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TEATRO - CRÍTICAS
E Raul Gazolla canta, de fato, em "Camila Baker"
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
No caminho entre a montagem
alternativa de antes ("Camila Baker Lives in Concert") e o musical
com atores de televisão, que está
em cartaz na Cervejaria Continental, "Camila Baker" ganhou ares de
espetáculo da Broadway ou do
West End londrino.
A peça é uma brincadeira deliciosa sobre a personagem algo mítica da "grande dama do teatro",
da "diva". Camila Baker é uma referência, no som como no desenho
do papel, a Cacilda Becker, a maior
atriz brasileira, celebrada na peça
"Cacilda!".
"Camila Baker" é outro gênero
de celebração. Ironiza, ridiculariza
até, ao mesmo tempo em que trata
com profundo carinho a personagem que simboliza, afinal, o próprio teatro -de que são parte,
com orgulho, o autor, o diretor, o
elenco de "Camila".
E a peça é, talvez, menos teatro
"brasileiro" e mais um teatro musical internacional. Há evidentes
ecos de "Irma Vap", comédia típica do teatro alternativo nova-iorquino, e até de "A Ratoeira", peça
algo folclórica de Agatha Christie,
em Londres.
Em tempo, um fio de história,
que nem chega a ganhar maior forma: como num "Sunset Boulevard" nacional, Camila Baker está
afastada da glória, após ser acusada de assassinato.
Entre lembranças absurdas do
passado no palco, uma tragédia
grega, uma peça infantil, a verdade
aparece.
O diretor Fernando Guerreiro, o
mesmo do já lendário besteirol "A
Bofetada" e do musical cômico-machista "Os Cafajestes", não vê
problemas em assimilar o que for
preciso para seduzir o público -o
que consegue como poucos. Do
próprio besteirol ao filme "Priscilla", "Camila Baker" empresta de
todo lado.
Poderia ter um cuidado maior na
direção musical, inferior à de "Os
Cafajestes", na seleção das músicas
como em sua direção, propriamente. (Lembrando, porém, que a
peça anterior foi vista em São Paulo depois de longa temporada em
Salvador.)
De todo modo, foi possível entender o que faz Raul Gazolla, afinal, num palco.
Ele pode não ser o mais expressivo dos atores, mas canta, sabe cantar, o que não é pouco nestes tempos de musicais demais -e voz de
menos.
Mas a revelação mais feliz é Cláudio Fontana. O ator, antes galã juvenil, esquecia falas, deixava a cena
e voltava fora de hora, parecia perdido em seu terceiro dia de espetáculo, mas nem assim perdeu o tipo/personagem que desenhou tão
bem, como não perdeu o humor, o
tempo da comédia.
E nem é comediante nato como
são, por exemplo, Dalton Vigh e
Caco Ciocler, aliás, ambos muito
bem, embora ainda tateando os
seus papéis e piadas.
Espetáculo: Camila Baker
Texto: Emílio Boechat
Direção: Fernando Guerreiro
Elenco: Raul Gazolla, Cláudio Fontana,
Mateus Carrieri e outros
Quando: qui., sex. e sáb., às 21h; dom., às
20h
Onde: Cervejaria Continental (r. dos
Pinheiros, 1.275, tel. 011/212-8698)
Quanto: R$ 15 (qui.) e R$ 20 (sex. a dom.)
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