São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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Crítica/DVD/"24 Horas"

Série aborda os limites da paranoia

Na era Obama, Bauer encarna herói super-humano que tenta salvar seu país

NEWTON CANNITO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A série "24 Horas" é a expressão artística de uma paranoia coletiva.
Lançada pouco depois do 11 de Setembro, sucesso imediato. O formato em "tempo real" garante a concentração dramática típica da tragédia grega, e Jack Bauer encarna o herói super-humano que dedica a vida a salvar seu país.
O faroeste foi renovado e Bauer encarnou o cowboy forte, pragmático e sem humor imortalizado por John Wayne.
"24" foi a expressão da paranoia da era Bush. Mas qual será o futuro da série na era Obama?
A sétima temporada, lançada em DVD, mostra esse dilema.
A trajetória de "24" lembra faroestes de John Ford. Historicamente, os filmes de Ford são feitos num momento parecido com o atual: o fim da paranoia macarthista e os primórdios de um novo período democrata com a eleição de Kennedy, em 1961.
Tal como o personagem de John Wayne em "O Homem que Matou o Facínora", de 1962, na sétima temporada de "24" Bauer se torna um herói fora de seu tempo, à procura do perdão. Admite que é simples e que faz o que for necessário para salvar um ônibus sob ameaça terrorista (indígena). Mas admite que errou, pois a lei é mais importante. Como no filme, Bauer é perdoado.
Dentro do universo de "24", a violência foi necessária nos períodos de "exceção" para que chegássemos ao atual Estado de Direito. Bauer foi o homem que matou os facínoras. É a questionável ideologia de que "os fins justificam os meios".
A sétima temporada peca na hesitação da forma e do conteúdo. A concentração dramática não combina com a crise do personagem, e o roteiro fica hesitante. O politicamente correto também atrapalha.
"24" inovou ao mostrar os limites da paranoia. Bauer transitava entre o pragmatismo da ação e o ódio ao inimigo. Foi assim que "24" contribuiu para sua superação. Mas, limitada pelo "bom tom", perdeu as cenas extremas e a capacidade de impactar o público.
Bauer, meus amigos, está numa fria. Para continuar na ativa vai ter de enfrentar seu pior inimigo: um negro de origem muçulmana que, para piorar as coisas, é também americano, democrata e presidente. Seu nome: Barack Obama.


NEWTON CANNITO é criador do seriado "9mm-São Paulo" (Fox) e doutor em televisão pela USP

24 HORAS
Distribuição: Fox
Quanto: R$ 129, em média
Classificação: não informada
Avaliação: bom



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