São Paulo, segunda, 19 de outubro de 1998

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Violento e profano





da Redação

Os cinemas brasileiros deram as costas para "Violento e Profano", a aclamada estréia na direção do ator britânico Gary Oldman, produção de 1997 assinada por Luc Besson que foi escolhida no ano passado para participar da mostra competitiva do Festival de Cannes.
Desovada agora pelas locadoras nacionais, uma forma de atenuar a escorregada do calendário cinematográfico do país, a fita é uma boa chance de ver um filme de muitas credenciais, entre elas a de posar de injustiçado por não ter levado a Palma de Ouro no citado festival francês, apesar de levar o prêmio de melhor atriz e de quase emplacar o de melhor ator.
Este "Violento e Profano" convoca Gary Oldman para o time dos ótimos diretores britânicos (Danny Boyle, Mike Leigh...) que levam às telas as fraturas expostas do realismo social da nobre ilha.
O roteiro, escrito pelo próprio Oldman em tom biográfico, é construído como um conto amargo e sombrio sobre uma família inglesa decadente do sul de Londres, envolvida com o que de mais abundante a região tem a oferecer: subemprego, drogas, bebida.
"Violento e Profano" tem seu foco centrado no difícil relacionamento do casal interpretado pelos excelentes Ray Winstone (Raymond) e Kathy Burke (Val). E nos problemas que atingem a avó, a mãe e o cunhado de Val.
A ação fica por conta dos porres do barra-pesada Raymond (espécie de "hooligan" do amor, capaz de espancar a mulher grávida) e do cunhado viciado em heroína Billy.
Mas é nas mulheres do filme que está construída sua base emotiva: em Val, em sua mãe e na mãe de sua mãe, na eterna luta da mulher inglesa por manter de pé conceitos de amor e família em meio a tudo o que há de podre no reino.
Três cenas espetaculares valem o aluguel da fita: Val dançando sozinha na cozinha quando pensa estar livre finalmente do marido que dias atrás a havia espancado cruelmente; a de um drogado amigo de Billy interpretando junto com a TV a fala de Dennis Hopper em "Apocalipse Now"; e a longa e pesada sequência de Ray, bêbado, destruindo sua casa e chegando à conclusão em uma conversa com o espelho de que é dele a culpa da vida desgraçada que leva.
"Violento e Profano" é, além de tudo, uma bonita fábula urbana sobre a facilidade do amor em destruir para depois regenerar. (LR)
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Filme: Violento e Profano
Produção: EUA, 1998, 128 min
Direção: Gary Oldman
Lançamento: Columbia (tel. 011/5503-9898)



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