São Paulo, sexta-feira, 20 de março de 2009

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Mostra de arte brasileira não terá artistas nacionais

Exposição será reservada a estrangeiros que dialoguem com a cultura do país

O 31º Panorama da Arte Brasileira, que acontece em outubro, no MAM-SP, terá ainda projeto de residências artísticas para estrangeiros


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da polêmica Bienal do Vazio, no ano passado, que deixou um andar do pavilhão no Ibirapuera sem produções artísticas, a controvérsia do mundo das artes plásticas nacionais deste ano promete ser o 31º Panorama da Arte Brasileira do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), previsto para ser aberto no dia 10 de outubro.
Com curadoria de Adriano Pedrosa, 43, a mostra bienal não terá artistas brasileiros, ao contrário do que indica seu título, mas estrangeiros que estabeleçam algum diálogo com a cultura local ou estejam vinculados a um tipo de produção que ele considere brasileira.
"Minha primeira ideia foi organizar um panorama de arte latino-americana, que acabou amadurecendo nessa ideia de arte brasileira feita por estrangeiros. Esse projeto também reflete minha percepção de que a programação das instituições na cidade é majoritariamente com brasileiros", disse Pedrosa à Folha, na sede do MAM.
Criado em 1969 e transformado em evento bienal em 1995, o Panorama visava até então apresentar uma leitura da produção brasileira contemporânea, tendo sido organizado por curadores como Ivo Mesquita, em 1995, ou o cubano Gerardo Mosquera, em 2003, que agregou três estrangeiros à mostra, entre 19 artistas.
A proposta de não incluir artistas brasileiros significaria que a produção nacional anda fraca? "Estou flexibilizando uma noção ossificada de "arte brasileira", questionando-a. O "brasileiro" nesse contexto deixa de ser nacionalista. Parece-me pertinente, pois o Brasil e a arte brasileira sempre foram muito abertos", diz Pedrosa.

Residências
Outra inovação será a realização de residências artísticas para estrangeiros, como ocorreu na 27ª Bienal de SP (2006), na qual Pedrosa foi cocurador.
Assim como daquela vez, a Faap irá acolher os artistas em um edifício na praça Patriarca. Esse tipo de procedimento, contudo, teve início antes na carreira do curador: "O projeto de residências é algo que primeiro desenvolvi com a Luisa Lambri, uma italiana que fez fotografias de arquitetura brasileira, em 2003. É um bom exemplo de "arte brasileira", nesse sentido ampliado".
Pedrosa pretende selecionar cerca de 30 nomes para a mostra: "Meu objetivo é buscar artistas que estabeleçam uma relação mais profunda com a cultura brasileira, como o Superflex [da Dinamarca], que trabalhou com o guaraná Power, ou a [francesa] Dominique Gonzalez-Foerster, que já trabalhou com muitas referências nossas e vive no Rio".
Cerca de metade da seleção, ainda segundo Pedrosa, deve participar do programa com a Faap: "Nas residências, vamos convidar de dez a 15 artistas que potencialmente possam desenvolver uma relação com o país, não apenas para realizar uma obra para o Panorama mas para algo muito além disso. Trata-se assim de reunir artistas estrangeiros que já produzam "arte brasileira" e oferecer possibilidades para que outros também o façam".
Mais que polêmica, a proposta de Pedrosa é ambiciosa: é possível definir como brasileiro um trabalho de arte contemporânea, independentemente de quem o realize? Essa foi, afinal, uma das questões fundamentais dos modernistas brasileiros, que nunca conseguiram chegar a uma conclusão.


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