São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

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Crítica

"Milk" destoa de concorrentes ao Oscar deste ano

CRÍTICO DA FOLHA

No começo de "Milk", acontece um encontro no metrô: um operador financeiro encontra um rapaz e convida-o a partilhar seu 40º aniversário. É uma cena rápida. Estamos em 1970. O operador cheio de ternos é Harvey Milk (Sean Penn). O parceiro, seu futuro amante, é Scott Smith (James Franco).
Milk tem um problema: nada fez na vida de que se orgulhe. Em 1970, com lutas pelos direitos civis e contra a Guerra do Vietnã, os EUA mudam, a vida muda. E Milk também. Abandona Wall Street e vai para San Francisco. Engaja-se, em pouco tempo, na batalha dos homossexuais por seus direitos.
Esse é o momento mais feliz do filme. Claro, não há como compará-lo aos filmes pessoais de Gus van Sant. Mas a reconstituição de época que vemos ali não é apenas uma formalidade: trata-se de reencontrar um estado de espírito, um modo de viver que já não existe. E Van Sant vibra com isso.
O conjunto talvez não seja tão interessante. Depois desse início, o filme é obrigado a dar conta da biografia de Milk que se sabe: o primeiro político abertamente homossexual a ser eleito. Ele faz várias tentativas até chegar ao cargo, correspondente a vereador, em San Francisco. E mobiliza a fauna diversificada e interessante que frequenta sua loja.
Talvez o que limita o filme seja o fato de precisar seguir uma trajetória que não depende de seus realizadores. E a de Harvey Milk não é uma carreira tão especial assim, de maneira que o filme se sustenta da interpretação de Sean Penn, muito forte, de fato. O curioso é que os coadjuvantes se parecem muito com os personagens originais, mas Penn não tem grande semelhança com Milk.
A parte do filme que trata da vida política do protagonista é enriquecida por seu contato com o conservador Dan White (Josh Brolin). É o que cria o aspecto mais Gus Van Sant do filme: o registro do inexplicável, do mistério que envolve duas pessoas, seus atos e contatos. É quando o filme foge inteiramente à convenção dramática clássica e afirma essa contemporaineidade de que o Oscar deste ano tem fugido como o diabo da cruz, como os velhos machistas dos homossexuais.
Sem dúvida, não estamos diante do que Gus Van Sant fez de mais original ao longo de sua vida. Mas sabe tratar de uma fração da luta pelos direitos humanos sem fazer demagogia, sem apelar ao sentimentalismo, sem perder a integridade. Perto dos demais candidatos ao Oscar, "Milk" parece um E.T. (INÁCIO ARAUJO)


MILK

Produção: EUA, 2008
Direção: Gus Van Sant
Com: Sean Penn, Emile Hirsch, Josh Brolin, James Franco
Onde: estreia hoje no Unibanco Arteplex, HSBC Belas Artes e circuito
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: bom



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