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"Parece que não gostam dos meus livros"
da enviada a Curitiba
Quando atende o telefone, Hilda
Hilst, 68, se desculpa por falar tão
devagar, sequela de um recente
problema no rosto. Vive há mais
de 30 anos em um sítio perto de
Campinas, para onde se refugiou,
abandonando o glamour que a cercava em São Paulo.
Polêmica, pornográfica, misteriosa. São muitos os adjetivos que
envolvem a autora paulista, uma
das mais importantes poetas e escritoras do país (leia texto sobre
sua obra nesta página).
Sobre "O Caderno Rosa de Lori
Lamby", integrante de uma trilogia "pornográfica" que causou alvoroço quando lançada, dispara:
"Fiz o livro pela graça do texto.
Parece que as pessoas não gostam
do meu trabalho. Mesmo num livro simples como esse, as pessoas
acham que existe algo por trás".
Ela explica que sempre teve o
problema de ser uma autora que
vende pouco. "Normalmente, os
editores não queriam me editar."
A partir daí, começou a pensar
"em uma coisa divertida, que chocasse sem ser algo porco". Lembrando de seus tempos de menina,
escreveu "O Caderno Rosa de Lori
Lamby", publicado por Massao
Ohno Editor em 1990.
Para ilustrar o livro, foi colocada
na contracapa a foto de Hilda
quando menina. "Comecei a pensar na garota que eu poderia ter sido, essa coisa de perguntar muito,
pois sempre fui perguntadeira."
As recentes discussões sobre pedofilia têm a deixado apreensiva,
já que muitos classificam "O Caderno Rosa" de pedófilo.
"Não acreditava quando falavam
que meu livro era pornográfico.
Disseram-me que iria perder meu
prestígio, isso é uma besteira. Escrevi e ri muito. Mas ninguém se
divertiu nem quis saber."
Desiludida com a realidade do
mercado editorial, ela conta que
desistiu da literatura. "Não tenho
mais vontade de escrever. Escrevi
muita prosa, teatro, mas ninguém
compra meus livros. Pergunto:
"Mas você leu?". Não leram." Hoje,
aproveita o tempo livre para ler e
principalmente reler os autores
que sempre admirou.
Por causa do cansaço e dos problemas de saúde, Hilda conta que
não irá assistir à montagem de "O
Caderno Rosa de Lori Lamby",
nem quando a peça estrear em São
Paulo. "Mas me liga para contar
como foi?", pede, tristonha.
(ES)
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