São Paulo, quinta-feira, 20 de março de 2008

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Visita de diretora a baile inspirou filme

"Chega de Saudade" reproduz situações vividas por Laís Bodanzky e seu marido, o roteirista Luiz Bolognesi, no Clube Piratininga

Em parceria que já rendeu o filme "Bicho de Sete Cabeças", casal recuperou primeiras impressões de noite no salão, nos anos 90

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

É provável que nenhum técnico ou ator soubesse, mas a diretora de "Chega de Saudade" voltou diariamente para casa, na primeira semana de trabalho, com a sensação desagradável de que "não tinha filme nenhum" ali. "E não podia dividir isso com a equipe", lembra.
Em casa, ela encontrava conforto no ombro do marido, que vinha a ser o roteirista do longa. "Era um misto de colo e "chacoalhão'", afirma ele. "Falava para ela: "Você não queria fazer esse filme? Pois agora vai e faz. Pode até ficar fraco, mas faz"."
A parceria profissional entre Laís Bodanzky, 38, e Luiz Bolognesi, 42, já rendeu o longa "Bicho de Sete Cabeças" (2001) e os projetos de exibição itinerante Cine Mambembe e Cine Tela Brasil, mas "Chega de Saudade" talvez seja o que melhor traduza a simbiose entre trabalho e casamento.
"Quando conheci a Laís, ela queria fazer um filme com um personagem que era motorista de Kombi e freqüentava um salão de baile", afirma Bolognesi. Eles namoravam havia um ano, "em 1995 ou 1996", quando foram dançar no Clube Piratininga. "Aconteceram com a gente coisas que acontecem no filme.
Fiquei com ciúme porque ela dançou com um "tiozinho", no caminho para o banheiro; fui olhado por duas mulheres de 60 e poucos." A partir daí, "o salão tomou conta" da história.

Única noite
Deixaram o projeto para depois, no entanto, porque era complexo. Quatro anos atrás, a idéia começou a caminhar em direção ao filme que estréia amanhã, com a ação ambientada em um salão de baile de São Paulo, numa única noite.
"Durante a filmagem, peguei minha pastinha com anotações feitas após aquela primeira visita, quando ainda estava na faculdade", diz Laís. "Foi interessante rever o material porque observei que estava filmando a primeira impressão. O filme é a minha primeira lembrança do salão, que não mudou."
Outra casa, a extinta Panelinha Baiana, também foi adotada como referência. "Era um lugar pequeno da Vila Madalena, que tocava forró e brega, freqüentado pelos garçons do bairro", afirma Luiz. "Nosso filme tem um clima, que é do Panelinha Baiana."
Os jovens personagens de "Chega de Saudade", interpretados por Paulo Vilhena e Maria Flor, não foram inspirados, como esse relato talvez sugira, na experiência do casal de realizadores. Na primeira versão do argumento, o rapaz era ajudante do motorista da Kombi. Depois, virou músico da banda. Por fim, técnico de som -a "única pessoa entediada" no lugar, segundo Laís. A moça, para representar um olhar estranho ao baile, seria uma estudante de jornalismo. Terminou como a namorada do técnico.
Bolognesi aponta "O Jantar" (1998), de Ettore Scola, e "Short Cuts" (1993), de Robert Altman, como inspirações. Laís menciona "O Gosto dos Outros" (2000), de Agnès Jaoui, "O Gato Sumiu" (1996), de Cédric Klapisch, e "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005), de Marcelo Gomes. O que eles têm em comum? "Pequenos acontecimentos de conseqüências profundas", resume Bolognesi.


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