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ROCK
Trio, conhecido pelo besteirol de letras e clipes, grava registro com arranjos mais elaborados
Blink-182 leva hardcore teen à maturidade
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Algumas bandas, no decorrer
de seus anos, atingem o chamado disco da maturidade, em que
o frescor e a energia juvenis são
trocados por experiência e serenidade. No caso do trio Blink-182, isso faz mais sentido ainda,
afinal, trata-se de um grupo símbolo do rock adolescente descerebrado que pretende crescer
musicalmente e liricamente.
O sexto disco dos norte-americanos de San Diego, que apenas
leva o título de "Blink-182", marca a despedida (ou a saída temporária) do universo formado
por besteirol, garotas siliconadas
e hardcore-pop básico, arrebatador para a garotada que passava
pela puberdade no final dos 90.
Canções em tom mais reflexivo, maior cuidado nos arranjos e
a presença do Cure Robert
Smith (que já batalhava no rock
antes de a maioria dos fãs do
Blink-182 ter nascido) dão claros
sinais de mudança, tal como o
adolescente que desafina quando ocorrem as alterações da voz.
"Concordo com essa história
de maturidade, mas apenas tentamos melhorar a nossa música
em relação aos álbuns anteriores", despista o guitarrista e vocalista Tom DeLonge, em entrevista à Folha, por telefone.
DeLonge, que é (ou era) responsável pelas caretas à Jim Carrey em videoclipes e fotos do
grupo, representa particularmente um dos maiores exemplos da virada no modo de pensar do Blink-182. Apesar de ainda não aproximar sua produção
artística da política, fora dos palcos o músico está engajado na
campanha do senador e veterano do Vietnã John Kerry para ser
o candidato à Presidência dos
EUA pelo Partido Democrata. O
vencedor das prévias terá o direito de enfrentar George W.
Bush no ano que vem.
"Acho que Kerry tem boas respostas para algumas questões.
Creio que é a pessoa indicada
para levar o nosso país à direção
certa", fala o guitarrista, já em
tom de comício.
Mas, mesmo no espectro político oposto ao do republicano
Bush, DeLonge não titubeia
quando o assunto é a necessidade da Guerra do Iraque.
"Não acredito no que o governo Bush disse para ganhar apoio
para a guerra [a existência de armas de destruição em massa],
porque não acho que fossem razões verdadeiras. Mas a guerra
era inevitável e éramos o único
país que tinha condições de levá-la adiante. E conseguimos."
Mesmo antes de receber a notícia que elevou os níveis de patriotismo na América -a captura de Saddam Hussein-, Tom
DeLonge leva a mão ao peito para justificar a ofensiva dos norte-americanos no Iraque: "Desde a
Segunda Guerra Mundial nós
batalhamos para consolidar a
democracia pelo globo, e acho
que ninguém poderá nos parar
em um tempo breve", diz.
Não foi o militarismo ideológico que fez com que o Blink-182
torcesse narizes da cena punk/
hardcore de todo o mundo, mas
sim a imagem do trio como porta-estandarte do comercialismo
no gênero -algo, em tese, contrário aos preceitos das bandas
do movimento. No entanto, o
guitarrista não se abala com as
acusações:
"Isso ocorre porque a maioria
da cena é feita de jovens, e muitos deles não têm entendimento
suficiente das coisas, não passaram pelas experiências que tivemos." Para DeLonge, é o leite
das crianças que justifica a busca
pelo apelo popular do punk.
"Acho que as coisas estão mudando, muitas bandas da cena
estão no mainstream hoje em
dia, e é na música que tem o seu
ganha-pão."
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