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CINEMA/"2 FILHOS DE FRANCISCO"
Breno Silveira biografa Zezé di Camargo e Luciano no maior lançamento nacional do ano
Estreante filma saga de dupla sertaneja
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cantores sertanejos Zezé di
Camargo e Luciano procuraram a
distribuidora Columbia, do grupo Sony, com uma idéia na cabeça: sua história valia um filme.
Quando soube da abordagem,
Breno Silveira, sócio da produtora
carioca moderninha Conspiração
Filmes, pensou: "Qualquer história dá um filme. Mas um filme
bom são poucas histórias".
Saltando os capítulos e indo direto ao fim, o leitor saberá que Silveira dirigiu "2 Filhos de Francisco", a história da vida de Zezé di
Camargo e Luciano, que estréia
hoje em 333 cinemas brasileiros,
como o maior lançamento de título nacional em 2005.
Agora, voltemos ao prólogo.
Quando a encomenda de "2 Filhos de Francisco" chegou à
Conspiração, Silveira estava a
ponto de filmar seu primeiro longa. Ele havia esperado um bom
tempo na fila, atrás dos sócios e
amigos Arthur Fontes ("Surf Adventures"), José Henrique Fonseca ("O Homem do Ano"), Lula
Buarque de Holanda ("Casseta &
Planeta - A Taça do Mundo É
Nossa"), Andrucha Waddington
("Casa de Areia").
A história que Silveira queria
contar era sobre o "nó do Rio",
visto pela perspectiva das "meninas de classe média que se apaixonam por bandidos". Enfim, uma
história de amor.
Mas, quando a roteirista Patricia Andrade falou a Silveira de como um obstinado matuto brasileiro (o patriarca Francisco do título) havia perseguido o ideal de
ver seus filhos transformados em
astros, ele trocou o projeto que tinha nas mãos por essa idéia.
De súbito, o cineasta se viu apaixonado pela história de Francisco. E sozinho. "Meus amigos não
me reconheciam quando entravam no carro e viam CDs da dupla. Eles me olhavam estranho."
O próprio Silveira não se sentia
situado no ambiente rural brasileiro, que passou a explorar, em
busca de locações. "Se estivesse na
favela, estaria mais solto. Já falei
com muito traficante", afirma.
Os produtores não queriam fazer o caminho mais curto de pedir
patrocínio às estatais -maiores
investidoras no cinema brasileiro-, para evitar o ressurgimento
da polêmica que foi a compra, em
2004, pelo Banco do Brasil, de ingressos de show da dupla destinado a arrecadar fundos para o PT.
Descartadas as estatais, muitas
negativas de patrocínio por empresas privadas foram ouvidas.
"Até a Globo Filmes, que vinha de
uma decepção com o longa de
Sandy & Junior ["Acquaria'], não
queria apostar no filme."
"Cego de vontade de filmar", no
entanto, Silveira foi em frente. Depois dos obstáculos de produção,
deu-se conta de outro: como convencer o espectador urbano a ver
um filme sertanejo?
Zezé di Camargo parece ter
achado uma pista. Com a montagem do longa adiantada, o sertanejo convidou Caetano Veloso a
juntar-se ao projeto, assinando a
trilha. Ouviu um sim.
E escancarou o expediente na
pré-estréia paulistana do longa,
falando de frente para a platéia e
com os olhos postos em Caetano:
"Você vai ser nossa chancela de
produto de qualidade". Comendo
pipoca Caetano estava, comendo
pipoca Caetano ficou.
Zezé prosseguiu, agora com os
olhos voltados ao público: "Não é
coruja gabando do toco, não. Mas
este filme é muito bom".
Em dúvida sobre a conveniência de submeter o longa a um júri
de festival antes do teste definitivo
das bilheterias, Silveira não inscreveu o filme na competição no
33º Festival de Gramado.
O cineasta e a distribuidora chegaram a mudar de idéia sobre
competir, mas não a tempo de entrar no páreo. "2 Filhos de Francisco" foi exibido "hors-concours" na última terça em Gramado, numa sessão consagradora.
Silveira deve ter se arrependido de
não haver apostado mais alto.
De azarão, "2 Filhos de Francisco" passou a cavalo vencedor nas
estimativas do mercado. Mas o
fim da história o público é quem
dirá.
(SILVANA ARANTES)
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