São Paulo, segunda, 20 de abril de 1998

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VÍDEO LANÇAMENTOS
Hamlet por Branagh

Chegam às locadoras "Hamlet", de Branagh e "Henrique 5º", de Olivier, filmes que ajudaram a popularizar a obrado dramaturgo William Shakespeare (1564-1616)
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local


O irlandês Kenneth Branagh diz que encontrou "Hamlet", ele que vem de uma família "working-class" e sem acesso a teatro, ao ver dr. Kildare (Richard Chamberlain) interpretando o personagem na TV. Tinha 11 anos e não conseguiu dormir, impressionado com a cena do Fantasma.
Começou ali, vagamente, o projeto "Hamlet". E começou provavelmente ali, na visão do dr. Kildare da série de TV, um ideal de popularização de Shakespeare. Esse irlandês sem-lábios é um populista. Iniciou com "Henrique 5º" (89) o atual ciclo shakespeariano. Mas seu objetivo sempre foi "Hamlet".
A peça, escrita há quatro séculos, parece estar em toda parte, no cinema e na televisão, hoje. "Guerra nas Estrelas", a série, baseou um episódio inteiro, "A Consciência do Rei", na peça.
Mas, a grande referência contemporânea é o "Hamlet" de Branagh, que foi diretor e protagonista, dois anos atrás. Os brasileiros só conheciam a versão editada, nos cinemas. Agora chega às locadoras, finalmente, a integral -com toda a dificuldade imposta pelos 70 mm em que foi filmada.
Em seu ideal de popularização, Branagh juntou um elenco "estelar" -de Hollywood, mas de qualidade -e buscou dar a "Hamlet" o que mais pudesse reunir de grandioso, espetacular, a partir já dos 70 mm.
É cinema, não teatro, e em cores exuberantes. Uma das cenas, de certa controvérsia, traz Hamlet sobre um fundo imenso de neve e de soldados de Fortinbras.
O solilóquio do "ser ou não ser" é feito num jogo de espelhos com o rei Cláudio, o que (além da reverência filial de Branagh pelo ator Derek Jacobi), expõe o esforço de não perder a trama, não deixar a atenção do público contemporâneo fugir de jeito nenhum.
Que ninguém se confunda: para além da imagem e da ação, este "Hamlet" traz grande introspecção do texto, valorizada pelos "closes" -aliás, previsíveis, em se tratanto de tantas e tamanhas estrelas hollywoodianas.
Uma cena em especial, nessa versão integral, é representativa. Charlton Heston, que faz o Primeiro Ator do grupo mambembe que chega a Elsinore para animar o espírito do príncipe, narra a morte de Príamo com um arrebatamento que tem lugar certo entre os momentos antológicos da cinematografia shakespeariana.
O próprio Kenneth Branagh, que vinha de montagens elogiadas da peça no teatro londrino, compõe um príncipe singular, até inovador -entre brilhante e vulgar, como é todo o seu filme.

Filme: Hamlet Produção: EUA/Inglaterra, 1996, 235 min Direção: Kenneth Branagh
Com: Kenneth Branagh, Kate Winslet, Judi Dench, Charlton Heston Lançamento: Columbia (011/5503-9899/9898)



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