São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2001

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MÚSICA/LANÇAMENTOS

Com extenso trabalho nos bastidores, o recifense Lula Queiroga, parceiro primordial do conterrâneo Lenine, prepara volta à cena

Antes e depois do mangue

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das eminências pardas da moderna cena musical pernambucana se torna um pouco menos parda. Com mais de 20 anos de carreira, o recifense Lula Queiroga, 40, lança agora seu primeiro álbum solo, "Aboiando a Vaca Mecânica".
Seu nome é pouco difundido, mas Lula é parceiro primordial do conterrâneo Lenine, com quem em 1983 gravou um LP roqueiro (nada a ver, portanto, com o regionalismo eletrônico do novo álbum), "Baque Solto". "É um disco datado", ri, ao telefone, de Recife.
É autor ou co-autor de canções importantes do repertório atual de Lenine, como "A Ponte", "Dois Olhos Negros" e "A Balada do Cachorro Louco (Fere Rente)", todas lançadas em 97, ou "A Rede" e "Alzira e a Torre", de 99.
Depois de 21 anos morando no Rio ("como paraíba"), voltou a Recife para trabalhar em criação publicitária. "Minha onda é música. Não parei de compor e tocar, só de gravar. Propaganda é rapariga, prostituta, não é arte. Levo cinco minutos para compor um jingle e cinco anos para fazer uma música. Tudo que fiz foi para ter meu estúdio bacaninha, ficar brincando nele quando quiser", diz.
No CD, revela-se ele próprio a ponte, interligando num conjunto amplo de participações especiais a geração mangue beat (membros de Nação Zumbi, Faces do Subúrbio, Cascabulho, Devotos, Eddie), colegas precursores do mangue (Lenine, Zé da Flauta), artistas nacionais (Jorge Mautner, Arnaldo Antunes, Pedro Luís). "Conheço muita gente, meus amigos estão no poder", ri de novo.

Panela
Poder, panela? "Não, não vai virar panela, até porque isso designaria um tipo único de som, e não estamos em Seattle. Não curto panela, estou fora. Nossa coisa é mais natural e sincera, não tem máfia. Se é para ficar assim, tomara que não cresça", ri outra vez.
Por enquanto, sua panela é ele mesmo. A gravadora do disco, Luni, é a própria agência de criação que tem em sociedade com a mulher. Gravou "em casa" e prensou mil cópias.
Ali mesmo, trabalhou no disco solo de estréia de Silvério Pessoa, ex-Cascabulho, prestes a sair. Ao mesmo tempo, prepara dois novos discos, um de "tecno industrial do sertão" e um acústico, por ora apelidado de "Cru". Mandou para Cássia Eller a inédita "Morbidance", a pedido. "Estou a total vapor", comemora.
Não demonstra afobação por conseguir uma gravadora maior. "Há gravadoras interessadas em distribuir, estou viajando hoje (sexta-feira passada) ao Rio para ver. Mas já perdi a ansiedade com isso. Estamos sentindo o gostinho da independência, de fazer à vontade."
Vai citando características de sua obra que fariam grandes gravadoras arrepiarem o pêlo: "Meu trabalho é muito fundado no texto, é como óleo sobre tela, texto sobre levada"; "minhas letras são quase sempre ficcionais, às vezes me sinto até meio solitário nisso"; "conviver com a música eletrônica para mim é tão natural quanto beber água, sou amigo do DJ Dolores, ouço Beck, Moby".
E se o mercado torcer o nariz? "Tenho tanta coisa para fazer que não dá para me preocupar com isso. Não vou lutar para ter fama, de certa forma já sou famoso", ri por último.


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