São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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OPINIÃO

Musa devia ter indenização por bens prestados à pátria


IRÔNICO SABER QUE, NO PAÍS QUE LOUVA A BUNDA A TAL PREFERÊNCIA NÃO DÁ VOTOS


XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

Uma bunda é uma bunda é uma bunda, como diria a minha comadre Gertrude Stein, mas Gretchen, além muito além de Rita Cadillac, é de fato e de direito um patrimônio material e imaterial que nem sequer carece ser tombado pelos institutos históricos oficias.
Ela está sacramentada no "pró-memória" do macho brasileiro há mais de 30 anos e deveria cobrar indenização pelos bens prestados à pátria. Tem gente desbundada que fez bem menos e levou milhões das leis de incentivo para suas peças e filmes.
Gretchen fez gozar várias gerações, no palco do Chacrinha, no circo mambembe, no presídio, na revista, gente de todas as classes e credos, bem antes de virar "cult", essa espécie de purgatório repleto de artistas que perdem o seu fiel público pagante de massa.
Daí para a política é um pulo, como revela, com afetividade e melancolia, o documentário "on the road" de Eliane Brum e Paschoal Samora. Foi o que bem tentou a eterna gostosa, candidata do PPS (o ex-partidão comunista), em 2008, à prefeitura da ilha de Itamaracá, Pernambuco.
Na campanha, rejeita o erotismo, ampara-se no evangelho e a intenção é mostrar, com alguma sinceridade mesmo, que modificou o seu modo de vida. Não deu certo nas urnas. O apelo da musa do "Freak le Boom Boom", que sempre nos mobilizou de forma mais simples e honesta, não vingou como jogada eleitoreira.
Irônico saber que no país que tanto louva a bunda, na práxis, a tal preferência nacional não dá votos.


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