São Paulo, quinta, 20 de março de 1997.

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Frágil, ``Para Sempre'' desperdiça Paulo Autran

do enviado especial a Curitiba

Paulo Autran é um ator capaz de enfrentar riscos e resolver cenas inverossímeis. É o que se nota, aqui e ali, nas montagens recentes -também, não é demais lembrar, na passagem sublime pelo cinema, que comprova aos mais jovens ser ele o grande ator de que falam, em ``Terra em Transe''.
Tem ``timing'', tempo de humor, sabe tirar o riso da platéia. Veste um personagem, mergulha nele, sem temor do ridículo. Pois pouco disso existe em ``Para Sempre'', que fez a ``estréia mundial'', como se diz, em Curitiba.
É uma peça frágil, de uma Maria Adelaide Amaral em geral de competência, sobretudo nos diálogos dramáticos e em certos personagens familiares, mas aqui como que escrevendo respeitosamente, como uma homenagem.
A peça expõe Paulo Autran e a atriz Karin Rodrigues como Max e Eva. Ele interpreta um velho professor homossexual, intelectual reativo à cultura de massa. Ela, uma velha amiga dele.
Os dois vivem dificuldades de relacionamento. Ela, com um ex-marido. Ele, com um jovem junto ao qual vive há 18 anos. Terminam juntos, Max e Eva, casados, mas amigos, sem sexo.
Não é enredo dos mais instigantes, mas poderia ser resolvido na carpintaria, como se diz, e na interpretação, na construção dos personagens pelos próprios atores.
Mas não, os conflitos não se firmam, os personagens não ganham forma.
O intelectual tem traços de alta cultura que mais parecem caricatura e denunciam o contrário do desejado.
Passagens de extrema obviedade chegam ao constrangimento, com atuações, em especial, de Karin Rodrigues. De tão superficiais, as atuações não pareciam sequer ter encerrado a fase de ensaio.
Em cenário de sala de estar, com computador para as referências de modernidade, Autran e a atriz parecem jamais saber o que fazer, em pé ou sentados num sofá. O ator, diante de uma platéia extasiada, como extasiada ficaria com qualquer coisa que ele fizesse, esforça-se em uma ou outra cena, mas está longe de algum momento de inspiração.
Celso Frateschi, que faz o ``empregado'' homossexual de Max, parece estar mais no caminho de encontrar o desenho do personagem, compondo os trejeitos moderadamente cômicos com uma inocência suburbana.
Mas talvez ``Para Sempre'' ainda não estivesse, de fato, pronta para o palco. (NS)

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