São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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"Família" Tapa encena em SP repertório dramático nacional

Grupo faz panorama com produções próprias e montagens de parceiros

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Panorama do Teatro Brasileiro que o grupo Tapa apadrinha a partir de amanhã, em São Paulo, tem dois textos de Nelson Rodrigues, dois de Jorge Andrade, um de Oduvaldo Vianna Filho e uma compilação de histórias de Arthur de Azevedo. De atual, só Mário Viana ("Natureza Morta").
O diretor da companhia, Eduardo Tolentino, adianta-se à possível pecha de passadista: "Já há quem faça mostras do nosso teatro contemporâneo. Sem tirar a importância dessas, acho que lidar com releituras da dramaturgia anterior é uma lacuna da cena atual."
Segundo ele, "qualquer década na Broadway tem seus "bondes" ["Um Bonde Chamado Desejo'], "caixeiros viajantes" ["A Morte de um Caixeiro Viajante']. Quanto mais "compadecidas", "vestidos" e "navalhas" tivermos, mais discussão haverá sobre o que é o teatro brasileiro e mais pontos de partida surgirão para novos autores."
A mostra de repertório no espaço Viga (leia ao lado) traz apenas dois espetáculos do Tapa, "As Viúvas" e "A Moratória". Os outros são do coletivo Das Dores ("Pedreira das Almas" e "Doroteia"), projeto paralelo do ator do Tapa Brian Penido Ross, e de atores que frequentaram o núcleo de estudos da companhia ("Mão na Luva" e "Valsa nº 6"). O solo "Natureza Morta" é convidado.
Justamente por abarcar trabalhos "que nasceram no Tapa, mas têm vida própria", o panorama tem por subtítulo "2ª Geração". São voos autônomos de atores e diretores amadurecidos nas fileiras da companhia.

Lacunas
No recorte histórico da dramaturgia brasileira que o panorama propõe, pode-se acusar a ausência do teatro engajado e marcante de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal.
"Toda mostra que você faz privilegia certas coisas. Se fosse falar de lacunas, citaria o teatro fora do eixo Rio-São Paulo ou a dramaturgia feminina nacional", diz Tolentino, acrescentando que montar hoje textos como "Eles Não Usam Black-Tie", de Guarnieri, "soaria ingênuo, pois o Brasil é politicamente muito mais complexo".
A mostra reafirma a aposta do Tapa em temporadas longas e reestreias periódicas, num circuito em que a vida útil das peças dificilmente ultrapassa os dois meses. "Numa cidade de 20 milhões de habitantes, um espetáculo muito visto ainda não foi visto o suficiente. O efeito [do panorama] é como o de um festival de cinema. Todo mundo corre para ver", completa o diretor.


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