DA REDAÇÃO

Dois velhos músicos, apaixonados por seus instrumentos, mergulhados em uma intensa colaboração. A parceria entre Jerry Garcia (1942-1995), guitarra e voz da seminal banda dos anos 60 Grateful Dead, e o ás do bandolim David Grisman é o mote para "Grateful Dawg" (2000), documentário inédito no Brasil que o Cinemax exibe amanhã, às 22h.
Grisman e Garcia se conheceram em 1964, quando assistiram em West Grove, Pensilvânia, a uma apresentação de Bill Mon- roe, o inventor do bluegrass, vertente da country music pela qual ambos eram apaixonados. Nos intervalos do show, os dois participavam de jams acústicas no estacionamento do lugar.
Juntos, Garcia e Grisman fundaram em 73 o Old & in the Way, que revisitava o bluegrass clássico, mas que durou pouco, devido a um desentendimento entre os músicos. Tempos depois, Garcia e Grisman se reencontrariam para reatar a amizade por meio da arte.
Mais do que se contrapor, o estilo rígido e perfeccionista de Grisman proporcionava disciplina ao espírito libertário de Jerry Garcia, que se define como um homem que viveu "à custa da sorte". Esse equilíbrio atingido pelos dois permitiu que, juntos, promovessem uma pesquisa musical ampla, rumo a estilos díspares como o jazz, o reggae, chegando até mesmo a gravar um disco de canções infantis, "Not for Kids Only" (1993).
"Grateful Dawg" (cujo nome mistura a banda de Garcia ao apelido de Grisman) pode frustrar aqueles que esperam mais um tributo ao Grateful Dead, minimamente citado, mas satisfaz pela atmosfera da paixão pela música sem compromissos senão com o da realização artística.
Por meio de depoimentos de colegas e parentes, o documentário (dirigido pela filha de Grisman, Gillian) consegue mostrar com competência o espírito de celebração que os reunia em ensaios e gravações. Uma festa despretensiosa entre dois velhos bonachões, que deu à música americana uma contribuição soberba. (MÁRVIO DOS ANJOS)