Americano produz e é responsável pelo piloto de "Boardwalk Empire", que estreia hoje nos EUA e aborda anos 20

Série surgiu quando HBO procurava atração à altura de "Família Soprano'; no Brasil, estreia em 17/10

CHARLES McGRATH
DO "NEW YORK TIMES"

Numa tarde quente de junho do ano passado, diante de um clube social polonês em Greenpoint, homens de smokings de lã, com bigodes finos e cabelos com brilhantina, enxugavam as testas.
Perto deles, moças esbeltas usando vestidos até os tornozelos, com brilho.
Duas traziam enfeites de plumas nas cabeças, outras estavam com bobes de papel nos cabelos. Como estavam no Brooklyn, onde as pessoas saem com roupas esdrúxulas a qualquer momento, ninguém prestava atenção.
A poucas quadras, um calçadão a beira-mar tinha surgido como que do nada. No final dele, uma praia arenosa vazia se estendia sob o sol -mas, onde o mar deveria começar, viam-se contêineres metálicos de navios.
Essa cidade fantasma nova em folha custou US$ 5 milhões (cerca de R$ 8,5 mi) e é o set de "Boardwalk Empire" (império do calçadão), série que a HBO começa a exibir hoje nos EUA [chega em 17 de outubro ao Brasil].
Há mais de um ano, o lugar vem ganhando vida com centenas de atores como os que se preparavam para filmar uma cena em um restaurante em que Hardeen, irmão mais jovem de Houdini, escapa de uma camisa de força.
A história de "Boardwalk Empire" acontece em Atlantic City em 1920, primeiro ano de vigência da Lei Seca e é baseada em parte em um livro com o mesmo título, uma história da cidade desde a criação no século 19.

"FAMÍLIA SOPRANO"
Em 2006, a HBO, que procurava um seriado de peso para o lugar de "Família Soprano", mostrou o livro -cujos direitos tinham sido comprados pelo ator Mark Wahlberg e seu sócio de produção Stephen Levinson- a Terence Winter, que escreveu muitos episódios de "Sopranos".
"Eles disseram: "Talvez você encontre algo interessante aqui". E acrescentaram que Martin Scorsese estaria envolvido. Eu disse que, naquele caso, com certeza encontraria algo", recorda Winter. Scorsese acabou dirigindo o piloto e tornando-se produtor-executivo do seriado.
Winter se interessou inicialmente pelos anos 1950 e pelo personagem Skinny D'Amato. Mas logo sua atenção passou para a década de 1920 e Enoch Johnson, conhecido como Nucky.
A atração pelo período se deu pelo fato de ele raramente ser representado na TV ou no cinema, diz. "Sempre adorei o jeito como as pessoas falavam na década de 1920, as roupas, os carros."
Nucky Johnson foi um figurão político do Partido Republicano que, entre 1911 e 1941, controlou a exploração de bebidas ilegais, prostituição e jogo em Atlantic City. Ele vivia como um paxá, ocupando um andar inteiro do hotel Ritz-Carlton e levantando-se às 15h para fazer rondas em um Rolls-Royce azul.
O Nucky da vida real era alto, tinha ombros largos e uma cabeça enorme. No seriado, em que virou Nucky Thompson, ele é representado pelo ligeiramente cadavérico Steve Buscemi, outro ator de "Sopranos".
"Se quiséssemos o Nucky real, teríamos chamado James Gandolfini", disse Winter, "mas, quando você chega ao episódio 12, já pensa que ninguém mais senão Steve poderia ter feito o papel."

DETALHES
Winter disse que Scorsese e ele foram irredutíveis em relação a detalhes históricos. "Quando se faz algo assim, os pequenos detalhes importam." O piloto custou quase US$ 20 milhões (R$ 34 mi).
As pesquisas abrangeram até a maneira como as pessoas falavam na década de 20. "Não queria que fosse uma caricatura", explica.
Os grandes detalhes também são importantes. A Lei Seca não propiciou apenas o surgimento de uma geração de beberrões dançarinos. Também desencadeou uma onda de cobiça e violência.
"Temos uísque, vinho, mulheres, música e caça-níqueis", disse o Nucky da vida real certa vez. "Não vou negar nem pedir desculpas por isso. Se a maioria das pessoas não as quisesse, elas não dariam lucro."