São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Parece que não gostam dos meus livros"

da enviada a Curitiba

Quando atende o telefone, Hilda Hilst, 68, se desculpa por falar tão devagar, sequela de um recente problema no rosto. Vive há mais de 30 anos em um sítio perto de Campinas, para onde se refugiou, abandonando o glamour que a cercava em São Paulo.
Polêmica, pornográfica, misteriosa. São muitos os adjetivos que envolvem a autora paulista, uma das mais importantes poetas e escritoras do país (leia texto sobre sua obra nesta página).
Sobre "O Caderno Rosa de Lori Lamby", integrante de uma trilogia "pornográfica" que causou alvoroço quando lançada, dispara:
"Fiz o livro pela graça do texto. Parece que as pessoas não gostam do meu trabalho. Mesmo num livro simples como esse, as pessoas acham que existe algo por trás".
Ela explica que sempre teve o problema de ser uma autora que vende pouco. "Normalmente, os editores não queriam me editar."
A partir daí, começou a pensar "em uma coisa divertida, que chocasse sem ser algo porco". Lembrando de seus tempos de menina, escreveu "O Caderno Rosa de Lori Lamby", publicado por Massao Ohno Editor em 1990.
Para ilustrar o livro, foi colocada na contracapa a foto de Hilda quando menina. "Comecei a pensar na garota que eu poderia ter sido, essa coisa de perguntar muito, pois sempre fui perguntadeira."
As recentes discussões sobre pedofilia têm a deixado apreensiva, já que muitos classificam "O Caderno Rosa" de pedófilo.
"Não acreditava quando falavam que meu livro era pornográfico. Disseram-me que iria perder meu prestígio, isso é uma besteira. Escrevi e ri muito. Mas ninguém se divertiu nem quis saber."
Desiludida com a realidade do mercado editorial, ela conta que desistiu da literatura. "Não tenho mais vontade de escrever. Escrevi muita prosa, teatro, mas ninguém compra meus livros. Pergunto: "Mas você leu?". Não leram." Hoje, aproveita o tempo livre para ler e principalmente reler os autores que sempre admirou.
Por causa do cansaço e dos problemas de saúde, Hilda conta que não irá assistir à montagem de "O Caderno Rosa de Lori Lamby", nem quando a peça estrear em São Paulo. "Mas me liga para contar como foi?", pede, tristonha. (ES)


Texto Anterior: Teatro: O diário de Lori
Próximo Texto: Pornografia? Nada disso
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.