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Livros
Gleiser transforma a física em ficção
Astrofísico brasileiro lança sua primeira obra romanceada, inspirada na vida do astrônomo alemão Johannes Kepler
Autor ganhou dois prêmios
Jabuti e conquistou uma
legião de admiradores com "A Dança do Universo" e
"O Fim da Terra e do Céu"
FLÁVIO DE CARVALHO SERPA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Leitores dos livros anteriores de Marcelo Gleiser vão se surpreender
com "A Harmonia do Mundo",
a primeira obra romanceada do
astrofísico que mantém uma
coluna semanal no caderno
Mais! desde 1997.
Ele já ganhou dois prêmios
Jabuti com seus best-sellers
anteriores. Dono do raro talento de tornar degustável para o
leigo os mais complexos problemas da ciência, Gleiser conquistou uma legião de fãs com
"A Dança do Universo" e "O
Fim da Terra e do Céu" (ambos
publicados pela Companhia
das Letras). Ganhou um prêmio da Casa Branca na gestão
Bill Clinton por seus trabalhos
de popularização da ciência. É
o criador e professor de uma
original e insólita disciplina de
física para poetas no Dartmouth College, em New
Hampshire, nos Estados Unidos, onde vive.
Foi lá que ele teve contato
com o famoso físico Freeman
Dyson e com o neurocientista
Oliver Sacks, que o estimularam a ampliar seu público com
uma obra que abdicasse das
fórmulas para mostrar os saltos da ciência de maneira romanceada, mais palatável.
Enquanto nas obras anteriores Gleiser estava amarrado à
camisa-de-força da seqüência
histórica dos fatos e causas e
efeitos dos fenômenos naturais, em "Harmonia do Mundo" ele abraça decididamente a liberdade que a narração romanceada concede.
Ou melhor, recorre a uma estrutura de roteiro cinematográfico, com idas e vindas de
flashbacks entre o personagem
central do livro, o astrônomo
Michael Maestlin, e seu aluno
Johannes Kepler, autor das famosas leis que descrevem pela
primeira vez as órbitas elípticas dos planetas ao redor do
Sol.
Penando uma velhice melancólica, Maestlin lê os diários de
Kepler, que morrera um ano
antes. Ambos estão atormentados por uma amizade interrompida pelos horrores das estúpidas guerras religiosas do
Renascimento. O mestre rumina a mágoa de ter introduzido
Kepler à astronomia heliocêntrica de Copérnico, mas não ter
tido a coragem de assumir publicamente a herética crença,
por comodismo e por medo da
vingança religiosa tanto de
protestantes como católicos,
que podia facilmente chegar ao
desfecho da fogueira.
Crenças platônicas
Em vez de alegrar-se com a
vitória de Kepler, que desbancou as crenças milenares segundo as quais os círculos, formas perfeitas geometricamente, eram as únicas que poderiam ser usadas pelo Criador
para ordenar o cosmo, Michael
Maestlin deprime-se. Não tanto por inveja, mas por covardia
e por constatar que não era um
gênio como seu discípulo.
A "Harmonia do Mundo" é
também o título da obra de Johannes Kepler de 1619, com as
revelações místicas neoplatônicas que estalaram na poderosa mente do matemático,
abrindo caminho para as descobertas do contemporâneo
Galileu Galilei e do gigante
Isaac Newton.
A HARMONIA DO MUNDO
Autor: Marcelo Gleiser
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 42 (328 págs.)
Lançamento: quarta, às 20h30, no
teatro do Colégio Santa Cruz (r. Orobó,
277, Alto de Pinheiros, tel. 0/ xx/11/3024-5191), após palestra a ser proferida pelo autor. Reservas devem ser
feitas pelo tel. 0/xx/11/3032-6856
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