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"Mulheres" retrata lendas do interior
ALESSANDRO BRAGHETO
da Folha Ribeirão
As lendas do
interior do
Brasil, "recheadas" com
fatos da transformação do
Estado de São
Paulo no século 19 e com o drama de personagens que desafiaram as estruturas de sua época, são o tema
do romance "Mulheres de Agosto", escrito pelo advogado e médico José Emílio Fehr Pereira
Lopes.
O livro teve tiragem inicial de
mil exemplares e é o primeiro
romance publicado pelo Imesp
(Imprensa Oficial do Estado de
São Paulo).
O autor é também o atual presidente da Fundação Nacional
do Meio Ambiente, entidade
que tem como objetivo preservar o conhecimento sobre a fauna e a flora nacional.
Toda a renda da venda do livro
será destinada ao atendimento a
crianças de baixa renda na fazenda-sede da fundação.
Segundo o Imesp, o livro foi
publicado em nome de uma causa "filantrópica". "Fizemos um
trabalho com a associação para
angariar recursos, tanto que as
primeiras mil cópias foram doadas gratuitamente ao escritor",
afirmou Carlos Haddad, coordenador editorial do Imesp.
O Imesp é um órgão que realiza publicações para as várias secretarias do Estado, além de imprimir livros para editoras como
a Edusp (Editora da Universidade de São Paulo) e a Edunesp
(Editora da Universidade Estadual Paulista).
O "mosaico" criado por Lopes
demorou seis anos para ser finalizado e contou com os mais variados tipos de colaborações, incluindo pesquisadores de universidades e trabalhadores rurais descendentes de escravos.
"Durante minhas viagens como médico pelo interior colhi
mais de 170 lendas, ao mesmo
tempo em que tive de fazer uma
pesquisa detalhada sobre a história do Estado no século 19",
diz Lopes.
A trama do livro se passa em
meados do século 19, tendo como cenário principal uma fazenda de café na região de Araraquara (SP), que atualmente se
chama Santa Cristina.
Duas personagens conduzem
os acontecimentos: Maria Adélia, a esposa do dono da fazenda
-uma espécie de protetora dos
escravos do local apesar de fisicamente frágil, pois possui um
tipo de câncer raro para a época-, e José Inácio, sobrinho de
Adélia que assumirá a fazenda a
partir da metade do livro.
"Criei personagens fortes até
mesmo para que a história das
transformações do interior do
Estado de São Paulo e do resto
do país pudessem entrar no livro
como trívia, sem o tom "oficialesco" que os livros didáticos
costumam colocá-la", afirma o
autor.
O título do livro está relacionado às escravas da fazenda que,
durante o mês de agosto, comiam a casca de uma antiga árvore do local acreditando que
seriam curadas de todas as
doenças e que teriam as dores
dos castigos amenizadas.
"Maria Adélia era uma espécie
de mãe para as escravas, tanto
que ela morre em um incêndio
no cafezal da fazenda amamentando um filho de negros."
O fogo é um dos elementos
constantes durante toda a narrativa. "Trabalhei com a idéia de
fogo como a metáfora da luz de
um novo Estado de São Paulo
para o século 20. Até mesmo o
nome do personagem José Inácio vem de "ignis" -que quer dizer fogo em latim."
De acordo com Lopes, durante
os seis anos em que se dedicou
ao livro, foi possível catalogar
provérbios e mensagens de reflexão, grande parte delas "escondidas".
"Uma das mensagens do livro
que mais me tocou foi encontrada escrita em uma pedra e passada para mim por uma pessoa
simples da região de Ribeirão
Preto. Os "causos" também estão
sempre presentes."
O livro será distribuído pela
Fundação Peirópolis e já está nas
livrarias.
Livro: Mulheres de Agosto
Autor: José Emílio Fehr Pereira
Lançamento: Fundação Peirópolis
Quanto: R$ 42 (518 págs.)
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