São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
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"Mulheres" retrata lendas do interior

ALESSANDRO BRAGHETO
da Folha Ribeirão


As lendas do interior do Brasil, "recheadas" com fatos da transformação do Estado de São Paulo no século 19 e com o drama de personagens que desafiaram as estruturas de sua época, são o tema do romance "Mulheres de Agosto", escrito pelo advogado e médico José Emílio Fehr Pereira Lopes.
O livro teve tiragem inicial de mil exemplares e é o primeiro romance publicado pelo Imesp (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo).
O autor é também o atual presidente da Fundação Nacional do Meio Ambiente, entidade que tem como objetivo preservar o conhecimento sobre a fauna e a flora nacional.
Toda a renda da venda do livro será destinada ao atendimento a crianças de baixa renda na fazenda-sede da fundação.
Segundo o Imesp, o livro foi publicado em nome de uma causa "filantrópica". "Fizemos um trabalho com a associação para angariar recursos, tanto que as primeiras mil cópias foram doadas gratuitamente ao escritor", afirmou Carlos Haddad, coordenador editorial do Imesp.
O Imesp é um órgão que realiza publicações para as várias secretarias do Estado, além de imprimir livros para editoras como a Edusp (Editora da Universidade de São Paulo) e a Edunesp (Editora da Universidade Estadual Paulista).
O "mosaico" criado por Lopes demorou seis anos para ser finalizado e contou com os mais variados tipos de colaborações, incluindo pesquisadores de universidades e trabalhadores rurais descendentes de escravos.
"Durante minhas viagens como médico pelo interior colhi mais de 170 lendas, ao mesmo tempo em que tive de fazer uma pesquisa detalhada sobre a história do Estado no século 19", diz Lopes.
A trama do livro se passa em meados do século 19, tendo como cenário principal uma fazenda de café na região de Araraquara (SP), que atualmente se chama Santa Cristina.
Duas personagens conduzem os acontecimentos: Maria Adélia, a esposa do dono da fazenda -uma espécie de protetora dos escravos do local apesar de fisicamente frágil, pois possui um tipo de câncer raro para a época-, e José Inácio, sobrinho de Adélia que assumirá a fazenda a partir da metade do livro.
"Criei personagens fortes até mesmo para que a história das transformações do interior do Estado de São Paulo e do resto do país pudessem entrar no livro como trívia, sem o tom "oficialesco" que os livros didáticos costumam colocá-la", afirma o autor.
O título do livro está relacionado às escravas da fazenda que, durante o mês de agosto, comiam a casca de uma antiga árvore do local acreditando que seriam curadas de todas as doenças e que teriam as dores dos castigos amenizadas.
"Maria Adélia era uma espécie de mãe para as escravas, tanto que ela morre em um incêndio no cafezal da fazenda amamentando um filho de negros."
O fogo é um dos elementos constantes durante toda a narrativa. "Trabalhei com a idéia de fogo como a metáfora da luz de um novo Estado de São Paulo para o século 20. Até mesmo o nome do personagem José Inácio vem de "ignis" -que quer dizer fogo em latim."
De acordo com Lopes, durante os seis anos em que se dedicou ao livro, foi possível catalogar provérbios e mensagens de reflexão, grande parte delas "escondidas".
"Uma das mensagens do livro que mais me tocou foi encontrada escrita em uma pedra e passada para mim por uma pessoa simples da região de Ribeirão Preto. Os "causos" também estão sempre presentes."
O livro será distribuído pela Fundação Peirópolis e já está nas livrarias.

Livro: Mulheres de Agosto
Autor: José Emílio Fehr Pereira
Lançamento: Fundação Peirópolis
Quanto: R$ 42 (518 págs.)



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