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"Chega de hipocrisia com Oiticica"
DA REPORTAGEM LOCAL
Assim como a Bienal organizada por Paulo Herkenhoff tornou
internacionalmente conhecido o
termo "antropofagia", a Bienal de
2006, criada a partir das idéias de
Hélio Oiticica (1937-1980), promete resgatar o pensamento do
artista, especialmente de sua fase
"maldita", quando ele vivia em
Nova York. É o que espera a curadora Lisette Lagnado. Leia a continuação de sua entrevista.
Folha - Quando vocês foram para
a pesquisa de campo, a idéia do artista construtor do Oiticica e que
inspirou o projeto da Bienal se fez
presente?
Lagnado - Quando eu formulei o
projeto, parti de intuições e investigações que eu já tinha em relação à produção atual. Então não
inventei a tese, ela estava no ar. O
que talvez a gente não consiga
confirmar é se o programa ambiental que o Hélio propôs é viável ou não.
O que me interessa é recuperar e
dar dignidade para o pensamento
e reflexão do Hélio na década de
70. Várias práticas não foram
compreendidas, por isso acho o
Hélio visionário. Chega de hipocrisia. Chegou a hora de falar de
um neoconcretismo "banido"
por uma certa crítica local e moralista que só o vê relacionado com
o sexo, as drogas e o rock.
Folha - Como você define o programa ambiental do Hélio?
Lagnado - É um programa político visando uma mudança de
comportamento. Por exemplo, na
"Cosmococa", ele faz uma crítica
ao audiovisual passivo, à imagem.
Como desde o começo a questão
dele é a participação, eu acho que
o programa ambiental é uma tomada de partido de que em nenhum momento o espectador se
encontre passivo.
Folha - Numa Bienal do porte da
de SP, obras interativas podem se
tornar um playground...
Lagnado - Essa é a parte que falta
para definir o programa ambiental. Em "Programas para a Vida",
o Hélio faz um adeus ao esteticismo, não é um adeus à estética,
mas um adeus àquilo que não ultrapassa a forma e é elitista.
O "playground" era um conceito dele, mas, para não cair na diluição, não podemos ter esse tipo
de instalação se não houver crítica, e a crítica para mim é sublinhar o "como" do "viver junto".
Essa exposição é o oposto da auto-ajuda. Nas notas de seminário
do Roland Barthes, que serviram
para dar título à Bienal, a questão
mais crítica é a ética da vizinhança, de grupos que têm ritmos diferentes, afetivos ou não.
Barthes é mestre em se apoiar
na linguagem, o corpo incluído.
Teremos obras com pessoas falando línguas e sotaques, pessoas
que não conseguem se entender.
Não queremos dar uma resposta,
mas mostrar os conflitos.
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