São Paulo, sexta-feira, 20 de abril de 2001

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TEATRO

Em dez anos de parceria, ator e diretor encenam o primeiro Shakespeare da carreira, que estréia hoje no Rio

Vilela e Alvisi dão dimensão espiritual à tragédia "Hamlet"

DA REPORTAGEM LOCAL

Em dez anos de parceria, o ator Diogo Vilela e o diretor Marcus Alvisi já passaram por dramas como "Dyario de um Louco", do russo Nicolai Gogol, e comédias como "Solidão, a Comédia", mas até então não haviam experimentado a tragédia.
Ambos mergulham no gênero, a partir de hoje, e debutam no primeiro Shakespeare da carreira: "Hamlet". A montagem entra em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio, e chega a São Paulo em agosto, no teatro Alfa.
Vilela, 41, decidiu investir no registro da tragédia quando assinou sua primeira direção, "Jornada de um Poema", estrelada por Glória Menezes, no primeiro semestre do ano passado. A densidade do texto de Margaret Edson o levou ao que define como uma prospecção metafísica do ser humano.
"Jornada de um Poema" estabelece uma ponte com o poeta inglês John Donne, contemporâneo de Shakespeare no século 17. Os versos de Donne espelham os limites entre vida e morte.
Em outubro passado, quando anunciou seu projeto na Folha, o ator, que é adepto da filosofia budista e recém-reconvertido ao catolicismo, confirmou sua visão espiritual da tragédia
O clássico de Shakespeare conta a história do jovem príncipe da Dinamarca, Hamlet, que é atormentado pelo fantasma do seu pai, cuja morte foi tramada pelo tio Cláudio e pela própria mãe, a rainha Gertrude.
Em seu processo de discernimento, o personagem beira a insanidade, mas consegue desvendar o quebra-cabeça que leva ao trágico final da família real.
"O "Hamlet" não é um projeto calculado, não é só mais uma realização. Como artista, sou obrigado a viver da intuição. Um autor como Shakespeare não pode ser feito na superfície, é preciso aprofundar o sentido trágico do seu texto", diz Vilela, que comemora 30 anos de carreira.
"Se o príncipe da Dinamarca se vê perdido num país desumanizado, nós também nos sentimos perdidos num mundo que está cada vez mais desumanizado por causa dos avanços tecnológicos", diz o ator.
Há também a "herança" da temporada de "Dyario de um Louco". "Hamlet apresenta uma densidade que também fica no limite da loucura, da exacerbação da dúvida e de todos os sentimentos", diz o ator.
Com distinção, porém: a loucura de Hamlet é dada pela intensidade dos seus questionamentos, enquanto a loucura do funcionário público de Gogol, que fantasia ser o rei da Espanha, é patológica, na concepção de Vilela.
Segundo o diretor Marcus Alvisi, 47, a montagem acentua um dos momentos cruciais de "Hamlet", quando o príncipe depara-se com o fantasma do seu pai, que lhe conta sobre o assassinato encomendado pelo tio. "Dou uma pincelada mais forte nessa cena, quando o protagonista de fato vê o pai e estabelece contato com o sobrenatural", afirma Alvisi.
Com tradução de Millôr Fernandes, a tragédia tem duração de três horas, mais intervalo. Entre os destaques do elenco, estão Paulo César Pereiro (Fantasma), Camila Amado (Rainha Gertrude), Ricardo Petraglia (Rei Cláudio) e Rita Êlmor (Ofélia). (VS)


HAMLET - De: William Shakespeare. Direção: Marcus Alvisi. Onde: Centro Cultural Banco do Brasil - teatro 1 (av. 1º de Março, 66, tel. 0/xx/21/3808-2020). Quando: estréia hoje, às 21h; qua. a dom., às 19h30. Até 1/7. R$ 10. Patrocinadores: Centro Cultural Banco do Brasil e Eletrobras



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