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TERRA BRASILIS
Personalidades descobrem o Brasil na TV
CRISTIANA COUTO
especial para a Folha
O brasileiro precisa redescobrir
o Brasil. Essa idéia, retirada do livro "O Turista Aprendiz", do escritor Mário de Andrade, deu início a uma viagem pelo país sob o
olhar de artistas plásticos, cineastas, músicos, atores e poetas.
No dia 31, às 20h, a TV Cultura
estréia "Expresso Brasil", uma
série de 27 documentários sobre
cada Estado do país.
Minas Gerais, apresentado por
Ziraldo, é o primeiro episódio. Cada personalidade é o narrador de
sua terra natal, que retrata sob um
ponto de vista peculiar. Ela percorre vários pontos, como um
"repórter" da história e das memórias de infância, analisando a
arquitetura e as artes, e mostrando
a cultura local pela culinária, literatura e música, sempre interagindo com brasileiros anônimos.
O Rio de Janeiro da atriz e cineasta Carla Camurati não tem
carnaval nem mulheres de biquíni.
É a cidade geográfica das montanhas de Teresópolis, do Corcovado, dos filmes de Arnaldo Jabor e
Hugo Carvana.
"Na série, a cidade não se esgota, pois não traz uma imagem única do lugar", diz Carla.
A leitura subjetiva de cada Estado foi, na opinião de Jorge da Cunha Lima, presidente da Fundação
Padre Anchieta, uma das razões
que levou a TV Cultura a fazer parceria com a Polo de Imagem, idealizadora do "Expresso Brasil".
"Transparece um amor sem ser
ufanista", diz.
As outras foram a magnitude do
projeto e o fato de a produtora ser
de Recife (ver texto ao lado). "A
idéia é descobrir o Brasil pelos
olhos de personalidades culturais", diz Roberto Viana, diretor-executivo da série.
São Paulo é a cidade multicultural do poeta Haroldo de Campos.
Ele levou a equipe a um templo de
ouro japonês na cidade de Itapecerica da Serra, ao mosteiro de São
Bento, ao Terraço Itália, ao estúdio do compositor Arnaldo Antunes. "São Paulo nasceu sob o signo do multilinguismo", avalia.
Dos 14 programas já produzidos,
com meia hora cada, nove mostram os Estados do Norte e Nordeste do Brasil, partindo das capitais e, às vezes, de outras cidades.
São Luís (MA) do poeta Ferreira
Gullar é envolta em lendas e histórias reais curiosas, como um processo judicial contra as formigas.
Gullar caminha por túneis subterrâneos, inspeciona igrejas e declama parte de seu "Poema Sujo"
(1975) nas escadarias da antiga ladeira do comércio.
A arte popular conduz a Recife
(PE) do músico, bailarino e ator
Antônio Nóbrega. São cantadores,
tocadores de rabeca, a festa do frevo e do maracatu e a cidade de
Olinda, que "parou no tempo".
O escritor Márcio Souza sintetiza
sua "releitura tropical da cultura
européia" em Manaus. "Até 1823,
a Amazônia era dividida em duas
colônias", diz no programa, enquanto mostra a estética cubista
das redes e o Teatro Amazonas.
A paulista Niéde Guidon, antropóloga, foi a única que não nasceu
no Estado de que fala. Desde 1970,
ela estuda o maior sítio arqueológico das Américas, o Parque Nacional da Capivara, no Piauí, e o
usa como ponto de partida em
uma viagem pré-histórica. "Nosso homem mais antigo apareceu
lá, há 48.700 anos."
"O critério na escolha das personalidades era o de identidade com
a terra", diz o jornalista Gabriel
Priolli, supervisor-geral da série.
É na aldeia Deminin, ao sul de
Roraima, que o índio ianomami
Davi Kopenawa mostra o abismo
entre o resto do Brasil e sua comunidade, quase inalterada.
O envolvimento dos entrevistados foi elogiado pela equipe. O cineasta Jorge Furtado a levou ao
Mercado Público de Porto Alegre
(RS) entre suas filmagens, e há nove fitas só com a narrativa de Haroldo de Campos.
A única que não foi às ruas foi
Daniela Mercury, por causa da
agenda lotada. "Ficou um programa com densidade plástica forte,
calcado no povo de Salvador", diz
Helder Aragão, um dos diretores
do "Expresso Brasil". "Como é
difícil viajar, será ótimo conhecer
o Brasil mais distante e profundo
pela TV", diz Guidon.
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