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Crítica
"Milk" destoa de concorrentes ao Oscar deste ano
CRÍTICO DA FOLHA
No começo de "Milk",
acontece um encontro
no metrô: um operador financeiro encontra um rapaz e convida-o a partilhar seu
40º aniversário. É uma cena rápida. Estamos em 1970. O operador cheio de ternos é Harvey
Milk (Sean Penn). O parceiro,
seu futuro amante, é Scott
Smith (James Franco).
Milk tem um problema: nada
fez na vida de que se orgulhe.
Em 1970, com lutas pelos direitos civis e contra a Guerra do
Vietnã, os EUA mudam, a vida
muda. E Milk também. Abandona Wall Street e vai para San
Francisco. Engaja-se, em pouco tempo, na batalha dos homossexuais por seus direitos.
Esse é o momento mais feliz
do filme. Claro, não há como
compará-lo aos filmes pessoais
de Gus van Sant. Mas a reconstituição de época que vemos ali
não é apenas uma formalidade:
trata-se de reencontrar um estado de espírito, um modo de
viver que já não existe. E Van
Sant vibra com isso.
O conjunto talvez não seja
tão interessante. Depois desse
início, o filme é obrigado a dar
conta da biografia de Milk que
se sabe: o primeiro político
abertamente homossexual a
ser eleito. Ele faz várias tentativas até chegar ao cargo, correspondente a vereador, em San
Francisco. E mobiliza a fauna
diversificada e interessante que
frequenta sua loja.
Talvez o que limita o filme
seja o fato de precisar seguir
uma trajetória que não depende de seus realizadores. E a de
Harvey Milk não é uma carreira
tão especial assim, de maneira
que o filme se sustenta da interpretação de Sean Penn, muito
forte, de fato. O curioso é que os
coadjuvantes se parecem muito com os personagens originais, mas Penn não tem grande
semelhança com Milk.
A parte do filme que trata da
vida política do protagonista é
enriquecida por seu contato
com o conservador Dan White
(Josh Brolin). É o que cria o aspecto mais Gus Van Sant do filme: o registro do inexplicável,
do mistério que envolve duas
pessoas, seus atos e contatos. É
quando o filme foge inteiramente à convenção dramática
clássica e afirma essa contemporaineidade de que o Oscar
deste ano tem fugido como o
diabo da cruz, como os velhos
machistas dos homossexuais.
Sem dúvida, não estamos
diante do que Gus Van Sant fez
de mais original ao longo de sua
vida. Mas sabe tratar de uma
fração da luta pelos direitos humanos sem fazer demagogia,
sem apelar ao sentimentalismo, sem perder a integridade.
Perto dos demais candidatos ao
Oscar, "Milk" parece um E.T.
(INÁCIO ARAUJO)
MILK
Produção: EUA, 2008
Direção: Gus Van Sant
Com: Sean Penn, Emile Hirsch, Josh
Brolin, James Franco
Onde: estreia hoje no Unibanco Arteplex, HSBC Belas Artes e circuito
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: bom
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