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ARTE
Mostra "É Hoje..." relê coleção
Porto Alegre vê contemporâneos
LUISA DUARTE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Depois de receber a 5ª Bienal do
Mercosul, no fim de 2005, Porto
Alegre começa o ano de 2006
mostrando parte do que há de
mais recente na produção de artes
plásticas do país, com a abertura
da exposição "É Hoje na Arte Brasileira Contemporânea - Coleção
Gilberto Chateaubriand". Abrigada no Santander Cultural, a mostra inaugurada na última terça-exibe 120 obras, com curadoria de
Fernando Cocchiarale e Franz
Manata, ambos curadores do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, ao qual a coleção está cedida em comodato desde 1993.
Como o título indica, a ênfase
da exposição está nas aquisições
mais novas da coleção Chateaubriand, exibindo trabalhos produzidos ao longo dos últimos 15
anos, tanto por artistas-chaves
dos anos 90 quanto por apostas
da mais nova geração, o que doa
uma vocação panorâmica à mostra. Uma das intenções da curadoria é a de revelar para o público
o quanto tais manifestações artísticas estão intimamente ligadas ao
mundo contemporâneo.
Os curadores sabem que estabelecer esse diálogo é um desafio.
"Toda curadoria vive o problema
do espaço entre o discurso e o que
é dado a olhar. Pode um texto
capturar o visível? Penso que o
discurso está sempre correndo
atrás, por isso propomos aqui leituras abertas", frisa Cocchiarale.
Entretanto, sim, as obras contemporâneas trazem uma narratividade, e isso pode ser bom, passam
longe os anos modernos.
É nesse fio da navalha entre não
inscrever as obras em categorias
fechadas, mas revelar que elas dizem respeito a um leque amplo de
questões prementes do mundo de
agora que a exposição foi concebida, segundo seus realizadores.
Logo na chegada o espectador
se depara com um texto de parede
no qual são eleitos cinco temas,
traduzidos por símbolos nomeados de pictogramas. São eles:
mundo contemporâneo; coabitar;
associar-se; produzir e consumir.
As obras
No imenso hall de entrada, mais
um cujo prédio é um espaço
"adaptado" para essa função como tantos outros do país, vemos
uma obra monumental de Adriana Varejão, "Partida", um painel
de Jarbas Lopes, "Dos Políticos,
Série O Debate", e a instalação
"Solilóquio", de José Damasceno.
Para cada uma das galerias laterais do térreo, a dupla de curadores elegeu a paisagem como tema;
numa, a natureza, na outra, a urbana. Sob a égide da primeira estão reunidos trabalhos de nomes
como Beatriz Milhazes, Marepe e
Rivane Neuenschwander, junto a
aquarelas do jovem artista Thiago
Rocha Pitta e um back-light da
igualmente nova Maria Klabin.
Na galeria dedicada à paisagem
urbana mais uma vez misturam-se obras de nomes reconhecidos
dos anos 90 com apostas. Luiz
Zerbini, Nuno Ramos e Rochelle
Costi estão no mesmo corredor
que acolhe trabalhos fotográficos
de artistas recentes, como Sara
Ramo e Pedro Motta.
A mostra revela-se um panorama, mesmo que parcial, da arte
contemporânea brasileira. Sua
vontade de surgir na forma de um
hipertexto, dado lançar mão dos
pictogramas e de frases/ aforismos de diversos teóricos que pontuam a montagem, indica dois
pontos: 1. Sim, a arte contemporânea é um campo interdisciplinar e
deve-se tentar fazer com que o
grande público se aproxime desse
universo amplo a que ela se refere.
2. Ainda é claro que se trata de um
grande desafio o "como fazer" para mostrar esse diálogo em uma
exposição. Seja na disposição das
obras, seja lançando mão de outros dispositivos para além dos
próprios trabalhos.
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