São Paulo, sexta-feira, 19 de outubro de 2001

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Cantora expõe reconciliação com os Beatles no disco "Aqui, Ali, em Qualquer Lugar"

Rita Lee brinca nos campos de morango

João Wainer/Folha Imagem
Rita Lee, 54, que diz ter feito agora seu "primeiro disco de MPB"


Editora veta a maioria das versões feitas para o português; "É meu primeiro disco de MPB", define a roqueira paulista

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando os Beatles se separaram, em 1970, Rita Lee ficou de mal ("eu e o resto do planeta"). Trocou John, Paul, George e Ringo por Rolling Stones e David Bowie, trocou Mutantes por Tutti-Frutti. Só foi fazer as pazes dez anos depois, abalada pela morte de John Lennon. Mas manteve a reconciliação quase em segredo.
Agora, após mais 21 anos, Rita, 54, faz sua confissão, que se chama "Aqui, Ali, em Qualquer Lugar". É um disco de Beatles em compasso de bossa nova, às vezes de tropicalismo. Só o gravou devido à persistência de Marcos Maynard, diretor de sua nova gravadora, que queria versões de Beatles para o português.
Ela admite que "não teria a idéia sozinha", mas diz que não está se sujeitando a pressões de gravadora. "Além de ser diretor da Abril, Maynard é um grande amigo meu e de Roberto [de Carvalho, 49, seu marido e produtor do disco". Diferentemente dos outros diretores, ele é músico, participa. Mas é uma coisa que não te estupra", explica Rita, aludindo de viés ao período anterior com "as amebas anêmicas" da Universal (a definição é de Roberto).
Rita ainda resistiu à idéia de verter "yeah yeah yeah" a "ié-ié-ié", mas compôs dez letras, entre elas a que viraria a faixa-título, versão de "Here, There and Everywhere" (66): "Vou cantar em português/ esta canção tão manjada dos Beatles/ versos bonitos/ que ficam melhor em inglês".
Entusiasmou-se e fez o diabo. Transformou "I Wanna Hold Your Hand" (63) em "O Amor É Tão Clichê" (e em baião), rimou "I love you" com "chuchu", "tomate" com "too much", incluiu um "ranário" em "Can't Buy me Love" (64). A Sony internacional, editora dos Beatles, vetou quase tudo, inclusive aqueles versos-chave em que ela se "dedava", segundo diz. A justificativa: nenhuma versão poderia se afastar do espírito original da letra.
O ranário acabou ficando, e também o "I love you pra chuchu", depois que Rita explicou o que significava "I love you for cucumber", como alguém traduzira para os chefões da Sony. Todas, liberadas ou vetadas, deverão frequentar o próximo show.
Entre versões e brigas, o que ficou? "Fui tirando todos os meus esqueletinhos de Beatles do armário. E vi que eles eram todos leves, não eram tristes." Alguns ainda parecem cutucá-la, no entanto. Fã adolescente do quarteto inglês, Rita foi das que deu plantão na porta da gravadora Apple, à espera de ver os moços, quando já era cantora conhecida dos Mutantes.
Viúva de John e Paul quando eles casaram com Yoko Ono e Linda McCartney, ela deixa a tiete aflorar quando volta ao assunto. "Foi um horror para mim quando eles casaram com aquelas mulheres. Não era aceitável. Não adianta, Yoko tem a pecha de ter contribuído para o fim dos Beatles. Isso eu e o resto do planeta não esquecemos e não perdoamos. E Linda, a Feia, era uma groupie chata de galocha. Só o bobo do Paul caiu. Deve ter sido duro para ele trocar Lennon por Linda como parceiro musical", destila.


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