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LANÇAMENTO
Sexto número da acadêmica "Sexta Feira", primeiro sob o selo da editora 34, sai hoje, com festa em São Paulo
Páginas de revista abrigam visões diversas de utopia
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Abrir uma revista acadêmica
cujo tema é utopia com o artigo
da professora de filosofia da USP
Maria das Graças de Souza parece
uma boa medida do corpo editorial de "Sexta Feira", que chega ao
seu sexto número.
O texto "O Real e Seu Avesso: As
Utopias Clássicas" introduz o leitor ao conceito original do termo,
conforme cunhado por Thomas
Morus em 1516, e o expande de
forma comparativa à Cidade do
Sol do frei dominicano Tommaso
de Campanella (1613) e à Nova
Atlântida de Bacon (1627).
De forma bastante didática, o
artigo de Souza descreve características comuns às utopias clássicas -como a idéia de isolamento
presente em todas elas. Ensina o
que, depois, será dissecado e revirado (em diversos graus de complexidade e a partir de temas variados, como ecologia e música)
nas páginas seguintes de "Sexta
Feira" -que são mais de 600.
"Pensamos no começo de milênio, projetos para o futuro, em como fica essa idéia de utopia", diz
Renato Sztutman, 27, sobre a escolha do tema.
Para Sztutman -membro do
corpo editorial de "Sexta Feira",
um grupo de alunos da faculdade
de antropologia da Universidade
de São Paulo-, o termo utopia
"vem sendo usado muitas vezes
de maneira pejorativa, como algo
que não acontece".
A preocupação com a mudança
de significado do termo aparece já
na apresentação da revista.
"Com o acirramento da chamada globalização já não se pode enfrentar o tema utopia à luz do modelo de seus criador, o inglês Thomas Morus (1580-1535)", diz o
texto, que lembra como o conceito original ganhou novas nuances, a partir do século 19, com sua
contraposição à ciência e o nascimento da expressão de Marx "socialismo utópico", que colou a ele
a noção de ideal fadado a não se
realizar.
Sztutman admite que, no início,
houve uma tentação de "positivar" novamente o termo. Mas que
o debate revelou a gama ampliada
a partir da cidade ideal de Thomas Morus, que aparece na revista em três vertentes: utópico, distópico e contra-utópico.
Temos, assim, as "utopias realizáveis" de Luiz Inácio Lula da Silva, comentadas em entrevista a
membros do corpo editorial da
revista. Ou a visão contra-utópica
de José Arthur Giannotti, em outra entrevista aos organizadores
-na qual o filósofo defende pensar o futuro dentro do bojo do
presente. "Giannotti é mais "realista", diz que a utopia atrapalha",
resume Sztutman.
O aspecto gráfico de "Sexta Feira 6" também casa com o tema.
Imprimi-la em verso de outdoors,
"lixo de gráfica", como diz Sztutman, ajudou a realizar a "utopia"
de editar o sexto número da publicação -que existe desde 97 e,
esperam seus editores, deve atingir a sonhada periodicidade semestral, com a parceria selada
com a editora 34, que passa a imprimir e distribuir a revista.
O recurso de emergência deu,
ainda, significado formal ao tema.
Os pontos coloridos que formam
a imagem nos outdoors são as
únicas "ilustrações" da revista,
"sem o discurso imagético mais
direto que tinha nas outras", lembra Sztutman. Como utopias, as
imagens desse tipo de publicidade
fazem sentido de longe.
SEXTA FEIRA Nš 6 - UTOPIA - Revista
com artigos e entrevistas de Bernardo
Carvalho, Guilherme Wisnik, José Arthur
Giannotti, entre outros. Editora: 34 (tel.
0/ xx/11/3816-6777). 648 págs. R$ 24 (no
lançamento, hoje, das 20h às 4h, no
restaurante Central das Artes - r.
Apinagés, 1.081, tel. 0/xx/11/3865-4165)
e R$ 28 (nas livrarias). Na internet:
www.klickescritores.com.br.
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