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São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

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O rapper contra o rap

Divulgação
Os integrantes da dupla Outkast, Big Boi (Antwan Patton) e Andre 3000 (Andre Benjamin)



"Speakerboxxx/ Love Below", novo álbum da dupla norte-americana Outkast, desestrutura o hip hop unindo psicodelia, soul, rock e jazz


LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

Quando a revista norte-americana "Spin" elegeu o insólito novo álbum do grupo de hip hop Outkast como um dos principais discos do ano e escreveu que ele era o "Sandinista" do gênero, a vontade foi de rir.
Rir de nervoso. "Speakerboxxx/ Love Below", álbum duplo da dupla de Atlanta, tem, sim, o efeito bombástico de ruptura que teve o famoso álbum triplo da banda inglesa The Clash, que esfacelou o punk em sua essência e o costurou com os mais diversos estilos, primeiro chocando e depois dando à música jovem uma nova direção.
"Speakerboxxx/Love Below", que a BMG lança no Brasil, é na verdade a junção de dois álbuns solos, "Speakerboxx" e "Love Below", o primeiro feito inteirinho e individualmente pelo irado gangsta Big Boi (Antwan Patton), e o segundo, pelo gênio "pensador" Andre 3000 (Andre Benjamin).
O disco dois-em-um teve uma performance devastadora assim que saiu às lojas nos EUA, no final de setembro.

Grammy
O CD que chegava era o sucessor do disco "Stankonia", grammyiado álbum que bagunçou a cena hip hop e eletrificou o gueto em 2002.
Dre e Big Boi pegaram toda a expectativa criada por um novo trabalho da dupla e devolveram em troca um absurdo CD duplo de rap lotado de psicodelia, soul, rock indie e free jazz. E poesia.
"Speakerboxxx/Love Below" entrou em primeiro na "Billboard", bateu a marca de um milhão de cópias vendidas em três semanas (é um disco duplo, veja bem) e botou o grupo na liderança das indicações ao próximo Grammy, com seis menções, e deu ao mundo o explosivo hit "Hey Ya!".
Mas chacoalhar o hip hop, estourar em vendas, bombar no Grammy, chapar nas paradas e compor um dos singles de 2003 não é o suficiente para acabar com o mau humor de Andre 3000, como você pode conferir em rara entrevista cedida à Folha por telefone, de Los Angeles.
 

Folha - O Outkast talvez seja o principal nome do hip hop americano, mas você vem dizendo que esse mesmo hip hop está morto. O que acontece?
Andre 3000 -
Eu também gostaria de saber o que acontece. Eu me sinto desestimulado para fazer hip hop hoje. Eu não vejo mais graça no movimento desde 96, 97. O hip hop não tem mais para onde ir, acredito. Existem grandes músicas, grandes caras produzindo. O problema é que não dá mais para acreditar nele. É tudo muito falso. Não dá para acreditar em uma arte movida pelo dinheiro. Pelo menos eu não acredito mais.

Folha - Quando o "Speakerboxxx/Love Below" foi lançado, as críticas do disco foram excessivamente elogiosas, mesmo por gente que assumia que não tinha "entendido" o disco. O que você achou das coisas que foram faladas sobre o álbum?
Andre 3000 -
Eu não sei como responder essa questão, "man". A crítica mais gratificante que eu li sobre o CD, pelo menos na parte em que sou responsável ("Love Below"), foi de um cara que falou que eu quero parecer o Prince. Não sei se ele acha isso bom ou ruim, mas eu quero mesmo parecer o Prince.

Folha - Foi esse desapontamento contra o hip hop que o fez decidir não fazer shows para mostrar ao vivo as músicas de "Speakerboxxx/ Love Below"?
Andre 3000 -
É isso. O álbum está nas lojas e é isso. Agora quero ir atrás de coisas novas. Preciso encontrar novas motivações, resgatar aquele amor que eu tinha em compor. Big Boi vai excursionar com o novo CD. Ele adora contato com o público.


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