UOL


São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DANÇA

Com a missão de salvar a Komische Oper, coreógrafa enfrentou na estréia reprovação dos críticos, apesar dos aplausos

Recepção à Colker se divide em Berlim

Divulgação
O espetáculo "Casa", com coreografia da carioca Deborah Colker, foi sua primeira encenação em uma companhia internacional


FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Ao montar o espetáculo "Casa", em Berlim, a missão de Deborah Colker ia muito além de apresentar uma noite de dança, a primeira que a coreógrafa carioca preparava com uma companhia internacional. Esperava-se também que ela fosse capaz de salvar a própria casa da companhia de balé do Komische Oper.
"A pressão foi enorme, havia uma questão política em torno da Komische, com a qual não tinha nada a ver. O convite foi feito com essa expectativa, de fazer algo contemporâneo que tenha comunicação com o grande público", disse Colker à Folha, em Berlim.
Desde a unificação de Berlim, em 1990, a cidade viu-se com três grandes casas de ópera e, cada vez mais, orçamentos reduzidos para custeá-las. Nos últimos anos, a Secretaria de Cultura decidiu reunir os três balés em uma mesma companhia, mas a resistência foi tanta que a proposta não saiu do papel, e cada local tentou mostrar que tinha chance de sobreviver.
Assim, o Komische tenta caracterizar-se como companhia de dança contemporânea. Em 2001, a coreógrafa espanhola Blanca Li foi convidada para cumprir o papel de renovação, mas, apesar do sucesso de público, ela abandonou o posto, após duras críticas de especialistas em dança.
Foi esse o contexto em que Colker se viu ao montar "Casa" -o espetáculo criado em 99 com sua companhia- e o prólogo de 15 minutos, "Ela", que estrearam no último sábado na capital da Alemanha. "Esperamos que com essa produção seja dada mais atenção para a dança na cidade", escreveu Adolphe Binder, a diretora artística da Komische Oper, no programa do espetáculo.
Com o público que lotou o teatro, Colker saiu-se vitoriosa. Por quase dez minutos, a coreógrafa recebeu aplausos calorosos, como os que costuma receber nas estréias no Brasil. Entretanto a opinião dos especialistas foi outra.
Michaela Schlagenwerth, crítica do jornal "Berliner Zeitung", escreveu que o trabalho de Colker "é de fato mais show do que uma peça de dança", enquanto Sandra Luzina, do "Der Tagesspiegel", publicou que "o estilo mix, linguagem que a coreógrafa ambiciona, soa um pouco barato".
"Adolphe ficou arrasada com as críticas, mas eu saio sentindo que a missão foi cumprida, afinal, o que é arte? Creio que introduzi esse debate. E quando uma platéia inteira gosta, os críticos deixam de ter sentido", disse Colker.
O trabalho de Colker é arte? Esse foi de fato o tema dos críticos após a estréia. Arnd Wesemann, editor da revista "Tanz-aktuel", achava que não. "Ela trouxe a linguagem da MTV para o Komische, mas isso está longe de ser arte", disse à Folha. Já Norbert Servos, um dos mais respeitados críticos alemães, afirmou que "Colker apresenta apenas movimentos acrobáticos ao som de música de elevador".
"Marcel Duchamp, nas artes plásticas, e Pina Bausch, na dança, também foram incompreendidos em seus primeiros trabalhos. Acho normal que haja resistência", afirmou Colker. Independente da discussão, a coreógrafa chega hoje ao Brasil para um ano com a agenda cheia. Apresenta-se da Rússia à Inglaterra e prepara sua nova coreografia, com estréia em 2004, em que irá aproveitar trechos de "Ela". Colker segue sua turnê enquanto a companhia de dança do Komische parece aproximar-se de seu fim.


Texto Anterior: Artes plásticas: "Favoritos" de Portinari ganham visibilidade
Próximo Texto: Festival abriga companhias de fora do eixo Rio-SP
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.