São Paulo, sábado, 20 de abril de 2002

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FESTIVAL É TUDO VERDADE

Filme de Till Passow tem exibição amanhã no Rio

"Howrah" transporta caos indiano

DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Uma das maiores estações ferroviárias da Ásia tem seu trânsito anunciado por uma funcionária cega. À margem, crianças nascem. Entre os trilhos, pescam. São medicadas e aprendem canções na escola que se instalou ao lado das plataformas de trens, justamente para acolhê-las.
Dessa miríade de situações -e do caos de onde elas brotam- se abastece "Howrah Howrah", média-metragem do cineasta alemão Till Passow, exibido no Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, em cartaz no Rio e em São Paulo.
"Howrah Howrah" é o sexto filme de Passow, 34, detentor de uma carreira pontuada por curtas e médias. Alemão de Munique, ficou oito meses na Índia, entre a filmagem e a finalização do filme. "Existem ali, na estação Howrah, todos os múltiplos aspectos da sociedade indiana atual, tudo num único lugar. Não quis utilizar comentários ou entrevistas em "Howrah", porque esse lugar não pode ser explicado por palavras, mas sim pela impressão causada pelas imagens e pelo som", afirma.
Da equipe, participou um profissional indiano, Sudip Chattopadyaya, responsável pela montagem. "Foi bom para o filme tê-lo, porque assim não cometemos erros com a cultura indiana, como às vezes acontece se você vem de fora", diz o diretor, que no entanto não deixou de demonstrar em "Howrah Howrah" seu espanto e pouca familiaridade diante de cenas do cotidiano em Calcutá.
O olhar se detém sobre um corpo jogado na plataforma, coberto, "pacote flácido" a que não se dá atenção no ir-e-vir desordenado de milhares; sobre a precariedade de homens que caminham descalços, em contraste ao brilho e às cores de um país que parece existir apenas na transmissão da TV local; sobre o caixão que embarca num dos trens de Howrah, junto com outras cargas, humanas ou não; sobre o rato que caminha ligeiro enquanto pessoas dormem; sobre uma colisão que "mata 36 no Punjab", como informa a manchete de um jornal.
"O caos que há no filme é o que domina Calcutá hoje em dia e que torna as coisas ainda mais complicadas para todo o mundo. Mas também tem seu charme", diz Passow, que continua intrigado com o "charme" oriental. Atualmente, o diretor está em Karachi (Paquistão) recolhendo material para um novo documentário, agora sobre música sufista.


HOWRAH HOWRAH. Direção: Till Passow. Produção: Índia/Alemanha, 2001, 26 min., legendas em português. Quando: amanhã, às 15h30. Onde: CCBB (r. Primeiro de Março, 66, centro, Rio, tel. 0/xx/21/3803-0213).



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