São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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DANÇA
Espetáculo resgata origens da obra de Mário de Andrade
"Macunaíma" foi escrito na banheira

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
Editor-assistente da Folha Ribeirão

A "transcriação" inédita de "Macunaíma", de Mário de Andrade, para a linguagem da dança recupera pela primeira vez em um espetáculo a passagem do escritor modernista por Araraquara, cidade do interior paulista onde o livro foi escrito.
O espetáculo é "Perfil Transitório", do grupo Gestus, e mostra o nascimento do livro, em 1926, numa chácara da cidade que Mário de Andrade costumava visitar para descansar e tratar da saúde.
"Macunaíma" começou a ser escrito em um banheiro, mais especificamente em uma banheira francesa, na qual Mário se escondia para escrever em paz durante as madrugadas.
Essas informações fazem parte da tese de mestrado da bailarina e coreógrafa Gilsamara Moura, 28. A pesquisa deu origem ao espetáculo, que tem apresentação hoje em São José do Rio Preto e no dia 16 de abril no Sesc Ipiranga, em São Paulo.
"Fui da prática para a teoria, fazendo uma leitura para a dança do livro do Mário de Andrade", diz Gilsamara. Na primeira cena, ela mistura o nascimento de Macunaíma ao surgimento do livro. "Faço o personagem nascer de dentro de uma banheira, como o livro", explica ela.
O grupo tem cinco bailarinas e um ator, que faz os papéis de Macunaíma e do próprio escritor.
O historiador da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Araraquara, Rodolpho Telarolli, conta que Mário de Andrade costumava passar férias na chácara do "coronel" Pio Lourenço Corrêa, um aristocrata erudito.
"Em 26, ele foi para lá se recuperar da depressão causada pela morte de um irmão. Como estava doente, a família o proibia de dormir tarde", conta Telarolli. Por isso as escapadas para o sossego do banheiro.
A banheira francesa ainda existe. O atual dono da chácara é o professor universitário aposentado Waldemar Safiotti e ele diz que vai preservar o local.



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