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CRÍTICA
Esquematismo anula a poesia dos filhos
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Katti (Anne Maria Mühe) janta com a família.
Toda maquiada e paramentada, ela contrasta com o
ambiente desbotado, dos
papéis de parede às roupas
dos conservadores pais. A
mesa é farta, mas Katti preferia estar no McDonald's.
É assim, sem primar pela
sutileza, que a diretora estreante Maria von Heland
aborda, em "Meninas Não
Choram", um dos temas
mais recorrentes da história
do cinema: o hiato entre pais
e filhos, entre o mundo adulto e a juventude.
O filme da diretora alemã
representa um passo atrás
no caminho do novo cinema
da juventude: "Meninas Não
Choram" é como suas protagonistas adolescentes, moderninhas na aparência e
conservadoras na essência.
Vejamos o caso de Steffi
(Karoline Herfurth), a amiga
de infância de Katti. Seus
pais são mais liberais e modernos do que os de Katti,
mas ela se mantém virgem e
ajuizada até que surpreende
o pai com uma amante. Steffi torna-se então desregrada
e vingativa -é quando o roteiro de Heland começa a
forçar a barra.
Steffi se perde e Katti se
acha. A primeira passa a representar a má consciência
do filme, e a segunda, a boa.
Isto na perspectiva da autora
Heland, que nunca chega,
em seu esquematismo, a legar uma autoconsciência genuína às personagens.
A falsa subjetividade das
personagens serve apenas
para que a autora imponha
sua visão algo preconceituosa e extrínseca do mundo jovem e seus perigos.
Heland diz ter partido de
uma série de entrevistas com
adolescentes na fase de pesquisa, mas parece ter feito
uma leitura esquemática, interessada em padrões e recorrências. Chegou a uma
visão um tanto estereotipada e moralista da puberdade, visão que mais consagra
a paranóia dos pais que evoca a poesia dos filhos.
Meninas Não Choram
Produção: Alemanha, 2002
Direção: Maria von Heland
Com: Anna Maria Mühe, Karoline
Herfurth e Josefine Domes
Quando: a partir de hoje nos cines
Espaço Unibanco, Frei Caneca
Unibanco Arteplex e Lumière
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