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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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CINEMA

Diretor metaforiza em "Sur" idéia de integração dos países latino-americanos; filme está na mostra Latinidades

Solanas rememora a sua utopia latina

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma história de amor. Uma reflexão sobre o exílio. Uma homenagem à utopia de construir uma supranação latino-americana.
Essas três linhas de força se entrelaçam em "Sur" (Sul), longa-metragem que o cineasta argentino Fernando Solanas estreou em 1988 no Festival de Cannes (França) e que poderá ser (re)visto no Brasil nesta semana, dentro da programação "Olhares sobre a América Latina", vertente cinematográfica da Mostra Sesc de Artes - Latinidades.
Além de Solanas, outros expoentes do cinema latino-americano estarão em cartaz (de hoje ao dia 31). Do mexicano Arturo Ripstein a mostra traz "O Evangelho das Maravilhas" (1998), do cubano Tomás Gutierrez Alea, "Memórias do Subdesenvolvimento" (1968); do boliviano Jorge Sanjinés, "Ukamau" (1972) e "Inimigo Principal" (1973).
Entre os brasileiros, comparecem Nelson Pereira dos Santos ("Memórias do Cárcere"), Ruy Guerra ("Estorvo"), Aloysio Raulino ("Noites Paraguaias"), Lúcia Murat ("Brava Gente Brasileira"), Glauber Rocha ("Terra em Transe") e o seu filho Eryk Rocha, com a cinebiografia do pai, "Rocha que Voa".
"Sur" é inspirado no tango homônimo de Homero Manzi. A história do homem que retorna em busca do amor de sua juventude -contada na música- transformou-se no dilema interior de um preso político que, ao ganhar a liberdade, deseja reencontrar a mulher e o filho.
Mas o ex-prisioneiro se angustia com "uma espécie de fantasma, a lembrança de um conflito, que é a presença de outro homem", como descreve Solanas.

Filme de amor
"Quis fazer um filme de amor. Alguns dizem que ele é muito político. Também não deixa de ser, porque todos os filmes são políticos", afirma o diretor.
O enfoque político de "Sur" se observa no período histórico em que Solanas ambientou sua trama. O tango de Manzi, um dos favoritos do diretor, data de fins dos anos 40. Já o filme, "está situado durante os anos da ditadura. É uma história daqueles que viveram o exílio dentro do país".
Solanas acha que o "o tema da ditadura não está suficientemente presente na cultura argentina". E enumera: "A Argentina produz entre 35 e 40 filmes por ano. Desde 1983, quando caiu a ditadura, portanto há 20 anos, não sei se se fizeram dez filmes sobre esse tema. É uma vergonha. Deveria haver cem filmes sobre a ditadura".
O cineasta prepara atualmente o roteiro de um documentário que irá se chamar "La Hora del Saqueo" (A Hora do Saque). O filme está sendo desenhado como uma espécie de atualização de "La Hora de los Hornos" (A Hora dos Fornos), igualmente um documentário, realizado por Solanas em 1968 e apontado por muitos críticos como sua obra mais contundente.
Quanto à atualidade de "Sur", lançado há 15 anos, Solanas é categórico: ""Sur" é mais do que uma canção ou uma situação geográfica. É uma espécie de utopia ou de projeto ainda não realizado".
O projeto a que se refere é a integração dos países da América Latina. "Temos muito mais coisas em comum do que diferenças. Por isso acredito numa supranação latino-americana e sou absoluto partidário do Mercosul, não apenas por razões econômicas -por essas também, que nos permitiriam construir uma grande nação e não seguir sendo 20 e tantas nações débeis- mas em razão da nossa identidade".
A mostra "Olhares sobre a América Latina" lista dois outros filmes argentinos, de produção recente -"Bolivia" (2000), que consolidou o diretor Israel Adrián Caetano como um grande nome da nova geração, e o multipremiado "Histórias Mínimas" (2002), de Carlos Sorín.


OLHARES SOBRE A AMÉRICA LATINA. Mostra de filmes de diretores latino-americanos. Quando: de hoje a 31/8. Onde: Cinesesc (r. Augusta, 2.075 , Cerqueira César, 0/xx/11/3082-0213). Quanto: de R$ 3 a R$ 7. A Mostra Sesc de Artes - Latinidades promove módulos de cinema também em outras unidades do Sesc. Inf.: www.sescsp.com.br.


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