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Crítica/DVD/"24 Horas"
Série aborda os limites da paranoia
Na era Obama, Bauer encarna herói super-humano que tenta salvar seu país
NEWTON CANNITO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A série "24 Horas" é a expressão artística de
uma paranoia coletiva.
Lançada pouco depois do 11 de
Setembro, sucesso imediato. O
formato em "tempo real" garante a concentração dramática típica da tragédia grega, e
Jack Bauer encarna o herói super-humano que dedica a vida a
salvar seu país.
O faroeste foi renovado e
Bauer encarnou o cowboy forte, pragmático e sem humor
imortalizado por John Wayne.
"24" foi a expressão da paranoia da era Bush. Mas qual será
o futuro da série na era Obama?
A sétima temporada, lançada
em DVD, mostra esse dilema.
A trajetória de "24" lembra
faroestes de John Ford. Historicamente, os filmes de Ford
são feitos num momento parecido com o atual: o fim da paranoia macarthista e os primórdios de um novo período democrata com a eleição de Kennedy, em 1961.
Tal como o personagem de
John Wayne em "O Homem
que Matou o Facínora", de
1962, na sétima temporada de
"24" Bauer se torna um herói
fora de seu tempo, à procura do
perdão. Admite que é simples e
que faz o que for necessário para salvar um ônibus sob ameaça terrorista (indígena). Mas
admite que errou, pois a lei é
mais importante. Como no filme, Bauer é perdoado.
Dentro do universo de "24",
a violência foi necessária nos
períodos de "exceção" para que
chegássemos ao atual Estado
de Direito. Bauer foi o homem
que matou os facínoras. É a
questionável ideologia de que
"os fins justificam os meios".
A sétima temporada peca na
hesitação da forma e do conteúdo. A concentração dramática não combina com a crise
do personagem, e o roteiro fica
hesitante. O politicamente correto também atrapalha.
"24" inovou ao mostrar os limites da paranoia. Bauer transitava entre o pragmatismo da
ação e o ódio ao inimigo. Foi assim que "24" contribuiu para
sua superação. Mas, limitada
pelo "bom tom", perdeu as cenas extremas e a capacidade de
impactar o público.
Bauer, meus amigos, está numa fria. Para continuar na ativa
vai ter de enfrentar seu pior
inimigo: um negro de origem
muçulmana que, para piorar as
coisas, é também americano,
democrata e presidente. Seu
nome: Barack Obama.
NEWTON CANNITO é criador do seriado "9mm-São Paulo" (Fox) e doutor em televisão pela USP
24 HORAS
Distribuição: Fox
Quanto: R$ 129, em média
Classificação: não informada
Avaliação: bom
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