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MPB
João Suplicy investe em clima caseiro
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
João Suplicy é um cara comum. Por trás do filho da prefeita com o senador, do irmão de
Supla, do marido da Maria Paula
do "Casseta e Planeta", está um
simples músico brasileiro, jovem
compositor de 31 anos que acaba
de chegar ao terceiro CD.
Acusado de atirar para todo lado em seus primeiros discos, no
novo, "Caseiro", encontra um clima e um conceito em comum para todas as canções: a vida de casado, a filha recém-nascida. No álbum, convivem baiões, sambinhas, baladas de amor, blues e
canção de ninar. No geral, são
composições que soam como
MPB de barzinho da Vila Madalena, mas com um charme inegável,
surgido da despretensão.
Ele conta, por exemplo, que
uma das canções surgiu de um
pedido da mulher para que fizesse
uma música para ser cantada à filha quando ela ainda estava na
barriga. Outra surgiu quando ele
passeava de bicicleta, com a leveza
de amar e se saber amado. Em outra, Jorge Mautner toca a infalível
marcha nupcial ao violino.
Toda essa energia gracinha acaba transbordando para cada detalhe do disco, que, mesmo sem
grandes momentos de genialidade, inspira enorme simpatia.
Suas letras existem no limite da
obviedade, com detalhes da vida
prosaica transformados em poesia sem absolutamente nada demais mas também sem nada terrivelmente constrangedor.
Impossível não pensar que ele
parece ser um cara bacana, com
boas intenções, curtindo fazer
uma musiquinha, cantar para a filha, fazer um showzinho com os
amigos, compor cançõezinhas
que soam legais -e têm pouca
probabilidade de entrar para o cânone da música brasileira. Não
que essa seja a intenção.
Ele é, então, o elogio do homem
comum. Funciona, afinal, como
uma espécie de Jack Johnson brasileiro (com menos apelo e talento). Seu disco não traz mais do
que músicas relax tocadas no violão, com detalhes interessantes e
letras sobre coisas simples da vida
de um recém-trintão recém-casado com uma filha recém-nascida.
Às vezes, já é suficiente.
Ao mesmo tempo, ele parece ter
consciência do nível de despretensão do álbum. Em entrevista,
comentou que "é claro que a pessoa que vai ouvir o disco pode não
estar nesse clima, pode sair falando "que caseiro que nada" ou "pô, o
cara fez uma música para a filha,
nada a ver", mas esse foi o disco
mais verdadeiro que pude fazer. É
uma declaração de amor".
Questionado se não tem medo
de soar bobo escrevendo letras
como "casei e quero casa", ele é
sincero: "Até teve gente que me
falou que poderia soar piegas,
mas eu sei que foi tudo muito verdadeiro". E conclui: "Nada que é
verdadeiro é piegas".
Caseiro
Artista: João Suplicy
Lançamento: independente/distribuição Tratore
Quanto: R$ 22, em média
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