São Paulo, quinta, 20 de fevereiro de 1997.

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MÚSICA
Quarta edição do Panorama Percussivo Mundial (Percpan) reunirá artistas de sete países em março, na Bahia
Salvador abriga ``festival de resistência''

LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviado especial a Salvador

O 4º Panorama Percussivo Mundial (Percpan) promete unir tradição e modernidade entre os dias 20 e 22 de março, em Salvador.
O festival reunirá 11 atrações de sete países diferentes. O Brasil estará representado por Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, Carlinhos Brown, Jongo da Serrinha e Samba de Roda de Cachoeira.
Do exterior virão The Drummers of Burundi (Burundi), Bharata Muni (Bali/Indonésia), Savion Glover (EUA), Rhytmstan Bul (Turquia), Inti Illimani (Chile) e Rhythm Explosion Caribean (Porto Rico).
É um ``festival de bandeira'', como define o cantor Gilberto Gil, que divide a direção artística do evento com o percussionista Naná Vasconcelos.
O Percpan é um festival em que a maior parte das atrações é desconhecida do público.
``A maioria desses músicos que vêm para cá vocês nunca ouviram aqui. Não há nem discos lançados por aqui'', afirma Naná.
Até por conta desse caráter pouco ``comercial'' do festival, Gil reconhece que o Percpan é um produto para um público mais exigente e segmentado.
Tanto Gil quanto Naná, entretanto, ressaltam a importância de um intercâmbio maior com culturas diversas.
``Em tempos de globalização é preciso mostrar a importância da diversidade'', afirma Gil, para quem o festival tem ``um caráter de evento de resistência''.
Workshops
Gil e Naná salientam que o festival tem uma outra vertente tão importante quanto os shows: os workshops e encontros entre músicos locais e estrangeiros fora do palco do teatro Castro Alves -onde os espetáculos ocorrem.
Há dois anos, por exemplo, um grupo cubano acabou cantando em um terreiro de candomblé, com os frequentadores do local.
Para os diretores artísticos do festival, um evento desse tipo só poderia ocorrer na Bahia.
``A Bahia é um lugar que pode hospedar com toda hospitalidade um tipo de evento como esse. É um local privilegiado, aqui é um tambor da nação'', afirma Gil. ``A Bahia é o coração do Brasil, a África brasileira'', completa Naná.
Anabolizantes
O Percpan não terá desdobramentos em outras cidades, como chegou a ser aventado inicialmente. A organização tentou fazer parte do evento em São Paulo, mas não encontrou patrocínio.
``Eu venho tentando, mas não tenho conseguido nada'', lamenta a produtora Beth Cayres, que idealizou o projeto.
Gil vê com reservas a expansão do festival. ``Seria fácil dar anabolizantes para fazer a musculatura crescer rápido. Mas é preciso preparar o festival para a maratona. O Percpan é um corredor de maratona'', diz, torcendo para a longevidade do evento.
``Faço votos que o Percpan se torne uma referência importante no futuro, que possa se tornar um festival de calendário'', diz Gil.


O jornalista Luiz Antônio Ryff viajou a convite da organização do festival

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