem bucólica do Rio vista por uma mulher de sua janela. A partir do mundo lá fora, a narrativa adentra o apartamento, trafega pelos móveis e parte novamente, fazendo o trajeto pelas ruas cariocas até culminar com sua chegada ao teatro em São José do Rio Preto.
"Ela agora sou eu", diz, fixando como se dará a amarração dos fios narrativos ao longo da montagem.
Como faíscas, histórias são lançadas a partir de uma frase ou um gesto que então incendeia os percursos dos atores pelo próprio corpo, pelo palco e pela cidade.
Uma conversa casual entre mulheres termina com a descrição da matança de um porco: "Corta, abre, tira as vísceras". Tal frase é pontuada com movimento de mãos, um gesto que será apropriado por um "outro" ator e então incorporado pelo coletivo em forma de dança.
A coreografia domina o palco em uma combustão cênica, que mingua lentamente, transformando-se em nova centelha para o próximo percurso dramático.
A ideia do "outro" é uma fronteira a ser diluída, trânsito direto entre o processo de criação dos atores que traduzem suas experiências cotidianas para o jogo de cena. Tudo termina em comovente comunhão com o público.

BRECHT ÀS AVESSAS
Na mesma vertente de criação colaborativa, Luiz Fernando Marques dirige as companhias Espanca! e Grupo XIX de Teatro na estreia de "Marcha para Zenturo", cuja trama transporta o público para o Réveillon de 2441.
Neste Brecht às avessas, a estratégia de estranhamento com o presente para provocar alguma reflexão nasce não de uma relação com o passado histórico, mas sim com um futuro ficcional.
A montagem se debruça sobre um registro mais filosófico, apesar de vago, que político. "Um brinde à nossa capacidade de perceber que coisas estão acontecendo", profere um convidado.
Surpreendente é o desenrolar da dramaturgia em breves saltos no tempo, causando um descompasso na linearidade da história.
O clique de uma foto é seguido por uma pose do coletivo segundos depois, uma demanda de sincronia na interpretação dos atores que impressiona.

A crítica CHRISTIANE RIERA hospeda-se a convite do evento


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