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FESTIVAL É TUDO VERDADE
Filme de Till Passow tem exibição amanhã no Rio
"Howrah" transporta caos indiano
DENISE MOTA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Uma das maiores estações ferroviárias da Ásia tem seu trânsito
anunciado por uma funcionária
cega. À margem, crianças nascem. Entre os trilhos, pescam. São
medicadas e aprendem canções
na escola que se instalou ao lado
das plataformas de trens, justamente para acolhê-las.
Dessa miríade de situações -e
do caos de onde elas brotam- se
abastece "Howrah Howrah", média-metragem do cineasta alemão
Till Passow, exibido no Festival
Internacional de Documentários
É Tudo Verdade, em cartaz no
Rio e em São Paulo.
"Howrah Howrah" é o sexto filme de Passow, 34, detentor de
uma carreira pontuada por curtas
e médias. Alemão de Munique, ficou oito meses na Índia, entre a
filmagem e a finalização do filme.
"Existem ali, na estação Howrah,
todos os múltiplos aspectos da sociedade indiana atual, tudo num
único lugar. Não quis utilizar comentários ou entrevistas em "Howrah", porque esse lugar não pode
ser explicado por palavras, mas
sim pela impressão causada pelas
imagens e pelo som", afirma.
Da equipe, participou um profissional indiano, Sudip Chattopadyaya, responsável pela montagem. "Foi bom para o filme tê-lo,
porque assim não cometemos erros com a cultura indiana, como
às vezes acontece se você vem de
fora", diz o diretor, que no entanto não deixou de demonstrar em
"Howrah Howrah" seu espanto e
pouca familiaridade diante de cenas do cotidiano em Calcutá.
O olhar se detém sobre um corpo jogado na plataforma, coberto,
"pacote flácido" a que não se dá
atenção no ir-e-vir desordenado
de milhares; sobre a precariedade
de homens que caminham descalços, em contraste ao brilho e às
cores de um país que parece existir apenas na transmissão da TV
local; sobre o caixão que embarca
num dos trens de Howrah, junto
com outras cargas, humanas ou
não; sobre o rato que caminha ligeiro enquanto pessoas dormem;
sobre uma colisão que "mata 36
no Punjab", como informa a
manchete de um jornal.
"O caos que há no filme é o que
domina Calcutá hoje em dia e que
torna as coisas ainda mais complicadas para todo o mundo. Mas
também tem seu charme", diz
Passow, que continua intrigado
com o "charme" oriental. Atualmente, o diretor está em Karachi
(Paquistão) recolhendo material
para um novo documentário,
agora sobre música sufista.
HOWRAH HOWRAH. Direção: Till
Passow. Produção: Índia/Alemanha,
2001, 26 min., legendas em português.
Quando: amanhã, às 15h30. Onde: CCBB
(r. Primeiro de Março, 66, centro, Rio, tel.
0/xx/21/3803-0213).
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