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A fantástica fábrica de Tim Burton
Diretor realiza busca pessoal com o fantasioso "Peixe Grande" e dá nova vida a Willy Wonka
PAOULA ABOU-JAOUDE
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES
Ao assumir o lugar de Steven
Spielberg no filme "Peixe Grande", o diretor americano Tim
Burton, 45, fez de sua direção uma
experiência catártica, aproveitando o tema de uma relação entre
pai e filho fraturada.
Segundo Burton, a morte de seu
pai, um ano antes, o motivou a levantar questões pessoais sobre
sua relação com ele. Uma circunstância semelhante à do argumento de "Peixe Grande", em que um
jornalista (Billy Crudup) visita o
pai (Albert Finney) agonizante
com pendências a resolver.
No filme, indicado apenas ao
Oscar de trilha sonora (feita por
Danny Elfman, de "Gênio Indomável"), Crudup não consegue
acreditar nas histórias fantásticas
com que o pai relembra a própria
juventude. Só que, ao chegar à casa do pai, o filho é atacado pelas
memórias dessas histórias, com
Ewan McGregor interpretando a
versão jovem do pai.
Uma situação delicada que permitiu ao cineasta trazer histórias
de sua própria distância na relação paterna. Além disso, há um
outro pequeno detalhe a ser
acrescentado: com o nascimento
de seu primeiro filho, Burton agora experimenta o outro lado dessa
relação, ao lado da mulher, a atriz
Helena Bonham-Carter. Situação
que o cineasta classifica como "a
mais estranha" de sua vida.
"Peixe Grande" acabou resultando também numa experiência
diferente para o diretor, que tem
no currículo "Os Fantasmas se
Divertem", "Batman", "Ed
Wood" e "Edward Mãos de Tesoura". "Pela primeira vez, lidei
de frente com uma história emotiva", disse o cineasta à Folha.
Na entrevista, Burton explica
por que, dessa vez, preferiu pôr o
ator inglês Ewan McGregor como
protagonista do filme, em vez de
recorrer a sua consagrada parceria com o ator Johnny Depp.
Mas que não se pense em ruptura. Depp já está escalado por Burton para seu próximo projeto, um
remake de "A Fantástica Fábrica
de Chocolates" (1971). O filme de
Mel Stuart marcou a infância de
grande parte dos trintões atuais e
conta a história de um garoto pobre que tem a chance de conhecer
a maior fábrica de doces do planeta, propriedade de Willy Wonka,
interpretado por Gene Wilder.
Folha - "Peixe Grande" é o seu filme mais maduro. Por que decidiu
arriscar um tema diferente?
Tim Burton - Meu pai tinha morrido no ano anterior. E a morte
dele certamente foi impactante,
pois me colocou para refletir sobre como, às vezes, é difícil um relacionamento.
Nunca fui particularmente próximo a ele. Meu pai não era mau,
mas saí de casa muito cedo e nunca mais nos demos. Quando recebi o roteiro de "Peixe Grande",
senti que ele abordava as mesmas
coisas nas quais vinha pensando e
achei que poderia ser uma experiência interessante explorar ambos os lados da relação pai-filho.
Folha - Como não se trata de um
projeto que você desenvolveu desde o início, foi difícil impor o lado
Tim Burton na história?
Burton - Um diretor sempre tenta fazer seu filme o mais pessoal
possível. Fui feliz com esse projeto, pois não tive que me forçar para conectar-me com ele. Tudo já
estava lá. Mas é claro que acrescentei meu imaginário, como a
cena do nascimento do bebê, a do
banho do gigante. A cena de Albert e Jessica Lange na banheira
também foi uma adição que fiz de
última hora.
Folha - No passado você teria contratado Johnny Depp, mas agora
escolheu Ewan McGregor. Por quê?
Burton - Foi olhando uma foto
do jovem Albert Finney em "As
Aventuras de Tom Jones" (1963) e
depois comparando-a com uma
de Ewan, que notei uma assustadora semelhança entre eles. Adoro atores que possam fazer uma
performance espalhafatosa.
E Ewan é maravilhoso nesse aspecto, pois ele pode ser muito engraçado e dramático ao mesmo
tempo, mas sem perder a humanidade que o personagem precisava. Torturei-o muito fazendo
com que ele rodasse cenas limpando bosta de elefantes, ou lutando com lobos. E em todos os
casos ele foi ótimo (risos).
Folha - A cena do nascimento do
bebê é muito engraçada. A propósito, como foi acompanhar o parto
da atriz Helena Bonham-Carter,
que recentemente lhe deu seu primeiro filho?
Burton - Foi como ter tido uma
sessão particular de "Alien, o Oitavo Passageiro" (risos). Você
atravessa a vida escutando as pessoas dizerem: "Isso é estranho, isso é maluco". Mas quando vi meu
filho nascendo, aquilo sim foi a
coisa mais estranha que presenciei em minha vida.
Folha - Você vai mesmo fazer o remake de "A Fantástica Fábrica de
Chocolates"?
Burton - Sim, no momento finalizo o roteiro e Johnny [Depp] vai
interpretar o Willy Wonka. Também estou fazendo um desenho
chamado "The Corpse Bride".
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