|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Frágil, ``Para Sempre'' desperdiça Paulo Autran
do enviado especial a Curitiba
Paulo Autran é um ator capaz de
enfrentar riscos e resolver cenas
inverossímeis. É o que se nota,
aqui e ali, nas montagens recentes
-também, não é demais lembrar,
na passagem sublime pelo cinema,
que comprova aos mais jovens ser
ele o grande ator de que falam, em
``Terra em Transe''.
Tem ``timing'', tempo de humor, sabe tirar o riso da platéia.
Veste um personagem, mergulha
nele, sem temor do ridículo. Pois
pouco disso existe em ``Para Sempre'', que fez a ``estréia mundial'',
como se diz, em Curitiba.
É uma peça frágil, de uma Maria
Adelaide Amaral em geral de competência, sobretudo nos diálogos
dramáticos e em certos personagens familiares, mas aqui como
que escrevendo respeitosamente,
como uma homenagem.
A peça expõe Paulo Autran e a
atriz Karin Rodrigues como Max e
Eva. Ele interpreta um velho professor homossexual, intelectual
reativo à cultura de massa. Ela,
uma velha amiga dele.
Os dois vivem dificuldades de relacionamento. Ela, com um
ex-marido. Ele, com um jovem
junto ao qual vive há 18 anos. Terminam juntos, Max e Eva, casados, mas amigos, sem sexo.
Não é enredo dos mais instigantes, mas poderia ser resolvido na
carpintaria, como se diz, e na interpretação, na construção dos
personagens pelos próprios atores.
Mas não, os conflitos não se firmam, os personagens não ganham
forma.
O intelectual tem traços de alta
cultura que mais parecem caricatura e denunciam o contrário do
desejado.
Passagens de extrema obviedade
chegam ao constrangimento, com
atuações, em especial, de Karin
Rodrigues. De tão superficiais, as
atuações não pareciam sequer ter
encerrado a fase de ensaio.
Em cenário de sala de estar, com
computador para as referências de
modernidade, Autran e a atriz parecem jamais saber o que fazer, em
pé ou sentados num sofá. O ator,
diante de uma platéia extasiada,
como extasiada ficaria com qualquer coisa que ele fizesse, esforça-se em uma ou outra cena, mas
está longe de algum momento de
inspiração.
Celso Frateschi, que faz o ``empregado'' homossexual de Max,
parece estar mais no caminho de
encontrar o desenho do personagem, compondo os trejeitos moderadamente cômicos com uma
inocência suburbana.
Mas talvez ``Para Sempre'' ainda
não estivesse, de fato, pronta para
o palco.
(NS)
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|