São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2011

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Música

Com 15 álbuns, cena de Pernambuco domina mercado

Trabalhos inéditos de veteranos e novatos têm em comum a característica de negar a estética do 'regional'

Músicos afirmam que produção pós-manguebit acontece individualmente e que conjunção é coincidência

MARCUS PRETO
DE SÃO PAULO

Pernambuco contra-ataca.
Passados 17 anos do surgimento do manguebit (o marco inaugural é o disco "Da Lama ao Caos", de Chico Science & Nação Zumbi) e do retorno do Estado ao centro da cena pop brasileira, mais de uma dúzia de artistas pernambucanos lançam trabalhos quase ao mesmo tempo.
Nos últimos dois meses, chegaram ao público álbuns de oito artistas importantes daquela cena. A seguir, muitos outros virão, assinados pelos veteranos Lula Queiroga e Siba, pelas bandas Eddie, Julia Says, Mombojó, Mundo Livre S/A e pela própria Nação Zumbi.
Para Lirinha, o ex-vocalista do Cordel do Fogo Encantado, que acaba de fazer estreia solo com "Lira", a conjunção de lançamentos é "mera coincidência", mas coincidência grande demais para deixar de ser observada.
Ele ressalta as diferenças entre os clássicos do manguebit e o que é produzido hoje. "[No mangue,] as escolhas musicais e poéticas tinham a ver com a chegada da internet, da circulação de informações. Misturavam uma batida eletrônica com um instrumento regional e aquilo simbolizava o cosmopolita. Hoje, com aquela sonoridade saturada, trabalhamos sob uma liberdade conquistada."
À beira de lançar "Todo Dia É o Fim do Mundo", Lula Queiroga diz haver uma resistência entre os pernambucanos -até mesmo entre os fundadores do manguebit- em lidar com esse histórico.
"O mangue serviu para situar o antes e o depois. Mas aquilo foi uma ficção", diz. Karina Buhr, que lança agora segundo CD, "Longe de Onde", afirma que, naqueles primórdios, todos trabalhavam coletivamente porque estavam juntos "na festa".
"Quando Chico [Science] morreu [em 1997], deu uma tristeza geral que abalou a festa e cada um foi para seu canto, fazer seu trabalho só."
Karina faz parte dos artistas dessa geração que se radicaram em São Paulo depois do fim do manguebit. Ainda que boa parte desses músicos faça hoje algo parecido com MPB, pop ou rock, eles ainda carregam o selo "regional".
"Sudeste também é região", diz Fabio Trummer, da banda Eddie. "Somos a cena que mais usa elementos da música brasileira para construir o pop nacional."
O músico compara a nova geração pernambucana com a carioca ligada ao samba. "O novo samba do Rio é acadêmico. Usa as mesmas soluções harmônicas e poéticas da tradição. Também usamos a tradição, mas a receita é nossa. Dialoga com o hoje."


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