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DANÇA
Ciclo no Rio ganha novo formato ao propor parcerias inéditas entre bailarinos/intérpretes e coreógrafos/diretores
Solos revitalizam investigação coreográfica
Divulgação
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Soraya Bastos dança o solo 'Silêncio' |
INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA
Novas percepções surgem do
encontro inusitado entre
bailarinos e coreógrafos trabalhando juntos pela primeira vez,
na quarta edição dos Solos de
Dança, no Espaço Sesc, no Rio.
Com programação a cargo de
Bia Radunsky e Márcia Rubin, os
Solos revitalizam a investigação
da dança. Paralelamente, está em
cartaz a exposição "Movimentos
em Solo - A Dança de Isadora
Duncan", organizada por Silvia
Soter e Roberto Pereira: uma preciosidade que convida cada um a
experimentar a liberdade de movimentos dessa pioneira da dança
moderna.
Impossível ficar imóvel diante
das imagens de Duncan (1877-1927) captadas por Valentine Laconte entre 1903 e 1927. São 48 desenhos livres, que chegaram ao
Brasil com a bailarina Raquel Levi. Fotos e fatos da vinda de Duncan ao Rio, em 1916, completam a exposição. Uma ante-sala e tanto
para os Solos.
Na primeira semana, a escolha
de coreógrafo partiu dos bailarinos. A noite começa com "Gema", de André Vidal, dirigido por Matheus Nachtergaele. Deitado
no centro do palco circular, rodeado de ovos, Vidal lentamente
descobre e transforma o espaço
ao redor. Aos poucos, os ovos se
quebram -seu cheiro é uma sensação a mais dessa dança orgânica. O corpo tenta incessantemente se erguer, em meio às dilacerações. Ainda há algo de muito estudado nessas rupturas todas? Talvez. Mas que o solo se recusa a ser
firme é uma grande virtude.
"Guardadas em Você", parceria
de Nina Botkay, 16, com Alex
Neoral, 23, traz um vigor mais
bruto de juventude. Botkay dança
do chão ao teto de uma caixa, com
gestos precisos e cortados, movimentos que se regeneram em diferentes contextos e direções. No alto, a dança ganha a força dos limites, impostos pelo próprio espaço. Já no chão, interagindo com a caixa que abre e fecha suas portas, a coreografia de Neoral corre o risco de se esvaziar pela repetição e pelos excessos de movimento.
"Silêncio" marca o encontro de Soraya Bastos com Ana Vitória.
Sutileza de gestos, expressão marcante: a luz desenha o chão e Bastos vai aos poucos riscando o espaço, no ritmo encantatório da
música de Arvo Pärt. Das mãos e
do torso, a energia se expande; recolhe-se depois para nos conduzir
a um turbilhão surdo de sensações, caladas pela solidão do espaço a ser descoberto.
A noite termina com "Se Eu Não Estivesse Aqui Agora", de
Andrea Maciel e Frederico Paredes, que rompe o palco com um
figurino de cor forte e transforma a movimentação em algo inusitado, no limite do arbitrário. Também as palavras que fecham o espetáculo soam soltas, fora de contexto. A sobreposição de linguagens, aqui, não parece ter vencido
a sedução da colagem.
Tudo somado, os Solos compõem um panorama irregular, de
intensidades e qualidades diversas. A idéia dos encontros é ótima:
estimula criações originais, no mínimo. Por outro lado, expõe dificuldades da dança, que precisa talvez de mais tempo para absorver uma nova linguagem. De hoje a domingo, novas duplas estarão
em cena; desta vez, foram os coreógrafos que escolheram os intérpretes. É bom ver que o Rio continua instigando a pesquisa na
dança contemporânea, sem senões nem concessões.
A crítica Inês Bogéa viajou a convite da
produção do evento
Solos
Onde: Espaço Sesc (r. Domingos Ferreira,
160, Rio, tel. 0/xx/21/2547-0156)
Quando: de hoje a sáb., às 21h; dom., às
20h; última semana
Quanto: de R$ 5 a R$ 10
Movimentos em Solo - A Dança
de Isadora Duncan
Organização: Silvia Soter e Roberto
Pereira
Onde: Espaço Sesc
Quando: até 27 de abril, de ter. a dom.,
das 14h às 18h
Quanto: grátis
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