São Paulo, terça, 20 de janeiro de 1998.



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POLÊMICA
Frase é do neto de Augusto de Lima Jr., o historiador que trouxe restos mortais de inconfidentes para o país
'Despojos são de Tomás Antônio Gonzaga'

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
da Agência Folha, em Belo Horizonte

O jornalista Aristóteles Drummond, 53, não acredita na tese acadêmica defendida por Adelto Gonçalves ("Gonzaga - Um Poeta do Iluminismo"), segundo a qual os restos mortais do poeta inconfidente Tomás Antônio Gonzaga não estão enterrados no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto.
Reportagem sobre o trabalho de Gonçalves, também jornalista, foi publicada pela Folha no último dia 14. De acordo com a tese, aprovada no final de 1997, os despojos continuam na África, onde o poeta foi exilado em 1792, três anos depois da Inconfidência Mineira.
Drummond é neto do historiador Augusto de Lima Jr. (1889-1970), que em dezembro de 1936 chefiou equipe em busca dos despojos dos inconfidentes exilados. Segundo ele, seu avô nunca esteve na África para procurar os restos mortais dos inconfidentes. Ele viajou apenas até Portugal, onde recebeu urnas lacradas.
De acordo com Drummond, o termo de exumação, citado por Augusto de Lima Jr. no livro "Vila Rica de Ouro Preto", é a prova de que os restos mortais que estão no Museu da Inconfidência são de Tomás Antônio Gonzaga.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida à Agência Folha por Drummond, por telefone, do Rio, onde mora.

Folha - Como surgiu a idéia de trazer os restos mortais de Tomás Antônio Gonzaga para o Brasil?
Aristóteles Drummond
- O pedido (a Getúlio Vargas) foi feito por meio da apresentação do livro "O Amor Infeliz de Marília e Dirceu", que será reeditado em breve. Getúlio (Vargas) concordou e fez o decreto repatriando os restos mortais dos inconfidentes.
Folha - Seu avô viajou à África para buscar os restos mortais?
Drummond
- Não. Ele só foi até Portugal e depois acompanhou as urnas até o Rio de Janeiro.
Folha - Como é possível saber se os restos mortais são mesmo de Tomás Gonzaga?
Drummond
- Só se pode acreditar na ata lavrada, como está no livro "Vila Rica do Ouro Preto", de meu avô.
Folha - Quem achou então os restos mortais?
Drummond
- Vou ler o que está no livro: "Desembargador Tomás Gonzaga, transladado da Sé Velha de Moçambique para o jazigo de família de Nossa Senhora dos Remédios de Cabeceira Grande, circunscrição de Mossuril. Exumação presidida pelo senhor administrador da circunscrição, Domingos da Encarnação Vieira".
Folha - Qual a importância de seu avô na historiografia nacional?
Drummond
- Ele foi o mais fecundo historiador de Minas. Era um militante, um polêmico. Foi ele quem levantou a tese óbvia de que Cláudio Manoel da Costa não se suicidou porque o vão da Casa dos Contos não tem altura suficiente.
Folha - De onde então teriam surgido essas dúvidas, na sua opinião?
Drummond
- Tudo não passa de mais uma manobra para tentar denegrir a era Vargas, certamente de inspiração dos sobreviventes do comunismo. O panteão dos inconfidentes (onde estão sepultados os supostos restos mortais de Gonzaga) é um altar do civismo. Para que vai se querer desmoralizar um altar?



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