São Paulo, quinta-feira, 19 de dezembro de 2002

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MINISTÉRIO

Cantor diz que cartilha petista é embrião e quer mais incentivos

Gilberto Gil já se distancia do programa cultural do PT

IVAN FINOTTI
PATRICIA ZORZAN

DA REPORTAGEM LOCAL

Gilberto Gil (PV) já se distancia do programa cultural elaborado pelos petistas nos últimos anos.
Ao anunciar anteontem que aceitava o cargo de ministro da Cultura, disparou que no programa há muita coisa que "precisa ser aproveitada".
"Examinei o documento e há muita coisa que precisa ser vista, que precisa ser aproveitada. Evidente que aquilo era um embrião, um primeiro conjunto de idéias genéricas sobre a questão cultural no Brasil. Precisamos partir para o detalhamento e somar àquelas idéias outras que devem vir de outras áreas, de partidos, do PV."
Hamilton Pereira, ex-secretário de Cultura do DF e coordenador do programa cultural petista -e cotado para o cargo de ministro da Cultura até a semana passada-, não quis comentar as declarações do provável futuro ministro (até o fechamento desta edição, o presidente eleito Lula não havia feito o anúncio oficial).
Gil ainda não tem idéias específicas para implantar. "Acho cedo até que isso seja cobrado, porque recebi o convite há uma semana. Temos que ouvir muita gente, nos reportar ao programa do PT, ver a avaliação cultural que a transição está fazendo."

Mais incentivos
Mas já deu algumas dicas de suas idéias, como a ampliação da política de incentivos fiscais, característica que marcou os oito anos do ministério comandado por Francisco Weffort.
"Sou favorável aos incentivos fiscais às empresas", disse Gil anteontem. "É preciso criar critérios mais claros e estímulos para que médias e pequenas empresas, que somam uma quantidade enorme de recursos, possam disputar esse espaço com as grandes empresas. É preciso que os pequenos empresários tenham benefícios maiores do que os grandes."
Já o programa cultural do PT prevê um controle e maior participação do Estado na decisão das empresas sobre onde investir.
Na ocasião do lançamento do documento, Hamilton Pereira afirmou que as leis, da forma como estão, deixam a decisão de onde investir "exclusivamente para os diretores de marketing das empresas", obedecendo "somente à lógica de mercado". Disse ainda que os recursos se concentram no eixo Rio-SP e que se destinam basicamente a artistas renomados.
Sobre essa possibilidade de maior controle estatal, Gil não falou anteontem, mas disse que "as leis são importantes e têm funcionado, ainda que não em um nível ótimo. Mas têm funcionado na BA, SP, PE, por exemplo".

Rock e Bahia
O presidente do Partido Verde, José Luiz Penna, sugeriu outras linhas de ação para seu filiado mais famoso. "Com sua notoriedade, Gil cria a possibilidade de recursos internacionais para a pasta", falou Penna.
"Além disso, ele tem uma sensibilidade como produtor cultural que pode transformar o ministério em uma usina de produção cultural, deixando de ser apenas um interlocutor."
Penna, que declarou que também quer palpitar no Ministério do Meio Ambiente ("Fica no mesmo prédio, não é mesmo?"), já trabalhou como artista. Participou da trilha sonora do filme "Sargento Getúlio" ("Dirigido pelo Hermano Penna, meu primo") e integrou a equipe de "Loucos Por Cinema", de André Luiz Oliveira ("Trabalhei com a direção").
Sorrindo de orelha a orelha com o inesperado cargo ganho pelo PV, Penna explicou por que Gilberto Gil é o homem certo para a pasta cultural: "A música popular é importante tanto no PIB da Inglaterra quanto no da Bahia. Você sabia que, na Inglaterra, o rock é mais forte economicamente do que muitas indústrias?".


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