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TEATRO
Em dez anos de parceria, ator e diretor encenam o primeiro Shakespeare da carreira, que estréia hoje no Rio
Vilela e Alvisi dão dimensão espiritual à tragédia "Hamlet"
DA REPORTAGEM LOCAL
Em dez anos de parceria, o ator
Diogo Vilela e o diretor Marcus
Alvisi já passaram por dramas como "Dyario de um Louco", do
russo Nicolai Gogol, e comédias
como "Solidão, a Comédia", mas
até então não haviam experimentado a tragédia.
Ambos mergulham no gênero,
a partir de hoje, e debutam no primeiro Shakespeare da carreira:
"Hamlet". A montagem entra em
cartaz no Centro Cultural Banco
do Brasil, no Rio, e chega a São
Paulo em agosto, no teatro Alfa.
Vilela, 41, decidiu investir no registro da tragédia quando assinou
sua primeira direção, "Jornada de
um Poema", estrelada por Glória
Menezes, no primeiro semestre
do ano passado. A densidade do
texto de Margaret Edson o levou
ao que define como uma prospecção metafísica do ser humano.
"Jornada de um Poema" estabelece uma ponte com o poeta inglês
John Donne, contemporâneo de
Shakespeare no século 17. Os versos de Donne espelham os limites
entre vida e morte.
Em outubro passado, quando
anunciou seu projeto na Folha, o
ator, que é adepto da filosofia budista e recém-reconvertido ao catolicismo, confirmou sua visão espiritual da tragédia
O clássico de Shakespeare conta
a história do jovem príncipe da
Dinamarca, Hamlet, que é atormentado pelo fantasma do seu
pai, cuja morte foi tramada pelo
tio Cláudio e pela própria mãe, a
rainha Gertrude.
Em seu processo de discernimento, o personagem beira a insanidade, mas consegue desvendar o quebra-cabeça que leva ao
trágico final da família real.
"O "Hamlet" não é um projeto
calculado, não é só mais uma realização. Como artista, sou obrigado a viver da intuição. Um autor
como Shakespeare não pode ser
feito na superfície, é preciso aprofundar o sentido trágico do seu
texto", diz Vilela, que comemora
30 anos de carreira.
"Se o príncipe da Dinamarca se
vê perdido num país desumanizado, nós também nos sentimos
perdidos num mundo que está
cada vez mais desumanizado por
causa dos avanços tecnológicos",
diz o ator.
Há também a "herança" da
temporada de "Dyario de um
Louco". "Hamlet apresenta uma
densidade que também fica no limite da loucura, da exacerbação
da dúvida e de todos os sentimentos", diz o ator.
Com distinção, porém: a loucura de Hamlet é dada pela intensidade dos seus questionamentos,
enquanto a loucura do funcionário público de Gogol, que fantasia
ser o rei da Espanha, é patológica,
na concepção de Vilela.
Segundo o diretor Marcus Alvisi, 47, a montagem acentua um
dos momentos cruciais de "Hamlet", quando o príncipe depara-se
com o fantasma do seu pai, que
lhe conta sobre o assassinato encomendado pelo tio. "Dou uma
pincelada mais forte nessa cena,
quando o protagonista de fato vê
o pai e estabelece contato com o
sobrenatural", afirma Alvisi.
Com tradução de Millôr Fernandes, a tragédia tem duração de
três horas, mais intervalo. Entre
os destaques do elenco, estão Paulo César Pereiro (Fantasma), Camila Amado (Rainha Gertrude),
Ricardo Petraglia (Rei Cláudio) e
Rita Êlmor (Ofélia).
(VS)
HAMLET - De: William Shakespeare.
Direção: Marcus Alvisi. Onde: Centro
Cultural Banco do Brasil - teatro 1 (av. 1º
de Março, 66, tel. 0/xx/21/3808-2020).
Quando: estréia hoje, às 21h; qua. a
dom., às 19h30. Até 1/7. R$ 10.
Patrocinadores: Centro Cultural Banco
do Brasil e Eletrobras
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