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CINEMA/ESTRÉIAS
"KEN PARK"
Diretor de "Kids", Larry Clark opta por visão superficial e exógena de habitantes de subúrbio californiano
Sensacionalismo guia retrato da juventude
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
O verdadeiro autor de
"Ken Park" não é Larry
Clark nem Ed Lachman, seus co-diretores, mas Harmony Korine,
o roteirista. Korine era um skatista perdido, não muito diferente
dos personagens de "Ken Park",
quando Larry Clark, pai de um
amigo seu, aproveitou suas idéias
para um filme, fazendo fama com
"Kids" (1995). Hoje, Korine é um
dos cineastas mais malditos (no
bom sentido) e instigantes do novo cinema americano.
Os temas e personagens que
movimentam "Ken Park" são recorrentes na obra de Korine. O tédio agressivo e desesperado da juventude, a obsessão pelas patologias e a poética das bizarrices cotidianas da vida doméstica americana. O erotismo tomado como
excesso dilacerante que derruba
todas as normas e hierarquias. A
compulsão suicida que inspirou
boa parte de seu livro de notas "A
Crack-Up at the Race Riots" e seu
projeto mais recente, em que, fazendo provocações raciais nos
guetos, esgotou seu orçamento
em contas de hospitais.
Ken Park não é o nome de um
lugar, mas do jovem skatista que
se suicida na seqüência inicial. O
filme é a história de seus amigos,
jovens de um subúrbio californiano. Tate (James Ransone) é um
"nerd" angustiado que mora com
os avós e gosta de se masturbar ao
som de partidas de tênis feminino, com uma corda a lhe apertar o
pescoço. Shawn (James Bullard) é
um skatista que divide o seu tempo entre o sexo da namorada e o
da sogra. Peaches (Tiffany Limos)
é uma jovem ninfômana sabatinada pelo pai religioso. Claude
(Stephen Jasso), um adolescente
depressivo às voltas com os abusos do pai beberrão.
Fotógrafos de formação, os diretores Larry Clark e Ed Lachman
debruçam-se de forma inevitavelmente exógena sobre temas que
Korine costuma abordar de maneira livre, pessoal e direta. "Enfant terrible" de uma geração de
mutantes, Korine expõe as vísceras do (falido) "american way of
life" com a autoridade de quem
sobreviveu a ele.
"Ken Park", eis o problema, não
nos fala de dentro, apenas simula.
Visto de fora, pelo olhar de Clark e
Lachman, o universo de Korine
perde a sua poesia, sua aura rimbaudiana. Resta-lhe apenas a aparência de uma psicopatologia social. Somos levados a julgar os
personagens e seu mundo a partir
de um ponto de vista limitado, demasiado extrínseco. Um olhar, eis
o pior, que tende ao sensacionalismo, ao falso moralismo dos que
pretendem denunciar chocando.
Já desde "Kids", quando somou
ao roteiro de Korine o tema da
Aids, e especialmente em "Bully",
Clark flertava com o falso moralismo típico dos sensacionalistas.
Em "Ken Park", sua câmera procura pelo sexo (explícito, não custa avisar) das personagens como
quem suplica por polêmica. Os
personagens não parecem interessá-lo tanto quanto a possibilidade de fazer sensação com eles.
Ken Park
Idem
Produção: EUA/Holanda/França, 2002
Direção: Larry Clark, Ed Lachman
Com: James Ransone,Tiffany Limos
Quando: a partir de hoje, no cines
Bristol, Espaço Unibanco e circuito
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