São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
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TEATRO - CRÍTICAS
E Raul Gazolla canta, de fato, em "Camila Baker"

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

No caminho entre a montagem alternativa de antes ("Camila Baker Lives in Concert") e o musical com atores de televisão, que está em cartaz na Cervejaria Continental, "Camila Baker" ganhou ares de espetáculo da Broadway ou do West End londrino.
A peça é uma brincadeira deliciosa sobre a personagem algo mítica da "grande dama do teatro", da "diva". Camila Baker é uma referência, no som como no desenho do papel, a Cacilda Becker, a maior atriz brasileira, celebrada na peça "Cacilda!".
"Camila Baker" é outro gênero de celebração. Ironiza, ridiculariza até, ao mesmo tempo em que trata com profundo carinho a personagem que simboliza, afinal, o próprio teatro -de que são parte, com orgulho, o autor, o diretor, o elenco de "Camila".
E a peça é, talvez, menos teatro "brasileiro" e mais um teatro musical internacional. Há evidentes ecos de "Irma Vap", comédia típica do teatro alternativo nova-iorquino, e até de "A Ratoeira", peça algo folclórica de Agatha Christie, em Londres.
Em tempo, um fio de história, que nem chega a ganhar maior forma: como num "Sunset Boulevard" nacional, Camila Baker está afastada da glória, após ser acusada de assassinato.
Entre lembranças absurdas do passado no palco, uma tragédia grega, uma peça infantil, a verdade aparece.
O diretor Fernando Guerreiro, o mesmo do já lendário besteirol "A Bofetada" e do musical cômico-machista "Os Cafajestes", não vê problemas em assimilar o que for preciso para seduzir o público -o que consegue como poucos. Do próprio besteirol ao filme "Priscilla", "Camila Baker" empresta de todo lado.
Poderia ter um cuidado maior na direção musical, inferior à de "Os Cafajestes", na seleção das músicas como em sua direção, propriamente. (Lembrando, porém, que a peça anterior foi vista em São Paulo depois de longa temporada em Salvador.)
De todo modo, foi possível entender o que faz Raul Gazolla, afinal, num palco.
Ele pode não ser o mais expressivo dos atores, mas canta, sabe cantar, o que não é pouco nestes tempos de musicais demais -e voz de menos.
Mas a revelação mais feliz é Cláudio Fontana. O ator, antes galã juvenil, esquecia falas, deixava a cena e voltava fora de hora, parecia perdido em seu terceiro dia de espetáculo, mas nem assim perdeu o tipo/personagem que desenhou tão bem, como não perdeu o humor, o tempo da comédia.
E nem é comediante nato como são, por exemplo, Dalton Vigh e Caco Ciocler, aliás, ambos muito bem, embora ainda tateando os seus papéis e piadas.

Espetáculo: Camila Baker Texto: Emílio Boechat Direção: Fernando Guerreiro Elenco: Raul Gazolla, Cláudio Fontana, Mateus Carrieri e outros Quando: qui., sex. e sáb., às 21h; dom., às 20h Onde: Cervejaria Continental (r. dos Pinheiros, 1.275, tel. 011/212-8698) Quanto: R$ 15 (qui.) e R$ 20 (sex. a dom.)

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