São Paulo, sexta-feira, 19 de agosto de 2005

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CINEMA/"2 FILHOS DE FRANCISCO"

Breno Silveira biografa Zezé di Camargo e Luciano no maior lançamento nacional do ano

Estreante filma saga de dupla sertaneja

DA REPORTAGEM LOCAL

Os cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano procuraram a distribuidora Columbia, do grupo Sony, com uma idéia na cabeça: sua história valia um filme.
Quando soube da abordagem, Breno Silveira, sócio da produtora carioca moderninha Conspiração Filmes, pensou: "Qualquer história dá um filme. Mas um filme bom são poucas histórias".
Saltando os capítulos e indo direto ao fim, o leitor saberá que Silveira dirigiu "2 Filhos de Francisco", a história da vida de Zezé di Camargo e Luciano, que estréia hoje em 333 cinemas brasileiros, como o maior lançamento de título nacional em 2005.
Agora, voltemos ao prólogo. Quando a encomenda de "2 Filhos de Francisco" chegou à Conspiração, Silveira estava a ponto de filmar seu primeiro longa. Ele havia esperado um bom tempo na fila, atrás dos sócios e amigos Arthur Fontes ("Surf Adventures"), José Henrique Fonseca ("O Homem do Ano"), Lula Buarque de Holanda ("Casseta & Planeta - A Taça do Mundo É Nossa"), Andrucha Waddington ("Casa de Areia").
A história que Silveira queria contar era sobre o "nó do Rio", visto pela perspectiva das "meninas de classe média que se apaixonam por bandidos". Enfim, uma história de amor.
Mas, quando a roteirista Patricia Andrade falou a Silveira de como um obstinado matuto brasileiro (o patriarca Francisco do título) havia perseguido o ideal de ver seus filhos transformados em astros, ele trocou o projeto que tinha nas mãos por essa idéia.
De súbito, o cineasta se viu apaixonado pela história de Francisco. E sozinho. "Meus amigos não me reconheciam quando entravam no carro e viam CDs da dupla. Eles me olhavam estranho."
O próprio Silveira não se sentia situado no ambiente rural brasileiro, que passou a explorar, em busca de locações. "Se estivesse na favela, estaria mais solto. Já falei com muito traficante", afirma.
Os produtores não queriam fazer o caminho mais curto de pedir patrocínio às estatais -maiores investidoras no cinema brasileiro-, para evitar o ressurgimento da polêmica que foi a compra, em 2004, pelo Banco do Brasil, de ingressos de show da dupla destinado a arrecadar fundos para o PT.
Descartadas as estatais, muitas negativas de patrocínio por empresas privadas foram ouvidas. "Até a Globo Filmes, que vinha de uma decepção com o longa de Sandy & Junior ["Acquaria'], não queria apostar no filme."
"Cego de vontade de filmar", no entanto, Silveira foi em frente. Depois dos obstáculos de produção, deu-se conta de outro: como convencer o espectador urbano a ver um filme sertanejo?
Zezé di Camargo parece ter achado uma pista. Com a montagem do longa adiantada, o sertanejo convidou Caetano Veloso a juntar-se ao projeto, assinando a trilha. Ouviu um sim.
E escancarou o expediente na pré-estréia paulistana do longa, falando de frente para a platéia e com os olhos postos em Caetano: "Você vai ser nossa chancela de produto de qualidade". Comendo pipoca Caetano estava, comendo pipoca Caetano ficou.
Zezé prosseguiu, agora com os olhos voltados ao público: "Não é coruja gabando do toco, não. Mas este filme é muito bom".
Em dúvida sobre a conveniência de submeter o longa a um júri de festival antes do teste definitivo das bilheterias, Silveira não inscreveu o filme na competição no 33º Festival de Gramado.
O cineasta e a distribuidora chegaram a mudar de idéia sobre competir, mas não a tempo de entrar no páreo. "2 Filhos de Francisco" foi exibido "hors-concours" na última terça em Gramado, numa sessão consagradora. Silveira deve ter se arrependido de não haver apostado mais alto.
De azarão, "2 Filhos de Francisco" passou a cavalo vencedor nas estimativas do mercado. Mas o fim da história o público é quem dirá. (SILVANA ARANTES)


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