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MÚSICA/LANÇAMENTOS
Com extenso trabalho nos bastidores, o recifense Lula Queiroga, parceiro primordial do conterrâneo Lenine, prepara volta à cena
Antes e depois do mangue
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das eminências pardas da
moderna cena musical pernambucana se torna um pouco menos
parda. Com mais de 20 anos de
carreira, o recifense Lula Queiroga, 40, lança agora seu primeiro
álbum solo, "Aboiando a Vaca
Mecânica".
Seu nome é pouco difundido,
mas Lula é parceiro primordial do
conterrâneo Lenine, com quem
em 1983 gravou um LP roqueiro
(nada a ver, portanto, com o regionalismo eletrônico do novo álbum), "Baque Solto". "É um disco
datado", ri, ao telefone, de Recife.
É autor ou co-autor de canções
importantes do repertório atual
de Lenine, como "A Ponte", "Dois
Olhos Negros" e "A Balada do Cachorro Louco (Fere Rente)", todas lançadas em 97, ou "A Rede" e
"Alzira e a Torre", de 99.
Depois de 21 anos morando no
Rio ("como paraíba"), voltou a
Recife para trabalhar em criação
publicitária. "Minha onda é música. Não parei de compor e tocar,
só de gravar. Propaganda é rapariga, prostituta, não é arte. Levo
cinco minutos para compor um
jingle e cinco anos para fazer uma
música. Tudo que fiz foi para ter
meu estúdio bacaninha, ficar
brincando nele quando quiser",
diz.
No CD, revela-se ele próprio a
ponte, interligando num conjunto amplo de participações especiais a geração mangue beat
(membros de Nação Zumbi, Faces do Subúrbio, Cascabulho, Devotos, Eddie), colegas precursores
do mangue (Lenine, Zé da Flauta), artistas nacionais (Jorge
Mautner, Arnaldo Antunes, Pedro Luís). "Conheço muita gente,
meus amigos estão no poder", ri
de novo.
Panela
Poder, panela? "Não, não vai virar panela, até porque isso designaria um tipo único de som, e não
estamos em Seattle. Não curto panela, estou fora. Nossa coisa é
mais natural e sincera, não tem
máfia. Se é para ficar assim, tomara que não cresça", ri outra vez.
Por enquanto, sua panela é ele
mesmo. A gravadora do disco,
Luni, é a própria agência de criação que tem em sociedade com a
mulher. Gravou "em casa" e prensou mil cópias.
Ali mesmo, trabalhou no disco
solo de estréia de Silvério Pessoa,
ex-Cascabulho, prestes a sair. Ao
mesmo tempo, prepara dois novos discos, um de "tecno industrial do sertão" e um acústico, por
ora apelidado de "Cru". Mandou
para Cássia Eller a inédita "Morbidance", a pedido. "Estou a total
vapor", comemora.
Não demonstra afobação por
conseguir uma gravadora maior.
"Há gravadoras interessadas em
distribuir, estou viajando hoje
(sexta-feira passada) ao Rio para
ver. Mas já perdi a ansiedade com
isso. Estamos sentindo o gostinho
da independência, de fazer à vontade."
Vai citando características de
sua obra que fariam grandes gravadoras arrepiarem o pêlo: "Meu
trabalho é muito fundado no texto, é como óleo sobre tela, texto
sobre levada"; "minhas letras são
quase sempre ficcionais, às vezes
me sinto até meio solitário nisso";
"conviver com a música eletrônica para mim é tão natural quanto
beber água, sou amigo do DJ Dolores, ouço Beck, Moby".
E se o mercado torcer o nariz?
"Tenho tanta coisa para fazer que
não dá para me preocupar com isso. Não vou lutar para ter fama, de
certa forma já sou famoso", ri por
último.
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