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Visita de diretora a baile inspirou filme
"Chega de Saudade" reproduz situações vividas por Laís Bodanzky e seu marido, o roteirista Luiz Bolognesi, no Clube Piratininga
Em parceria que já rendeu o filme "Bicho de Sete Cabeças", casal recuperou primeiras impressões de noite no salão, nos anos 90
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
É provável que nenhum técnico ou ator soubesse, mas a diretora de "Chega de Saudade"
voltou diariamente para casa,
na primeira semana de trabalho, com a sensação desagradável de que "não tinha filme nenhum" ali. "E não podia dividir
isso com a equipe", lembra.
Em casa, ela encontrava conforto no ombro do marido, que
vinha a ser o roteirista do longa.
"Era um misto de colo e "chacoalhão'", afirma ele. "Falava
para ela: "Você não queria fazer
esse filme? Pois agora vai e faz.
Pode até ficar fraco, mas faz"."
A parceria profissional entre
Laís Bodanzky, 38, e Luiz Bolognesi, 42, já rendeu o longa
"Bicho de Sete Cabeças" (2001)
e os projetos de exibição itinerante Cine Mambembe e Cine
Tela Brasil, mas "Chega de Saudade" talvez seja o que melhor
traduza a simbiose entre trabalho e casamento.
"Quando conheci a Laís, ela
queria fazer um filme com um
personagem que era motorista
de Kombi e freqüentava um salão de baile", afirma Bolognesi.
Eles namoravam havia um ano,
"em 1995 ou 1996", quando foram dançar no Clube Piratininga. "Aconteceram com a gente
coisas que acontecem no filme.
Fiquei com ciúme porque ela
dançou com um "tiozinho", no
caminho para o banheiro; fui
olhado por duas mulheres de
60 e poucos." A partir daí, "o salão tomou conta" da história.
Única noite
Deixaram o projeto para depois, no entanto, porque era
complexo. Quatro anos atrás, a
idéia começou a caminhar em
direção ao filme que estréia
amanhã, com a ação ambientada em um salão de baile de São
Paulo, numa única noite.
"Durante a filmagem, peguei
minha pastinha com anotações
feitas após aquela primeira visita, quando ainda estava na faculdade", diz Laís. "Foi interessante rever o material porque
observei que estava filmando a
primeira impressão. O filme é a
minha primeira lembrança do
salão, que não mudou."
Outra casa, a extinta Panelinha Baiana, também foi adotada como referência. "Era um
lugar pequeno da Vila Madalena, que tocava forró e brega,
freqüentado pelos garçons do
bairro", afirma Luiz. "Nosso filme tem um clima, que é do Panelinha Baiana."
Os jovens personagens de
"Chega de Saudade", interpretados por Paulo Vilhena e Maria Flor, não foram inspirados,
como esse relato talvez sugira,
na experiência do casal de realizadores. Na primeira versão do
argumento, o rapaz era ajudante do motorista da Kombi. Depois, virou músico da banda.
Por fim, técnico de som -a
"única pessoa entediada" no lugar, segundo Laís. A moça, para
representar um olhar estranho
ao baile, seria uma estudante
de jornalismo. Terminou como
a namorada do técnico.
Bolognesi aponta "O Jantar"
(1998), de Ettore Scola, e "Short
Cuts" (1993), de Robert Altman, como inspirações. Laís
menciona "O Gosto dos Outros" (2000), de Agnès Jaoui,
"O Gato Sumiu" (1996), de Cédric Klapisch, e "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2005), de
Marcelo Gomes. O que eles têm
em comum? "Pequenos acontecimentos de conseqüências
profundas", resume Bolognesi.
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