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Morrisey
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Acaba de chegar às lojas de discos do mundo (no Brasil, para variar, só em setembro, pela PolyGram) "Maladjusted", nova tentativa solo de Morrissey, 38, ex-líder da banda de rock mais cultuada dos anos 80, os Smiths.
Traz, ainda, aquilo tudo que fez
hordas de adolescentes e adultos
acreditarem que, em plenos 80, estavam ainda no século passado,
padecendo dos males do século
que afligiram os românticos.
Traz, ainda, aquilo tudo que
Morrissey sempre concretizou: a
música chata mais encantadora do
mundo. "Maladjusted" é exemplar nesse sentido. Muito inclinado ao rock pesado, é outra coleção
de canções em que Morrissey apenas salta pela melodia, subjugando-a na maior parte do tempo.
Em "Alma Matters", por exemplo, todo o poder melódico concentra-se num só verso ("body
and soul"); no mais, é só discurso.
Não se trata, nunca, de pouca
inspiração à melodia. O próprio
Morrissey solo, que tantos julgam
indigno do líder messiânico dos
Smiths, já impregnou o mundo de
melodia, em "Vauxhall and I"
(94), auge de sua produção.
De lá em diante, planta-se indisposto à melopéia pop. "Maladjusted" segue sem refrões, entre
rocks fora de moda ("Papa Jack",
que termina com Morrissey imitando David Bowie imitando Jimi
Hendrix), caipirice ("Roy's
Keen") e ai-ai-ais de uma Dalva de
Oliveira rock ("He Cried").
Acontece um ou outro baladão
desgarrado, caso de "Trouble Loves Me", de um Morrissey imitando David Bowie imitando Elton
John em "Life on Mars?"; ou,
mais simplesmente, imitando Elton John em "Empty Garden".
Bem, e há o discurso, sim. Mais
lamurioso que nunca, Morrissey é
poeta. Não entrega nada do nível
de "Why Don't You Find Out for
Yourself" (94) -aquela do vidro
escondido na grama (em inglês,
"you'll see the glass hidden in the
grass")-, mas ainda afaga a sonoridade das palavras ("so console me", de "Trouble Loves Me").
Discurso estilístico é então sobrepujado pelo que Morrissey sabe
fazer de melhor -e que, incrivelmente, tem levado multidões à
loucura-: discurso político.
É onde aflora, uma vez mais, a
dilatada disposição gay. O Morrissey de "Maladjusted" é explícito
na faixa mais pomposa e cafona do
CD, "Ambitious Outsiders".
Expele as sílabas de abundantes
declarações políticas: "Estamos
na rua, mas você não nos vê";
"não nos subestime"; "estamos
mantendo baixa a taxa de população"; "a culpa é sua, porque se reproduz". Precisa ser mais claro?
Menos humorada é a valsa sadomasoquista "Sorrow Will Come
in the End", praga rancorosa rogada (talvez aos mesmos alvos da
anterior) em forma de música.
Assim é o herói neo-romântico,
imbatível ainda. Continuará a um
tempo submetendo público dócil a
discurso sarcástico e vivendo como se estivesse atrasado um século, imerso na busca da própria dor.
Morrissey é artista da antiga.
Disco: Maladjusted
Artista: Morrissey
Lançamento: Mercury (importado)
Quanto: R$ 23
Onde encontrar: London Calling (tel.
011/223-5300)
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