São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

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ARTE

Mostra "É Hoje..." relê coleção

Porto Alegre vê contemporâneos

LUISA DUARTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Depois de receber a 5ª Bienal do Mercosul, no fim de 2005, Porto Alegre começa o ano de 2006 mostrando parte do que há de mais recente na produção de artes plásticas do país, com a abertura da exposição "É Hoje na Arte Brasileira Contemporânea - Coleção Gilberto Chateaubriand". Abrigada no Santander Cultural, a mostra inaugurada na última terça-exibe 120 obras, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Franz Manata, ambos curadores do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ao qual a coleção está cedida em comodato desde 1993.
Como o título indica, a ênfase da exposição está nas aquisições mais novas da coleção Chateaubriand, exibindo trabalhos produzidos ao longo dos últimos 15 anos, tanto por artistas-chaves dos anos 90 quanto por apostas da mais nova geração, o que doa uma vocação panorâmica à mostra. Uma das intenções da curadoria é a de revelar para o público o quanto tais manifestações artísticas estão intimamente ligadas ao mundo contemporâneo.
Os curadores sabem que estabelecer esse diálogo é um desafio. "Toda curadoria vive o problema do espaço entre o discurso e o que é dado a olhar. Pode um texto capturar o visível? Penso que o discurso está sempre correndo atrás, por isso propomos aqui leituras abertas", frisa Cocchiarale. Entretanto, sim, as obras contemporâneas trazem uma narratividade, e isso pode ser bom, passam longe os anos modernos.
É nesse fio da navalha entre não inscrever as obras em categorias fechadas, mas revelar que elas dizem respeito a um leque amplo de questões prementes do mundo de agora que a exposição foi concebida, segundo seus realizadores.
Logo na chegada o espectador se depara com um texto de parede no qual são eleitos cinco temas, traduzidos por símbolos nomeados de pictogramas. São eles: mundo contemporâneo; coabitar; associar-se; produzir e consumir.

As obras
No imenso hall de entrada, mais um cujo prédio é um espaço "adaptado" para essa função como tantos outros do país, vemos uma obra monumental de Adriana Varejão, "Partida", um painel de Jarbas Lopes, "Dos Políticos, Série O Debate", e a instalação "Solilóquio", de José Damasceno.
Para cada uma das galerias laterais do térreo, a dupla de curadores elegeu a paisagem como tema; numa, a natureza, na outra, a urbana. Sob a égide da primeira estão reunidos trabalhos de nomes como Beatriz Milhazes, Marepe e Rivane Neuenschwander, junto a aquarelas do jovem artista Thiago Rocha Pitta e um back-light da igualmente nova Maria Klabin.
Na galeria dedicada à paisagem urbana mais uma vez misturam-se obras de nomes reconhecidos dos anos 90 com apostas. Luiz Zerbini, Nuno Ramos e Rochelle Costi estão no mesmo corredor que acolhe trabalhos fotográficos de artistas recentes, como Sara Ramo e Pedro Motta.
A mostra revela-se um panorama, mesmo que parcial, da arte contemporânea brasileira. Sua vontade de surgir na forma de um hipertexto, dado lançar mão dos pictogramas e de frases/ aforismos de diversos teóricos que pontuam a montagem, indica dois pontos: 1. Sim, a arte contemporânea é um campo interdisciplinar e deve-se tentar fazer com que o grande público se aproxime desse universo amplo a que ela se refere. 2. Ainda é claro que se trata de um grande desafio o "como fazer" para mostrar esse diálogo em uma exposição. Seja na disposição das obras, seja lançando mão de outros dispositivos para além dos próprios trabalhos.


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