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Música - Crítica/"In Rainbows"
Novo Radiohead destroça classificações de gênero
Sétimo álbum da banda é continuação lógica de disco solo do líder Thom Yorke
ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
COLUNISTA DA FOLHA
"In Rainbows", o novo
álbum da banda inglesa Radiohead, é uma
espécie de plasma sonoro, coeso, orgânico, em que as transições de uma faixa para outra
são quase imperceptíveis, como se tudo formasse uma única
e esparsa sinfonia. Mais do que
parente próximo de "Kid A" e
"Amnesiac", os CD "difíceis" do
Radiohead, "In Rainbows" é
uma continuação lógica de
"The Eraser" (06), o disco-solo
de Thom Yorke, líder da banda.
Com poucas exceções -como no caos de guitarras que
abre e encerra a canção "Bodysnatchers"-, "In Rainbows", assim como "The Eraser", soa como um bric-à-brac digital, canções que vão ganhando forma a
partir de elementos mínimos,
fragmentos de idéias que o produtor Nigel Godrich recolhe e
ordena com coerência.
Pelo que se sabe do processo
de composição da banda, Yorke
é a usina de criação, enquanto o
guitarrista Jonny Greenwood,
que tem formação clássica, cuida das harmonias.
A fusão Yorke/Greenwood já
foi explosiva, como no apocalipse de cores e texturas de "OK
Computer" (1999), o álbum
fundamental do Radiohead e
um dos mais importantes da
história do rock (ou seria da
música? Ou, ainda, da arquitetura?). Mas hoje os arranjos vão
ficando cada vez mais rarefeitos, e aumenta a distância entre
as camadas que formam as canções do Radiohead.
Na autodepreciativa "All I
Need", uma das mais belas faixas do álbum, Yorke canta "Você é tudo que eu preciso/ você é
tudo que eu preciso". Parece estar falando da própria música,
dos poucos recursos de que lança mão para construir suas canções resplandecentes.
Percussão e guitarra jazzísticas pontuam a faixa "15 Step", o
que reforça o fato de o Radiohead há muito ter destroçado
qualquer classificação musical.
Jazz, música clássica, rock e
eletrônica se unem para chegar
a um todo que é maior do que a
soma das partes: algo único, a
música do Radiohead.
Em "Reckoner", Yorke canta
no limite de seu registro vocal.
Fala das dificuldades da criação
poética em "Nude". E, com nada mais que um piano repetitivo e uma curta frase de percussão, constrói uma das melhores
canções de toda a história do
Radiohead, "Videotape" ("Você
é meu centro quando eu escapo
da órbita", diz a letra).
Seguir as novidades do pop
requer cada vez mais tempo e
menos espírito crítico. Novos
nomes surgem empurrados por
tsunamis de hype, para se dissipar sem deixar vestígios ao primeiro sinal de mudança na maré. Nesse contexto, não faz sentido falar em permanência.
Quem vai se interessar pelo
quarto álbum dos Klaxons? Pelo terceiro dos Cribs? Pela música que o New Young Pony
Club vai estar fazendo daqui a
cinco anos? Ninguém, e parece
que a vida agora é assim.
Mas este já é o sétimo álbum
do Radiohead, essa anomalia
que insiste em fazer música relevante. No universo digital, conhecer e descartar informação
acontece na velocidade de um
impulso elétrico. Pois o Radiohead se apropria desses mesmos meios para fazer o contrário -criar e distribuir informação (no caso, música) que realmente importa.
Por enquanto, "In Rainbows", o primeiro trabalho da
banda desde 2003, está disponível só na internet, em
www.inrainbows.com. Sem
gravadora, sem intermediários.
O ouvinte determina o preço.
Seja quanto for, será pouco.
IN RAINBOWS
Artista: Radiohead
Quanto: você escolhe quanto paga
Onde: www.inrainbows.com
Avaliação: ótimo
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