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ERUDITO
Emissora de rádio transmite "Ernani", de Verdi, ópera estrelada pela soprano brasileira e regida por Previtali
Cultura FM resgata Constantina Araújo
IRINEU FRANCO PERPETUO
especial para a Folha
Neste final de semana, a Rádio
Cultura FM (103,3) ajuda a resgatar a memória de uma das cantoras brasileiras que mais sucesso fez
no exterior: Constantina Araújo.
Domingo, dia 22, às 18h, a rádio
transmite uma gravação de "Ernani", de Verdi, feita nos estúdios da
RAI de Roma, em 1958. Regida por
Fernando Previtali, a ópera conta
com alguns dos nomes do canto
lírico nos anos 50: o tenor Mario
del Monaco, o baixo Cesare Siepi e
o barítono Mario Sereni.
Falecida precocemente, aos 44
anos, Constantina Araújo apresentou-se regularmente como
protagonista no Scala de Milão, o
grande templo italiano da ópera,
mas hoje está esquecida. Seu nome
não consta em livros de referência
como a "Enciclopédia da Música
Brasileira" (Art Editora), nem da
edição brasileira do "Dicionário
Grove" (Jorge Zahar).
"Era uma mulher belíssima, morena e alta", recorda Raphael Cilento, diretor do Verdi Ópera Clube, que obteve, em Nova York, o
registro de "Ernani" que será veiculado pela Cultura FM.
"A voz era muito boa", afirma
Cilento, que a viu cantar a ópera
"Cavalleria Rusticana", de Mascagni, com Beniamino Gigli, no
Pacaembu. "Tinha um ligeiro vibrato, que não incomodava."
Agnes Ayres
Nascida em São Paulo, em 1922,
Constantina Araújo estudou no
Conservatório Dramático e Musical da capital paulista com o maestro Francesco Murino.
Estreou no Municipal de São
Paulo em 1947, mas começou a ter
problemas em 1950. Após uma
briga com a soprano Agnes Ayres,
foi demitida da Rádio Gazeta, onde participava do programa "Cortina Lírica", dirigido pelo maestro
Armando Belardi.
"Depois daquilo, nem o Municipal de São Paulo nem o do Rio
queriam saber dela", conta Renata
Araújo, irmã da cantora. Em novembro do mesmo ano, resolveu
tentar a sorte na Itália.
"Naquela época, mulher solteira
não tinha filhos e não podia viajar
sozinha nem até Santos", diz a irmã. "Ela foi para Milão sozinha,
com a cara e a coragem."
A soprano fez sua estréia italiana
40 dias após desembarcar no país,
cantando "Aida", de Verdi, em
Modena. Em fevereiro de 1951
-dois meses mais tarde- estrearia na mesma ópera, no Scala de
Milão, sob a regência do renomado Victor de Sabata, em montagem comemorativa aos 50 anos da
morte de Verdi.
"De Sabata estava com problemas com a famosa Renata Tebaldi,
que não queria cantar "Aida'",
afirma Renata Araújo. "Ela foi até
o Scala para ser ouvida pelo maestro e acabou sendo a escolhida."
A crítica da época, que chegou a
chamá-la de "argentina" e "peruana", louvou a "soberba intérprete,
dotada de uma voz belíssima, dosada com inteligência, segura na
entonação".
Sua "Aida" foi ouvida ainda na
Ópera de Paris, no São Carlos, de
Lisboa, em Augsburg (Alemanha)
e em Mônaco, além de teatros italianos como a Arena de Verona e o
Carlo Felice, de Gênova.
Continuou cantando papéis
principais no Scala, destacando-se
"Un Ballo in Maschera", de Verdi,
ao lado de um dos maiores tenores
do século, o sueco Jussi Bjorling.
Após o "Ballo" do Scala, fez,
com a mesma ópera, em 1952, sua
tumultuada estréia no Covent
Garden, em Londres. A soprano
que cantaria no teatro britânico
adoeceu. A casa procurou mais
nove cantores até conseguir fechar
com a brasileira, no dia da estréia.
Não houve tempo para ensaios:
Araújo desembarcou em Londres
uma hora antes do espetáculo, enjoada depois de 11 horas de vôo.
Mas sua atuação encantou o público, cujos aplausos a fizeram
voltar dez vezes para agradecer.
Mas faltava o reconhecimento
no Brasil. "Ela era muito magoada
com o que fizeram por aqui", diz
Renata Araújo. "Nas comemorações do Quarto Centenário de São
Paulo, preferiram trazer uma italiana, a Antonietta Stella, ao invés
da Constantina, para cantar "Lo
Schiavo", de Carlos Gomes".
A única apresentação brasileira
de Araújo após o início de sua carreira internacional foi "Aida", no
Municipal do Rio, em 1954. "Foi o
maior cachê que ela já recebeu",
recorda a irmã.
Em 1966, em plena atividade,
veio ao Brasil para se operar de um
fibroma (tumor benigno de tecido
conjuntivo). "Ela queria fazer a cirurgia na Itália, mas nós sugerimos que ela viesse para cá, onde
podíamos cuidar dela", diz a irmã.Nesse mesmo ano, solteira,
acabou falecendo bruscamente,
em São Paulo, no dia 4 de março,
de embolia pulmonar.
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