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CINEMA
Diretor metaforiza em "Sur" idéia de integração dos países latino-americanos; filme está na mostra Latinidades
Solanas rememora a sua utopia latina
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma história de amor. Uma reflexão sobre o exílio. Uma homenagem à utopia de construir uma
supranação latino-americana.
Essas três linhas de força se entrelaçam em "Sur" (Sul), longa-metragem que o cineasta argentino Fernando Solanas estreou em
1988 no Festival de Cannes (França) e que poderá ser (re)visto no
Brasil nesta semana, dentro da
programação "Olhares sobre a
América Latina", vertente cinematográfica da Mostra Sesc de
Artes - Latinidades.
Além de Solanas, outros expoentes do cinema latino-americano estarão em cartaz (de hoje ao
dia 31). Do mexicano Arturo
Ripstein a mostra traz "O Evangelho das Maravilhas" (1998), do cubano Tomás Gutierrez Alea, "Memórias do Subdesenvolvimento"
(1968); do boliviano Jorge Sanjinés, "Ukamau" (1972) e "Inimigo
Principal" (1973).
Entre os brasileiros, comparecem Nelson Pereira dos Santos
("Memórias do Cárcere"), Ruy
Guerra ("Estorvo"), Aloysio Raulino ("Noites Paraguaias"), Lúcia
Murat ("Brava Gente Brasileira"),
Glauber Rocha ("Terra em Transe") e o seu filho Eryk Rocha, com
a cinebiografia do pai, "Rocha
que Voa".
"Sur" é inspirado no tango homônimo de Homero Manzi. A
história do homem que retorna
em busca do amor de sua juventude -contada na música-
transformou-se no dilema interior de um preso político que, ao
ganhar a liberdade, deseja reencontrar a mulher e o filho.
Mas o ex-prisioneiro se angustia
com "uma espécie de fantasma, a
lembrança de um conflito, que é a
presença de outro homem", como descreve Solanas.
Filme de amor
"Quis fazer um filme de amor.
Alguns dizem que ele é muito político. Também não deixa de ser,
porque todos os filmes são políticos", afirma o diretor.
O enfoque político de "Sur" se
observa no período histórico em
que Solanas ambientou sua trama. O tango de Manzi, um dos favoritos do diretor, data de fins dos
anos 40. Já o filme, "está situado
durante os anos da ditadura. É
uma história daqueles que viveram o exílio dentro do país".
Solanas acha que o "o tema da
ditadura não está suficientemente
presente na cultura argentina". E
enumera: "A Argentina produz
entre 35 e 40 filmes por ano. Desde 1983, quando caiu a ditadura,
portanto há 20 anos, não sei se se
fizeram dez filmes sobre esse tema. É uma vergonha. Deveria haver cem filmes sobre a ditadura".
O cineasta prepara atualmente
o roteiro de um documentário
que irá se chamar "La Hora del
Saqueo" (A Hora do Saque). O filme está sendo desenhado como
uma espécie de atualização de "La
Hora de los Hornos" (A Hora dos
Fornos), igualmente um documentário, realizado por Solanas
em 1968 e apontado por muitos
críticos como sua obra mais contundente.
Quanto à atualidade de "Sur",
lançado há 15 anos, Solanas é categórico: ""Sur" é mais do que uma
canção ou uma situação geográfica. É uma espécie de utopia ou de
projeto ainda não realizado".
O projeto a que se refere é a integração dos países da América Latina. "Temos muito mais coisas
em comum do que diferenças.
Por isso acredito numa supranação latino-americana e sou absoluto partidário do Mercosul, não
apenas por razões econômicas
-por essas também, que nos
permitiriam construir uma grande nação e não seguir sendo 20 e
tantas nações débeis- mas em
razão da nossa identidade".
A mostra "Olhares sobre a
América Latina" lista dois outros
filmes argentinos, de produção
recente -"Bolivia" (2000), que
consolidou o diretor Israel Adrián
Caetano como um grande nome
da nova geração, e o multipremiado "Histórias Mínimas" (2002),
de Carlos Sorín.
OLHARES SOBRE A AMÉRICA LATINA.
Mostra de filmes de diretores latino-americanos. Quando: de hoje a 31/8.
Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075 ,
Cerqueira César, 0/xx/11/3082-0213).
Quanto: de R$ 3 a R$ 7. A Mostra Sesc de
Artes - Latinidades promove módulos de
cinema também em outras unidades do
Sesc. Inf.: www.sescsp.com.br.
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