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Crítica/DVD/"O Homem do Pau-Brasil"
Joaquim Pedro de Andrade reinventa Oswald
COLUNISTA DA FOLHA
"O Homem do Pau-Brasil" (1981), último filme de Joaquim Pedro de Andrade (1932-88), foi recebido com certa má
vontade à época em que foi lançado. Suas ousadias formais e
seu desprezo pelo "realismo"
televisivo iam na contramão da
tendência domesticada que então se impunha mesmo entre
os remanescentes do cinema
novo, empenhados na busca de
um suposto diálogo com o
grande público.
Não por acaso, o filme era dedicado a Glauber Rocha, que
morrera naquele mesmo ano e
que também se recusara a sucumbir ao comodismo geral.
Mas o que é "O Homem do
Pau-Brasil"?
Em poucas palavras, a recriação ficcional de episódios da vida e da obra de Oswald de Andrade. Mais do que isso, porém,
trata-se de uma tentativa de
discutir o legado modernista
em sua vertente mais radical e
experimental.
No filme, agora lançado em
DVD, esse experimentalismo
começa na escalação do elenco.
Dois atores, um homem (Flávio
Galvão) e uma mulher (Ítala
Nandi), representam Oswald,
como a indicar dois aspectos da
sua personalidade, o masculino
e o feminino, yin e yang.
Antinaturalismo
O tema da antropofagia, do
"quem come quem" (nos vários
sentidos do verbo), perpassa
todo o filme, repleto, desde o título, de figurações do falo, signo de potência criadora, pelo
menos até desembocar na utopia final oswaldiana do matriarcado.
A reconstituição de época é
estilizada, antinaturalista, e o
tom da encenação é farsesco.
Boa parte da narrativa é ambientada em um navio que viaja
da Europa para o Brasil, trazendo artistas, cientistas, missionários jesuítas.
O trânsito, ou antes, o entrechoque entre a cultura européia e a energia brasileira é a
própria matéria do filme.
Todo o elenco é brilhante, e o
destaque fica para Dina Sfat interpretando uma Tarsila do
Amaral que oscila entre a extrema finesse e a mais deliciosa
grossura.
Visto hoje, quando nos habituamos a um cineminha rasteiro e medroso, "O Homem do
Pau-Brasil" parece um objeto
absurdo. Só os filmes de Julio
Bressane, de algum modo, podem dialogar com ele.
Nos fornidos extras do DVD,
o destaque é o documentário
"Cinema Novo", realizado também por Joaquim Pedro em
1967, mostrando, no calor da
hora, os filmes realizados então
por Glauber, Nelson Pereira
dos Santos, Cacá Diegues etc.
Documento inestimável de
uma época de efervescência
criadora e coragem artística. (JOSÉ GERALDO COUTO)
O HOMEM DO PAU-BRASIL
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Distribuição: VideoFilmes
Quanto: R$ 49,90 (em média)
Classificação indicativa: livre
Avaliação: ótimo
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