São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2001

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LANÇAMENTO

Sexto número da acadêmica "Sexta Feira", primeiro sob o selo da editora 34, sai hoje, com festa em São Paulo

Páginas de revista abrigam visões diversas de utopia

FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Abrir uma revista acadêmica cujo tema é utopia com o artigo da professora de filosofia da USP Maria das Graças de Souza parece uma boa medida do corpo editorial de "Sexta Feira", que chega ao seu sexto número.
O texto "O Real e Seu Avesso: As Utopias Clássicas" introduz o leitor ao conceito original do termo, conforme cunhado por Thomas Morus em 1516, e o expande de forma comparativa à Cidade do Sol do frei dominicano Tommaso de Campanella (1613) e à Nova Atlântida de Bacon (1627).
De forma bastante didática, o artigo de Souza descreve características comuns às utopias clássicas -como a idéia de isolamento presente em todas elas. Ensina o que, depois, será dissecado e revirado (em diversos graus de complexidade e a partir de temas variados, como ecologia e música) nas páginas seguintes de "Sexta Feira" -que são mais de 600.
"Pensamos no começo de milênio, projetos para o futuro, em como fica essa idéia de utopia", diz Renato Sztutman, 27, sobre a escolha do tema.
Para Sztutman -membro do corpo editorial de "Sexta Feira", um grupo de alunos da faculdade de antropologia da Universidade de São Paulo-, o termo utopia "vem sendo usado muitas vezes de maneira pejorativa, como algo que não acontece".
A preocupação com a mudança de significado do termo aparece já na apresentação da revista.
"Com o acirramento da chamada globalização já não se pode enfrentar o tema utopia à luz do modelo de seus criador, o inglês Thomas Morus (1580-1535)", diz o texto, que lembra como o conceito original ganhou novas nuances, a partir do século 19, com sua contraposição à ciência e o nascimento da expressão de Marx "socialismo utópico", que colou a ele a noção de ideal fadado a não se realizar.
Sztutman admite que, no início, houve uma tentação de "positivar" novamente o termo. Mas que o debate revelou a gama ampliada a partir da cidade ideal de Thomas Morus, que aparece na revista em três vertentes: utópico, distópico e contra-utópico.
Temos, assim, as "utopias realizáveis" de Luiz Inácio Lula da Silva, comentadas em entrevista a membros do corpo editorial da revista. Ou a visão contra-utópica de José Arthur Giannotti, em outra entrevista aos organizadores -na qual o filósofo defende pensar o futuro dentro do bojo do presente. "Giannotti é mais "realista", diz que a utopia atrapalha", resume Sztutman.
O aspecto gráfico de "Sexta Feira 6" também casa com o tema. Imprimi-la em verso de outdoors, "lixo de gráfica", como diz Sztutman, ajudou a realizar a "utopia" de editar o sexto número da publicação -que existe desde 97 e, esperam seus editores, deve atingir a sonhada periodicidade semestral, com a parceria selada com a editora 34, que passa a imprimir e distribuir a revista.
O recurso de emergência deu, ainda, significado formal ao tema. Os pontos coloridos que formam a imagem nos outdoors são as únicas "ilustrações" da revista, "sem o discurso imagético mais direto que tinha nas outras", lembra Sztutman. Como utopias, as imagens desse tipo de publicidade fazem sentido de longe.


SEXTA FEIRA Nš 6 - UTOPIA - Revista com artigos e entrevistas de Bernardo Carvalho, Guilherme Wisnik, José Arthur Giannotti, entre outros. Editora: 34 (tel. 0/ xx/11/3816-6777). 648 págs. R$ 24 (no lançamento, hoje, das 20h às 4h, no restaurante Central das Artes - r. Apinagés, 1.081, tel. 0/xx/11/3865-4165) e R$ 28 (nas livrarias). Na internet: www.klickescritores.com.br.


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