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TELEVISÃO
Em 50 dias, foram cinco medidas, entre elas uma contra a MTV, que exibia imagens subliminares pornográficas
Liminares tentam impor limites às redes
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
Está no ar uma nova cruzada
contra os excessos da televisão. Os
atores dessa movimentação são
procuradores e promotores de
Justiça, juízes, políticos e ONGs
(organizações não-governamentais) que se ocupam não só de defender crianças de conteúdos violentos e eróticos, mas até de descobrir mensagens subliminares
por trás das imagens da TV.
Nos últimos 50 dias, juízes de
São Paulo e de Minas Gerais concederam cinco liminares que impõem limites à programação das
TVs. Medidas como essas não
chegam a ser novidade, mas não
há registros anteriores de tantas
em tão pouco tempo como agora.
A ofensiva da Justiça ganhou reforço do Legislativo na quarta-feira passada, quando a Câmara dos
Deputados lançou a campanha
"Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania". Primeiro, deputados irão tentar negociar com as
emissoras. Se não der certo, vão
pressionar os anunciantes. Se ainda não funcionar, os parlamentares irão denunciar, em um site, as
empresas que anunciam em programas de baixo nível.
Por força dessas cinco liminares, ainda que temporariamente
(porque são decisões provisórias), todas as TVs estão proibidas
de exibir filmes violentos, tensos
ou com alguma conotação erótica
antes das 20h. No caso da Rede
TV!, o veto atinge um programa
jornalístico, embora popular, mas
transmitido a partir das 16h: o
"Repórter Cidadão" não pode
mostrar sequer armas e perseguições policiais, sua principal matéria-prima.
Dessas cinco liminares, a de
causa mais original foi assinada
há duas semanas pelo juiz Paulo
Alcides Amaral Salles, da 12ª Vara
Cível de São Paulo, a pedido de
três promotores paulistas. Salles
determinou que a MTV suspendesse a exibição de uma vinheta
(que já não estava mais no ar) em
que apareciam imagens subliminares pornográficas, algumas não
tão subliminares assim, a maioria
de mulheres em relações sexuais
sadomasoquistas.
Criada oficialmente em julho, a
Organização Não-Governamental de Estudos e Pesquisas em
Mensagem Subliminar, única do
gênero no país, reivindica o crédito de ter feito a descoberta na vinheta da MTV. Defende que a publicação da informação em seu site, em agosto, chamou a atenção
de outras pessoas, que denunciaram ao Ministério de São Paulo,
gerando, em setembro, a ação que
resultou na liminar.
A vinheta da MTV ficou no ar,
em todos os horários, de março
até setembro deste ano, quando a
emissora afirma ter tido conhecimento das imagens subliminares,
via denúncia de telespectadores.
Com 45 segundos, a vinheta
mostrava a figura em três dimensões de um homem meditando,
girando. Essa figura era sobreposta por outras imagens, que apareciam muito rapidamente na tela.
Ao fundo, uma trilha de música
eletrônica com sons de tambores.
Entre essas imagens sobrepostas, a ONG Mensagem Subliminar
identificou -e o Instituto de Criminalística da Polícia Civil de São
Paulo confirmou- exatamente
180 de conteúdo pornográfico.
O truque funcionava assim: como cada um segundo de imagem
de TV tem 30 "frames" (ou quadros), dispersamente eram inseridas figuras pornográficas que duravam apenas um quadro, a fração de tempo equivalente a um
segundo dividido por 30.
O ser humano não consegue
captar conscientemente imagens
nessa velocidade. Ele não vê, mas
seu cérebro capta e armazena a
informação. Isso é um exemplo
clássico de imagem subliminar,
que, apesar de parecer exótico, já
mereceu estudos científicos no
mundo todo. E algumas pesquisas comprovaram que se trata de
um eficiente método de propaganda. A imagem ou áudio que o
olho não vê mas o cérebro arquiva
influenciaria as pessoas, induzindo-as a determinados comportamentos ou decisões de consumo.
Muito comum na publicidade
comercial a partir dos anos 70, a
mensagem subliminar não seria
ilegal, mas antiética, entendem especialistas no assunto.
Excluindo-se peças publicitárias de caráter comercial, a vinheta da MTV é o caso mais contundente de mensagem subliminar
na TV brasileira. Até então, eram
apontadas apenas situações discutíveis, como merchandising comercial e social em novelas da
Globo, além de filmes e desenhos
animados importados.
Acordo
A ação contra a vinheta da MTV
terá efeito a curto prazo. Nesta semana, a emissora deve concluir
um acordo com o Ministério Público para que a ação judicial não
avance. Diante da possibilidade
de ser condenada a pagar multa
de R$ 7,4 milhões (valor pedido
pelos promotores, que seria o público da MTV em todo o país multiplicado por R$ 1), a TV irá afastar esse risco se comprometendo
a exibir vinhetas educativas.
"Em momento algum a MTV
sabia da existência dessas imagens", diz Edgard Ribeiro, porta-voz da emissora, que atribui o incidente a uma profissional que
prestava serviços eventualmente
à emissora, a quem foi encomendada a vinheta.
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