São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

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"Carregava cervejinha para eles", diz Tanaka

Foi dessa maneira que o japonês ganhou a simpatia da Velha Guarda da Portela

O produtor conheceu o samba em 1978, quando ouviu canções de Cartola numa loja de discos importados, em Tóquio

Felipe Varanda/Folha Imagem
Katsunori Tanaka em bar no Rio; ele começou a ouvir samba nos anos 70 e é dono do selo Sambinha


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Camisa sem mangas, chope na mão, o japonês Katsunori Tanaka dá uma risada de anedota ao lembrar como conquistou a simpatia da Velha Guarda da Portela nos anos 80: "Eu carregava a cervejinha para eles, né?". Acabou produzindo 12 discos de samba e se tornando uma espécie de embaixador do gênero no seu país.
Em março, a Atração lançará em CD sete dos trabalhos de Tanaka. "Peso na Balança", de Wilson Moreira, ganha sua primeira versão digital no Brasil, e os outros seis voltam às lojas depois de passagens discretas.
São dois da Velha Guarda da Portela ("Doce Recordação" e "Homenagem a Paulo da Portela"), um da Velha Guarda da Mangueira ("Mangueira Chegou"), um de Guilherme de Brito ("Folhas Secas"), um de Cristina Buarque ("Resgate") e um de Monarco ("A Voz do Samba"), todos feitos nas décadas de 80 e 90.
A gravadora ainda procura herdeiros de alguns compositores das músicas dos discos para concluir o acerto dos direitos autorais.
"Quando eu gravei, nem pensava em vender os discos no Japão. Fiz porque gostava e porque não havia discos daquelas pessoas no Brasil. Caetano [Veloso] não precisa ser produzido, mas esses sambistas precisavam", diz Tanaka, 47, dono no Japão de uma gravadora chamada Sambinha.

Desconfiança
Ele conheceu o samba em 1978, ao ouvir Cartola numa loja de discos importados, em Tóquio. Três anos depois, ainda sem falar português, apareceu nos bastidores de um show de Monarco no Rio para pedir um autógrafo.
Em 1986, resolveu passar um tempo maior aqui depois que deu um soco no dono do restaurante francês onde cozinhava e, sabe-se lá por que, foi demitido.
Levado por Cristina Buarque para conhecer a Portela, foi de cervejinha em cervejinha abrindo caminhos para estrear como produtor.
"O Manacéa [então líder da Velha Guarda] ficou muito desconfiado. O que um japonês queria ali? Mas eu ia quase todo dia ao botequim em que eles se encontravam em Oswaldo Cruz [zona norte] e ficava ouvindo as histórias. Até dormia na casa do [compositor] Alberto Lonato. Depois da Portela, ficou mais fácil convencer os outros [a gravar]", conta ele.
Além dos sete que serão reeditados, Tanaka produziu "Encanto da Paisagem", de Nelson Sargento, e "Olokofé", de Wilson Moreira, que estão no catálogo da Rob Digital. E, ainda, um disco de Luiz Carlos da Vila cuja fita master se perdeu.

Queixa de Monarco
Mais recentemente, fez "Velhas Companheiras" (2000) -com Monarco, Guilherme de Brito e Nelson Sargento- e "Uma História do Samba" (2001), com Monarco. Quando este CD saiu no Brasil, o compositor portelense se queixou de que não estava recebendo os direitos pelo lançamento.
"Monarco se esqueceu de que tinha recebido um cachê e não tinha direito a royalties. Conversei com ele, Tanaka mostrou o recibo e pronto. O problema é que, por reflexo, o sambista sempre se sente ludibriado", diz Henrique Cazes, diretor musical deste e de outros trabalhos de Tanaka.
Monarco, com a elegância habitual, evita o assunto: "Ficou tudo bem".
Segundo Cazes, se quisesse ficar rico, Tanaka produziria CDs de bossa nova. Realmente, a bossa nova é a música brasileira mais conhecida no Japão. Os discos de samba que Tanaka produziu não ultrapassaram as 1.500 cópias vendidas.
"Ainda estou recuperando o investimento", afirma.
Ele diz ter mais retorno fazendo compilações de Pixinguinha, Carmen Miranda, Noel Rosa e outros para o mercado japonês.
Tanaka ainda realiza produções na Indonésia, nos EUA ou onde aparecer algo diferente.
"Poderia fazer outro disco no Brasil se encontrasse algo desconhecido. Hoje, já há muitos CDs de samba e choro", diz ele, que também realizou dois discos instrumentais com músicos de choro.


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