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Brasília celebra designer sem ícone
Presidência resgata mobiliário moderno de Sérgio Rodrigues para reabrir palácio
Planalto restaura modelos e
gasta R$ 3 milhões para
comprar novas peças, mas
exclui a premiada poltrona
Mole, considerada informal
FABIO VICTOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Ícone do mobiliário moderno brasileiro, a poltrona Mole
de Sérgio Rodrigues foi barrada
na festa de 50 anos de Brasília.
Apesar de a Presidência ter
comprado, para a reinaguração
do Palácio do Planalto, 1.273
novas peças de 16 modelos do
designer, a premiada cadeira
não consta do pedido.
A exclusão contrariou Rodrigues. "Teria muito prazer em
ver um ambiente com umas
poltronas em volta de uma mesa, um espaço mais confortável.
Poderia ficar no Palácio da Alvorada. Os palácios são visitados por estrangeiros, seria um
bom cartão de visitas -não para a Mole, mas para o presidente que estiver lá", diz ele.
Criada em 1957, premiada na
Bienal de Cantu (Itália), em 61,
e hoje no acervo do MoMa
(Museu de Arte Moderna de
Nova York), a Mole é uma poltrona de couro com formato
que convida ao esparrame.
Rodrigues conta que, quando
o governo comprou suas peças
para a inauguração de Brasília,
ele já tentara inclui-la no pacote, em vão. "Foi considerada
muito informal", lembra.
Mais de 50 anos depois, o
motivo alegado é o mesmo.
"Não faz sentido ter uma peça
assim no ambiente de trabalho,
aquilo é como um colo, é muito
informal", argumenta Cláudio
Soares, diretor de documentação histórica da Presidência e
coordenador da comissão de
curadoria dos palácios.
Ele não descartou a possibilidade de, numa etapa futura, colocar a Mole no Alvorada, residência oficial da Presidência.
A compra, na qual o Planalto
gastou R$ 3 milhões (inclui 54
peças de Niemeyer), é acompanhada da restauração de modelos que estavam danificados.
Embora Soares não use o termo, e Rodrigues evite o tema, a
valorização do mobiliário modernista nos palácios é uma espécie de reparação pelo abandono a que foram relegadas durante anos peças dessa escola.
Quem fala sem trava é a mulher de Rodrigues, Vera Beatriz. "Os militares não gostavam, e sumiram com os móveis.
Jogavam em garagens, abandonavam, e os antiquários acabavam comprando", declara.
Cláudio Soares diz que a ideia
do projeto é "resgatar e vender
brasilidade". "No palácio do
Eliseu só tem móvel francês; na
Casa Branca, só americano. No
Planalto você tinha tudo, menos móvel brasileiro."
Ele afirma que o escritório de
Niemeyer em Brasília propôs a
compra de peças do alemão
Mies van der Rohe e do americano Charles Eames, sugestão
recusada. Foi uma das muitas
divergências que fizeram o grupo do arquiteto abandonar a reforma do Planalto após entregar o projeto. "O ambiente estava tão ruim que saimos", conta
Carlos Magalhães, representante do escritório na capital.
Gente da pesada
Amigo de Niemeyer, Sérgio
Rodrigues era sócio, na época
da criação de Brasília, da loja-fábrica Oca, que, segundo recorda, "era muito considerada
por todos, pelo Oscar, por ministros, gente da pesada".
Sobrinho de Nelson Rodrigues e um dos mais reconhecidos designers de móveis brasileiros, o pai da Mole continua,
aos 82 anos, ativo dentro e fora
do país. Vive e trabalha no Rio.
Ontem estava em Milão, onde
foi à famosa Feira de Móveis. E
pretende estar em Brasília para
a reinaguração do Palácio do
Planalto -programada originalmente para amanhã, mas
adiada para data incerta.
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