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CRÍTICA
Narrativa retrata a fusão entre o caipira e o urbano
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Não é preciso gostar de Zezé di Camargo e Luciano
para se encantar com "2 Filhos
de Francisco".
Ao narrar a saga da dupla, o
diretor Breno Silveira conta
uma história modelar, centrada em Zezé, aliás Mirosmar Camargo: menino nascido na roça que, depois de inúmeros
percalços, vira cantor popular e
conquista fama e fortuna. A estrela sobe, como em tantos outros filmes.
Mas várias coisas marcam a
diferença aqui: o foco inicialmente voltado para o pai dos
futuros cantores, Francisco (vivido por Ângelo Antônio), obcecado pelo sonho de torná-los
astros; o olhar atento e caloroso, isento de maniqueísmo, a
todos os personagens; a maneira sutil como se conta, nas entrelinhas, o avanço da urbanização brasileira.
Há um paralelo evidente entre os solavancos na vida da família Camargo -a troca da lavoura pela construção civil, do
lampião pela luz elétrica, do rádio pela televisão- e as mudanças sofridas pela velha música caipira rumo à constituição do atual gênero sertanejo
(ou "breganejo"). Esse trajeto
do campo para a cidade, do isolamento à integração na cultura de massa, é mostrado com
notável limpidez.
Há um certo desequilíbrio,
talvez inevitável, entre as duas
metades do filme.
Na primeira, em que a dupla
mirim Camargo e Camarguinho é forjada meio à força pelo
pai e se apresenta pelo interior,
salta à vista a homogeneidade
estética (sobretudo cromática).
A partir do início da carreira
solo de Zezé, antes de formar
uma nova dupla com Welson/
Luciano-, a profusão de cores
e ruídos é análoga ao processo
de "contaminação" da música
caipira pela indústria cultural.
Breno Silveira, jovem cineasta de formação sofisticada,
mostra um respeito escrupuloso por essa música e seus fãs,
embora seja clara sua preferência pela vertente mais antiga e
"pura" da tradição rural ("Tristeza do Jeca", "Cálix Bento"
etc.).
Os melhores achados cinematográficos estão na primeira
parte: a cena em que o pai revela a luz elétrica à família, o modo terrível como a mãe (Dira
Paes) mostra a Mirosmar onde
está seu irmão. Mas a voltagem
emocional volta a subir no final, com a aparição dos verdadeiros Zezé e Luciano.
No ótimo elenco cabe destacar José Dumont (o empresário
patife dos meninos) e os novatos Dablio Moreira (Mirosmar)
e Marcos Henrique (Emival).
2 Filhos de Francisco
Direção: Breno Silveira
Produção: Brasil, 2005
Com: Márcio Kieling, Dira Paes
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Interlagos, Lapa e circuito
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