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São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2003

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CRÍTICA

Esquematismo anula a poesia dos filhos

TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA

Katti (Anne Maria Mühe) janta com a família. Toda maquiada e paramentada, ela contrasta com o ambiente desbotado, dos papéis de parede às roupas dos conservadores pais. A mesa é farta, mas Katti preferia estar no McDonald's.
É assim, sem primar pela sutileza, que a diretora estreante Maria von Heland aborda, em "Meninas Não Choram", um dos temas mais recorrentes da história do cinema: o hiato entre pais e filhos, entre o mundo adulto e a juventude.
O filme da diretora alemã representa um passo atrás no caminho do novo cinema da juventude: "Meninas Não Choram" é como suas protagonistas adolescentes, moderninhas na aparência e conservadoras na essência.
Vejamos o caso de Steffi (Karoline Herfurth), a amiga de infância de Katti. Seus pais são mais liberais e modernos do que os de Katti, mas ela se mantém virgem e ajuizada até que surpreende o pai com uma amante. Steffi torna-se então desregrada e vingativa -é quando o roteiro de Heland começa a forçar a barra.
Steffi se perde e Katti se acha. A primeira passa a representar a má consciência do filme, e a segunda, a boa. Isto na perspectiva da autora Heland, que nunca chega, em seu esquematismo, a legar uma autoconsciência genuína às personagens.
A falsa subjetividade das personagens serve apenas para que a autora imponha sua visão algo preconceituosa e extrínseca do mundo jovem e seus perigos.
Heland diz ter partido de uma série de entrevistas com adolescentes na fase de pesquisa, mas parece ter feito uma leitura esquemática, interessada em padrões e recorrências. Chegou a uma visão um tanto estereotipada e moralista da puberdade, visão que mais consagra a paranóia dos pais que evoca a poesia dos filhos.


Meninas Não Choram
 
Produção: Alemanha, 2002
Direção: Maria von Heland
Com: Anna Maria Mühe, Karoline Herfurth e Josefine Domes
Quando: a partir de hoje nos cines Espaço Unibanco, Frei Caneca Unibanco Arteplex e Lumière



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