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São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

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ROCK

Trio, conhecido pelo besteirol de letras e clipes, grava registro com arranjos mais elaborados

Blink-182 leva hardcore teen à maturidade

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Algumas bandas, no decorrer de seus anos, atingem o chamado disco da maturidade, em que o frescor e a energia juvenis são trocados por experiência e serenidade. No caso do trio Blink-182, isso faz mais sentido ainda, afinal, trata-se de um grupo símbolo do rock adolescente descerebrado que pretende crescer musicalmente e liricamente.
O sexto disco dos norte-americanos de San Diego, que apenas leva o título de "Blink-182", marca a despedida (ou a saída temporária) do universo formado por besteirol, garotas siliconadas e hardcore-pop básico, arrebatador para a garotada que passava pela puberdade no final dos 90.
Canções em tom mais reflexivo, maior cuidado nos arranjos e a presença do Cure Robert Smith (que já batalhava no rock antes de a maioria dos fãs do Blink-182 ter nascido) dão claros sinais de mudança, tal como o adolescente que desafina quando ocorrem as alterações da voz.
"Concordo com essa história de maturidade, mas apenas tentamos melhorar a nossa música em relação aos álbuns anteriores", despista o guitarrista e vocalista Tom DeLonge, em entrevista à Folha, por telefone.
DeLonge, que é (ou era) responsável pelas caretas à Jim Carrey em videoclipes e fotos do grupo, representa particularmente um dos maiores exemplos da virada no modo de pensar do Blink-182. Apesar de ainda não aproximar sua produção artística da política, fora dos palcos o músico está engajado na campanha do senador e veterano do Vietnã John Kerry para ser o candidato à Presidência dos EUA pelo Partido Democrata. O vencedor das prévias terá o direito de enfrentar George W. Bush no ano que vem.
"Acho que Kerry tem boas respostas para algumas questões. Creio que é a pessoa indicada para levar o nosso país à direção certa", fala o guitarrista, já em tom de comício.
Mas, mesmo no espectro político oposto ao do republicano Bush, DeLonge não titubeia quando o assunto é a necessidade da Guerra do Iraque.
"Não acredito no que o governo Bush disse para ganhar apoio para a guerra [a existência de armas de destruição em massa], porque não acho que fossem razões verdadeiras. Mas a guerra era inevitável e éramos o único país que tinha condições de levá-la adiante. E conseguimos."
Mesmo antes de receber a notícia que elevou os níveis de patriotismo na América -a captura de Saddam Hussein-, Tom DeLonge leva a mão ao peito para justificar a ofensiva dos norte-americanos no Iraque: "Desde a Segunda Guerra Mundial nós batalhamos para consolidar a democracia pelo globo, e acho que ninguém poderá nos parar em um tempo breve", diz.
Não foi o militarismo ideológico que fez com que o Blink-182 torcesse narizes da cena punk/ hardcore de todo o mundo, mas sim a imagem do trio como porta-estandarte do comercialismo no gênero -algo, em tese, contrário aos preceitos das bandas do movimento. No entanto, o guitarrista não se abala com as acusações:
"Isso ocorre porque a maioria da cena é feita de jovens, e muitos deles não têm entendimento suficiente das coisas, não passaram pelas experiências que tivemos." Para DeLonge, é o leite das crianças que justifica a busca pelo apelo popular do punk. "Acho que as coisas estão mudando, muitas bandas da cena estão no mainstream hoje em dia, e é na música que tem o seu ganha-pão."

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